Sumários
A morte de Vergílio? Educação e cultura entre a Itália ostrogoda e a Hispânia visigoda.
21 Outubro 2021, 15:30 • Rodrigo Furtado
1. O complicado século V na Europa Ocidental: a queda do Império Romano no Ocidente e os reinos bárbaros.
RÓMULO AUGÚSTULO. ZENÃO
2. E depois do Império : a multiplicidade de caminhos.
a. A ‘inutilidade’ da cultura : em termos estritamente políticos; para a salvação.
b. A ‘utilidade’ da cultura : a administração e as leis. O papel da Igreja: os especialistas – na escola; na administração ; na interpretação das Escrituras.
c. As bases de uma cultura de segunda mão: manuais, breviários e comentários : O triunfo de uma visão enciclopédica da cultura clássica, de segunda mão, baseada em manuais e em repertórios de exemplos.
3. A colaboração com os novos reinos (s. V-VI): OSTROGODOS
3.1 Boécio (ca. 480-524).
3.1.1 Conhecedor da filosofia clássica: comentários a Aristóteles, Porfírio, neoplatonismo, Agostinho. Sabia Grego; plano de traduzir toda a obra de Platão e Aristóteles.
3.1.2 Consolatio Philosophiae: Cristianismo + Literatura + Filosofia.
3.2 Cassiodoro (ca. 485-ca. 585).
3.2.1 Filho de um Prefeito do Pretório para a Itália.
3.2.2 Vários cargos da administração de Teodorico. Prefeito do Pretório (533-536). As Variae: cartas públicas e privadas (507-537): mostrar que o reino ostrogodo era imperial na sua prática: desejado por Deus. O modelo do ‘Romano colaborador’.
3.2.3 O Vivarium: um mosteiro para as letras no sul de Itália (Squilace). A importância da biblioteca.
3.3 Gregório Magno (ca. 540-604). CONSTANTINOPLA/LOMBARDOS
3.3.1 Senador; patricius; prefeito da Cidade com 33 anos; monge; diácono; todas as irmãs fazem votos;
3.3.2 Embaixador em Constantinopla (579-585/6);
3.3.3 Papa (590-604): representa o imperador em Itália
3.3.4 Enorme influência na vida espiritual: Regula pastoralis (sobre os bispos); Dialogi (sobre o monaquismo);
4. Isidoro de Sevilha (ca. 560-636).
4.1 Família de hispano-romanos de Cartagena. Uma família de religiosos: Leandro de Sevilha, Fulgêncio de Écija, Florentina.
5. Cultura e Funcionalidade social.
5.1 formação escolar;
5.2 preservação do saber suficiente;
‘le dessein de cette oeuvre [d’Isidore] est de répondre aux exigences premières d’une culture religieuse fondée sur une instruction intellectuelle et théologique, mais aussi et d’abord morale et spirituelle’ (Fontaine, 1986 : 132).
6 Obra:
6.1 As Etymologiae ou Origenes (615-636).
6.1.1 Compêndio do saber;
6.1.2 Livros 1-5: artes liberais (trívio e quadrívio) – gramática, retórica, dialéctica, matemática, geometria, astronomia, música + medicina, direito;
6.1.3 Livros 6-8: Antigo e Novo Testamento, sobre Deus e os cargos da Igreja, sobre as heresias e as religiosidade pagã;
6.1.4 Livro 9: línguas, os povos, as relações de parentesco;
6.1.5 Livro 10: dicionário;
6.1.6 Livros 11-20: os animais, a geografia e fenómenos celestes, as construções e edifícios, minerais e metais, a guerra e os espectáculos, a navegação e vestuário, utensílios domésticos e agrícolas;
6.1.7 Fontes: autores cristãos (Agostinho, Jerónimo, Ambrósio, Cassiodoro); autores de escola da Antiguidade Tardia (Sérvio e outros comentadores, Donato e outros gramáticos, Lactâncio Plácido, Nónio Marcelo, Solino, Marciano Capela).
7 Os Auctores clássicos:
7.1 Abundância de citações e remissões para os autores clássicos: Varrão, Cícero, Salústio, Énio, Vergílio, Estácio, Séneca.
7.2 CONTUDO: acesso à cultura clássica em segunda mão: ‘en el mejor de los casos, los autores paganos eran consultados, no leídos; o dicho con otras palabras, se podía llegar a ellos a través de pequeñas citas, antologías o resúmenes. La gran mayoría de los hombres cultos nunca habían abordado una obra de esta clase para leerla de la primera a la última línea’ (Díaz, 1982: 83-4).
7.3 Os intermediários : Sérvio, Nónio Marcelo, Lactâncio Plácido, Festo, Agrécio, Agostinho, Ambrósio, Mário Victorino, e outros textos gramaticais e de comentário. GRANDES AUTORES DE MANUAIS DOS SS. IV-V
7.4 Acesso à cultura clássica em segunda e terceira mão; recurso a comentários, escólios, obras gramaticais e escolares da Antiguidade Tardia; fragmentação dos textos clássicos e descontextualização desses fragmentos; ausência de leitura do texto completo; estatuto gramatical da sua funcionalidade; alarde de erudição.
A universidade.
21 Outubro 2021, 09:30 • Angélica Varandas
O studium generale. Factores que contribuíram para o surgimento da Universidade. Organização e práticas de ensino.
O saque de Roma e Agostinho: o nascimento da filosofia política medieval.
19 Outubro 2021, 15:30 • Rodrigo Furtado
- Um homem do seu tempo (354-430):
- De Tagaste a Milão: aristocracia local; região densamente cristianizada; professor de retórica: Tagaste (373-4), Cartago (374-84), Roma (384-6), Milão (386-7). O baptismo: 387. Bispo de Hipona: 397.
- Dois problemas da Filosofia Antiga: a procura da sabedoria=felicidade/ a origem do mal na história.
2. O saque de Roma de 24 de Agosto de 410. ALARICO
a. O círculo pagão de Volusiano e a crítica à Encarnação; a cessação dos ritos e da adivinhação; as consequências do Cristianismo.
b. Orbis terrarum ruit;
‘Chega-me um terrível rumor do Ocidente: Roma foi cercada, a vida dos cidadãos resgatada com ouro e de novo os espoliados foram cercados, de tal modo que, depois dos seus bens, também perderam a vida. Embarga-se a voz e os soluços entrecortam as palavras quando dito esta carta. Foi tomada a Cidade que tomou todo o orbe; morre com fome antes de morrer pela espada; e dificilmente se encontram uns poucos para serem capturados: Ó vergonha, o círculo da terra desmorona, mas os nossos pecados não desaparecem. A ínclita Cidade e cabeça do poder romano foi consumida por um único incêndio. Não há região que não tenha refugiados vindos de lá. Em cinzas e em brasas caíram igrejas outrora sagradas. E, ainda assim, teimamos na avareza. (Hier. ep. 128.5).
c. A primeira resposta de Agostinho: O De excidio urbis Romae.
O que havemos de dizer, irmãos? Tremenda e veemente questão nos é aqui lançada, sobretudo por homens que, sem piedade alguma, assaltam as nossas escrituras (não decerto por aqueles que piamente as perscrutam) e que dizem, sobretudo acerca da recente destruição de tão grande cidade: «Não haveria em Roma cinquenta justos? Em tão grande número de fiéis, de pessoas consagradas, de tantos que vivem em continência, em tão grande número de servos e servas de Deus, não foi possível encontrar cinquenta justos, nem quarenta, nem trinta, nem vinte, nem dez? Se isto é pouco provável, por que razão Deus por cinquenta ou mesmo por dez [justos] não poupou a cidade?» (…) Então, eu apresso-me a responder: «Ou encontrou aí alguns justos e poupou a cidade ou, se não poupou a cidade, é porque não encontrou nenhum justo.» Dir-me-ão que é evidente que Deus não poupou a cidade. Eu porém respondo: «Para mim, não é de modo nenhum evidente.» A devastação da cidade que então aconteceu não foi como a de Sodoma. Quando Abraão interrogou Deus, a pergunta era acerca de Sodoma. E Deus, então, disse: «Não destruirei a cidade»; não disse: «Não castigarei a cidade». Deus não poupou Sodoma, destruiu Sodoma, consumiu-a completamente nas chamas. Não lhe adiou o Juízo, mas exerceu sobre ela o que tem guardado para os outros perversos no dia do Juízo. De Sodoma não restou absolutamente nada (…) Da cidade de Roma, porém, muitos fugiram e hão-de voltar, muitos ficaram e salvaram-se, muitos, nos lugares sagrados, não foram atingidos! «Mas – dir-me-ão – muitos foram levados como cativos». Também Daniel, não para seu castigo mas para consolação dos outros. «Mas muitos – dirão ainda – foram mortos.» Também muitos justos profetas desde o sangue do justo Abel até ao de Zacarias. Também os apóstolos, e o próprio senhor dos profetas e dos apóstolos, Jesus. «Mas muitos – dirão – foram atormentados por toda a sorte de aflições.» Imaginamos porventura que o foram tanto quanto o próprio Job? (2.2; trad. C. Urbano)
3. Repensar a escatologia: o sentido da história para lá da morte: a resposta a 410 e a Cidade de Deus.
4. A cidade de Deus e a cidade do Homem: duas comunidades não necessariamente materializadas em termos institucionais (e.g. a pertença à Igreja não é condição de salvação; o papel do império na cidade de Deus).
a. História de duas cidades: sobrepõem-se e misturam-se; todos pertencem à cidade da terra durante a vida na terra; cidade da terra: amor de si; desejo de domínio.
b. Cidade de Deus: amor de Deus e dos mandamentos. Diferente da Igreja. Ser cristão ou pertencer à igreja não é garantia de salvação.
c. Eventualmente, a história levará depois da Parúsia à separação entre as duas cidades. A maioria: condenada; minoria será salva pela Graça.
5. Dois problemas da Filosofia Antiga: a procura da sabedoria=felicidade/ a origem do mal na história.
5.1 A procura da sabedoria: o maniqueísmo persa.
5.1.1 O problema da origem do mal e o combate/dualismo entre Deus (bem) e Satã (mal), nenhum dos dois omnipotentes; dualismo luz/trevas.
5.1.2 A alma humana e o mundo como espaço de confronto entre o bem e o mal;
5.1.3 A procura da sabedoria implica a derrota do mal interior;
5.2 O Cristianismo e a procura da sabedoria=felicidade. Como é que o Cristianismo e a Sabedoria se podem identificar? Fundamental para compreender mais de 1500 euros de História da Cultura;
5.2.1 Ser feliz é ser sábio: primeiro princípio. Deus é sabedoria (Logos). Logo ser sábio é conhecer Deus. Como se atinge a sabedoria? Através da Filosofia. Logo, o cristianismo é a verdadeira filosofia.
5.2.2 O processo de conversão: a ascensão do intelecto até à contemplação da verdadeira Sabedoria.
5.2.3 Homem e a necessidade da Graça.
6 Reconsideração da História e a origem do mal.
6.1 A criação de um mundo bom por Deus e a recusa do maniqueísmo.
6.2 O mal para Agostinho entra, concretiza-se na História; não existe extrinsecamente – 1.º queda dos anjos; 2.º Adão e Eva.
6.3 O pecado original, a origem do mal e a explicação da história.
6.4 O mal advém da vontade+liberdade humanas. Os homens são pois responsabilizáveis como agentes morais.
6.5 A omnisciência divina, a liberdade humana e a existência de Deus fora do tempo.
Românico e gótico.
19 Outubro 2021, 09:30 • Angélica Varandas
O românico e o gótico. A mística da luz.
De Constantino a Teodósio: o eusebianismo político e o debate em torno do poder.
14 Outubro 2021, 15:30 • Rodrigo Furtado
I. Constantinopla – 25 de Julho – 336.
1. A nova capital do Império – uma nova Roma nas margens do Bósforo.
2. O palácio imperial e o sacrarium. A montagem do cenário.
3. Os 30 anos do advento imperial. A celebração.
4. O panegirista: Eusébio de Cesareia. A História Eclesiástica e a Crónica. Os textos finais: a Vida de Constantino e o Louvor de Constantino.
II. O Louvor de Constantino: os tricennalia (25 de Julho de 336).
1. Prólogo e laus 1: a metáfora do ‘Grande imperador’ e o louvor universal.
‘Que aqueles, entretanto, que estão dentro do santuário, e têm acesso a seus recessos mais íntimos e inexplorados, fechem as portas contra todos os ouvidos profanos e revelem, por assim dizer, os mistérios secretos do carácter de nossos imperadores apenas para os iniciados. E que aqueles que purificaram os seus ouvidos nas correntes da piedade, e levantaram seus pensamentos nas asas elevadas da própria mente, se juntem à companhia que cerca o Soberano Senhor de todos, e aprendam em silêncio os mistérios divinos [...].
Hoje é a festa do nosso grande imperador: e nós, seus filhos, regozijamo-noss, sentindo a inspiração do nosso tema sagrado. Aquele que preside à nossa solenidade é o próprio Grande Soberano [...].
2. Laus 2: a origem divina do poder; o papel do imperador cristão.
‘É ele que detém o domínio supremo sobre todo o mundo, que está acima e em todas as coisas e permeia todas as coisas visíveis e invisíveis; o Verbo (Logos) de Deus. De quem e por quem o nosso divinamente favorecido imperador, recebendo, por assim dizer, uma cópia da soberania divina, dirige, em imitação do próprio Deus, a administração dos negócios deste mundo. Este Verbo unigénito de Deus reina, desde os tempos que não tiveram princípio, até aos tempos infinitos e sem fim, como parceiro do reino de seu pai. E [o nosso imperador] sempre amado por ele, que deriva a fonte da autoridade imperial de cima e é forte no poder de seu título sagrado, controlou já o império do mundo por um longo período de anos; o nosso imperador a quem ele ama, trazendo aqueles a quem ele governa na terra até ao único Verbo e Salvador torna-os súditos adequados de seu reino. [...]
Este é primeiro e maior sacrifício nosso imperador primeiro dedica a Deus: como pastor fiel, ele oferece, não "famosas hecatombes de cordeiros primogénitos", mas as almas daquele rebanho que é objeto dos seus cuidados, aqueles seres racionais que ele conduz ao conhecimento e à adoração piedosa de Deus.
3. Laus 3: o triunfo da ideologia monárquica cristã.
Por último, investido como está com a aparência da soberania celestial, ele dirige o seu olhar para cima e configura o seu governo terreno de acordo com o padrão daquele original Divino, sentindo força na sua conformidade com a monarquia de Deus. E essa conformidade é concedida pelo Soberano universal apenas ao homem entre todas as criaturas desta terra: pois só ele é o autor do poder soberano, que decreta que todos devem estar sujeitos ao governo de um. E certamente a monarquia transcende em muito todas as outras constituições e formas de governo: pois essa igualdade democrática de poder, que é o seu oposto, pode ser descrita como anarquia e desordem. Consequentemente, há um Deus, e não dois, ou três, ou mais: pois afirmar uma pluralidade de deuses é claramente negar a existência de Deus em tudo.
III. O eusebianismo político: o triunfo das ideologias monárquicas.
1. As raízes pré-clássicas e helenísticas das concepções monárquicas clássicas.
2. Humanização, distância e sacralização: o imperador não é Deus; etiqueta distanciadora; o papel do incenso e do trono.
3. Imperador e Hier-arquia. A reprodução na terra da hierarquia celeste. A escolha do Imperador por Deus. O Subordinacionismo e o imperador.
IV. O episcopalismo de Ambrósio de Milão.
1. O massacre de Tessalónica e o conflito com Teodósio I (390).
2. A submissão ideológica do imperador ao bispo e a defesa do império cristão.