Sumários

O fim do mundo: histórias de destruição e sobrevivência. A queda de Roma: a resposta ideológica ao saque de Roma. Como explicar o inexplicável?

16 Abril 2018, 14:00 Rodrigo Furtado

1.    André Piganiol, L’empire chrétien, Paris, 1947: ‘La civilisation romaine n'est pas morte de sa belle mort. elle a été assassinée ».

 

  1. A travessia do Danúbio de 376.

2.1   Sobre os Hunos: de onde vêm e por que razão se movimentam? Os Romanos não sabiam. Processo lento: não chegaram em massa nem de repente. 

2.2   Godos: GreuthungiTervingi; grupos que se ‘desligam’ dos seus reges; dois grupos são autorizados a atravessar o Danúbio (os Tervingi), outros não; com vários líderes (mas outros permanecem a norte do rio; e outros vão atravessando o rio ao longo do séc. V): Alavivo, Fritigerno, Alateu, Safrac, Vitimero, Atanarico, Eriulfo, Fravita. O que significa rex? Total ausência de unidade política. É possível que só a tenham adquirido enre 376-8.

2.3   A guerra contra os Persas na Arménia e a incapacidade de suster uma travessia descontrolada: opção? Controlar a travessia e fazê-los esperar até ao fim da guerra arménia. Tentativa de fazer o que sempre se tinha feito: desmantelar o grupo, separá-lo e absorvê-lo. Falha.

2.4   Adrianópolis: 9 de Agosto de 378.

 

3.     Teodósio e o estabelecimento na Ilíria. A liderança de Alarico.

3.1  O acordo de 382: terras para se estabelecerem em troco de apoio militar;

3.2  A unidade goda: as fontes deixam de falar de divisões de Godos dentro do Império: etnogénese;

3.3  Por motivos difíceis de determinar os Godos estão em protesto desde 395, com pilhagens e sa  ques pelos Blacãs até à Grécia: Alarico pede o reconhecimento da sua liderança; um pagamento em ouro;

3.4  Alarico: magíster militum per Illyricum em 398;

3.5   Perante a agressividade oriental (retiram-lhe o cargo em 400) e a recusa de negociações: incursão em Itália – 401;

3.6  A incapacidade ocidental: os Godos de Radageso/Radagaiso (405-6); as migrações do Natal de 406; a usurpação de Constantino III (407-11); o assassínio de Estilicão (408);

 

4.    O saque:

4.1  A reentrada em Itália em 408 e as novas exigências: um comitatus; tributo em ouro; terras na Récia e Venécia; depois no Nórico;

4.2  A recusa de negociação, apesar de Roma;

4.3  A chantagem: primeiro cerco (ainda em 408): Inocêncio permite rituais pagãos privados mas proíbe os públicos; resgate: 2 toneladas de ouro; 13,5 toneladas de prata; 4000 túnicas de seda; 1,3 toneladas de pimenta + todos os escravos germânicos;

4.4  O segundo cerco: fim de 409; conjugado com um usurpador em Itália apoiado pelos Godos: Átalo;

4.5  O terceiro cerco e o saque: incêndio do fórum; preservação das basílicas de Pedro e Paulo; o saque de três dias; o ‘rapto’ de Gala Placídia;

5.    O sermão sobre o saque de Roma: a visão de Agostinnho.

5.1  O Problema: por que Deus permitiu o saque, depois da  expansão do cristianismo? 

5.2  O Ataque: Roma cai porque abandonou os seus deuses;

5.3  Jerónimo: orbis terrarum ruit.

6.    Excertos:

Mas talvez Roma não tenha caído, talvez tenha sido castigada em vez de aniquilada, talvez emendada em vez de destruída. Pois Roma não morre, se os romanos não morrerem. E na verdade não morrerão, se louvarem a Deus. Morrerão, sim, se o blasfemarem. Pois que é Roma senão os Romanos? (Aug. serm. 81.9).

Todos os reinos da terra terão um fim. Se chegou agora o fim, Deus é que sabe. Talvez não seja ainda e, por uma certa fraqueza, por compaixão ou por miséria, desejamos que não venha já.Talvez este não seja agora o fim da cidade, mas ele virá um dia, seguramente. (Aug. serm. 81.9).

Não haveria em Roma cinquenta justos? Em tão grande número de fiéis, de pessoas consagradas, de tantos que vivem em continência, em tão grande número de servos e servas de Deus, não foi possível encontrar cinquenta justos, nem quarenta, nem trinta, nem vinte, nem dez? Se tal hipótese é inverosímil, por que razão Deus por cinquenta ou mesmo por dez [justos] não poupou a cidade? (...)Dir- me-ão que é evidente que Deus não poupou a cidade. Eu porém respondo: “Para mim, não é de modo nenhum evidente”. A devastação da cidade que então aconteceu não foi como a de Sodoma.Quando Abraão interrogou Deus, a pergunta era acerca de Sodoma. E Deus, então, disse: “Não deitarei a perder a cidade”; não disse: “Não castigarei a cidade”. Deus não poupou Sodoma, destruiu Sodoma, consumiu-a completamente nas chamas. Não lhe adiou o Juízo, mas exerceu sobre ela o que tem guardado para os outros perversos no dia do Juízo. De Sodoma não restou absolutamente nada. Não ficou um só animal do rebanho, um só homem, uma só casa. Tudo o fogo consumiu por inteiro. Eis de que modo Deus destruiu a cidade. Da cidade de Roma, porém, quantos fugirame hão-de voltar, quantos ficaram e se salvaram, quantos, nos lugares sagrados, não foram atingidos!“Mas — dir-me-ão — muitos foram levados como cativos”. Também Daniel, não para seu castigo mas para consolação dos outros. “Mas muitos — dirão ainda — foram mortos.” Também muitos justos profetas desde o sangue do justo Abel até ao de Zacarias.E também os apóstolos, e o próprio senhor dos profetas e dos apóstolos, Jesus.

Assim, não há qualquer dúvida de que Deus poupou a cidade de Roma, que, antes do terrível incêndio, em muitos lugares, já tinha partido em grande número. Tinham partido os que haviam fugido e tinham partido os que, mais depressa ainda, haviam deixado o corpo. Muitos dos que caram esconderam-se conforme puderam, muitos deles nos lugares sagrados, e conservaram-se sãos e salvos. 

Pela mão de Deus que corrige, então, a cidade foi mais castigada do que destruída, como o servo que, mesmo conhecendo a vontade do seu senhor, faz coisas dignas de castigo e recebe muitos açoites.Oxalá isto sirva de exemplo a temer e que o mundo, sedento de perversas concupiscências, ávido de desfrutar perniciosas volúpias, mostrando o Senhor quão instáveis e efémeras são todas as vaidades do século e loucas as suas mentiras, antes se modere que murmure contra o Senhor perante os merecidos flagelos.

7.     A cidade de Deus e a cidade do Homem: duas comunidades não necessariamente materializadas em termos institucionais (e.g. a pertença à Igreja não é condição de salvação; o papel do império na cidade de Deus).

8.     A negação da escatologia: o sentido da história para lá da morte: a resposta a 410.


Antão e Pacómio: anacoretismo e monaquismo. A revolução religiosa: Deus e a sociedade.

12 Abril 2018, 14:00 Rodrigo Furtado

  1. A filosofia pagã dos séculos I-IV d.C.: filosofia e modo de vida. De novo, em torno da origem do mal e da procura da felicidade.
    1. Pitagóricos: ter tudo em comum; os symbola (ensinamentos); ascetismo e fuga ao mundo;
    2. Estóicos: a busca da ataraxia e a eventual fuga ao mundo;
    3. Neo-platónicos: a contemplação do Uno e a fuga ao mundo distractivo;
    4. Ascetismo (ἄσκησις: treino, exercício do gymnasium); penitência; mortificação; purificação; contemplação;
    5. A fuga à cidade; a fuga à política; a fuga ao artifício; a fuga a (uma certa) cultura; a fuga ao mundo material; a fuga aos daimones e aos desejos;

f.       A procura da tranquilidade; a procura da divindade; o eremitismo (ἐρημίτης: o que vive no deserto)/anacoretismo (ἀνακορέω: retirar-se) pagãos.

 

2.     Antão (ca. 251-356).

a.      Atanásio de Alexandria, Vita Antonii (trad. para latim duas vezes logo no séc. IV): modelo da hagiografia;

b.     a fuga à cidade e à cultura; o deserto como lugar da experiência de Deus, porque fora da cidade;

c.      o controlo de si tão caro aos filósofos: o deserto como o lugar da luta contra as tentações; o controlo do corpo e das paixões: a ἀπάθεια (ausência de sofrimento);

d.     a atracção: os seguidores do deserto – discipulado, peregrinações e aldeamentos.

 

3.     O anacoretismo.

a.      A expansão do modelo de Antão e as comunidades de anacoretas (oração comum);

b.     Evágrio Pôntico († 399): discípulo de Gregório de Nazianzo, vive em Constantinopla; o caso de Melânia-a-Antiga.

c.      Os estilitas;

d.     A rápida expansão do modelo pelo Oriente.

 

4.     Pacómio (†348) e o Κοινòς βίος: o nascimento do cenobitismo.

a.      Próximo de Antão;

b.     A comunidade de Tabenisi (323): regra de 194 artigos; os muros;

c.      Quando morre: 9 conventos masculinos e 2 femininos. Uma autêntica “congressão” com um superior do qual todos dependem; mosteiros com mais de mil monges.

d.     Auto-suficiência económica.  

 

5.     Basílio de Cesareia (330-379)

a.      Aristocrata muito culto; converte-se em 357; viaja até ao Egipto; funda mosteiro no Ponto antes de se tornar bispo;

b.     Regra de enorme influência: menor importância do anacoretismo; vida comunitária; a hierarquização da vida comunitária;

 

6.     Jerónimo e o ascetismo em Roma e na Palestina. As traduções da regra de Pacómio (Jerónimo) e de Basílio (Rufino de Aquileia).

 

7.     O monaquismo episcopal e os precedentes das comunidades de canónigos regulares.

a.      Martinho de Tours;

b.     Ambrósio de Milão;

c.      Agostinho de Hipona;

d.     Paulino de Nola;

e.      Isidoro de Sevilha;

f.       Comunidades litúrgicas; de oração; de estudo. As escolas episcopais.

 

  1. Tradição, enciclopedismo, imobilismo e cópia dos escritos ‘clássicos’ no espaço monásico ocidental: a Regra de São Bento e os primeiros scriptoria monásticos; o Vivarium de Cassiodoro.

 

Regra de São Bento 48: ‘A ociosidade é inimiga da alma. Por isso, devem os irmãos dedicar-se ao trabalho manual e também, durante um determinado número de horas, à leitura divina. Por este motivo, cremos que cada uma destas ocupações será ordenada no tempo, segundo a seguinte disposição: da Páscoa até às Calendas de Outubro [...], desde a hora quarta até à hora em que celebrarão a sexta, estejam livres para a leitura [...]. Desde as Calendas de Outubro até ao início da Quaresma, estejam livres para a leitura até ao fim da segunda hora [...]. Nos dias da Quaresma, desde manhã até ao fim da hora terceira, estejam livres para as suas leituras [...]. Nesses dias da Quaresma, recebam todos, da biblioteca, um único códice que lerão integralmente, de forma continuada. Esses códices devem ser dados no início da Quaresma. Antes de tudo isto, sejam escolhidos um ou dois dos mais velhos para que circulem pelo mosteiro nas horas em que os irmãos estão livres para a leitura e para que vigiem a fim de que não se encontre por acaso um irmão indolente que se dedique ao ócio ou à conversa, que não esteja atento à leitura e que não só seja inútil para si, como também distraia os outros. [...] Do mesmo modo, no Domingo, estejam todos livres para a leitura, excepto os que foram escolhidos para ofícios diferentes.


Agostinho: Confissões, Livro Arbítrio e Cidade de Deus. A revolução do pensamento: Deus e o homem.

9 Abril 2018, 14:00 Rodrigo Furtado

  1. Um homem do seu tempo (354-430):
    1. De Tagaste a Milão: aristocracia local; região densamente cristianizada; professor de retórica: Tagaste (373-4), Cartago (374-84), Roma (384-6), Milão (386-7). O baptismo: 387. Bispo de Hipona: 397.
    2. Dois problemas da Filosofia Antiga: a procura da sabedoria=felicidade/ a origem do mal na história.

2.     DUAS RESPOSTAS

    1. A procura da sabedoria: o maniqueísmo de origem persa.

                                               i.     O problema da origem do mal e o combate/dualismo entre Deus (bem) e Satã (mal), nenhum dos dois omnipotentes;

                                              ii.     A alma humana e o mundo como espaço de confronto entre o bem e o mal;

                                             iii.     A procura da sabedoria implica a derrota do mal interior;

    1. O neo-platonismo.

                                               i.     A existência do belo e do bem em si e a deformação do mundo sensível: o mundo das ideias como uno e singular;

                                              ii.     A prioridade do consciência (nous) na procura do belo/bem em si, recusando a experiência sensível.

 

3.     O Cristianismo e a procura da sabedoria=felicidade.

a.       Como é que o Cristianismo e a Sabedoria se podem identificar? Fundamental para compreender mais de 1500 euros de História da Cultura;

b.     Confissões (396-7):

                                               i.     Ser feliz é ser sábio: primeiro princípio. Deus é sabedoria (Logos). Logo ser sábio é conhecer Deus. Como se atinge a sabedoria? Através da Filosofia. Logo, o cristianismo é a verdadeira filosofia.

                                              ii.     O processo de conversão: a ascensão do intelecto: Os quatro seres: os que existem; os que existem e vivem; os que existem, vivem e pensam (De libero arbitrio 2); e o que existe, vive, pensa e é eterno e imutável. As confissões pretendem mostrar a ascensão da alma até à contemplação da verdadeira Sabedoria.

                                             iii.     O Cristianismo neo-platónico: o mundo visível é apenas parte da realidade, transitório, subjectivo, corruptível, passageiro vs. Deus. A alma com capacidade para chegar perto de Deus.

                                             iv.     A recusa do maniqueísmo: o mundo como intrinsecamente bom porque criado por Deus. Incapacidade humana para ver plenamente Deus através do mundo (dif. Do maniqueísmo que entendia o mundo sensível como um impedimento para conhecer Deus).

 

4.     Reconsideração da História e a origem do mal.

a.      De diuersibus quaestionibus LXXXIII, 48: simples ordo temporum transactorum; a recusa da ciclicidade.

b.     O pecado original, a origem do mal e a explicação da história.

c.      A omnisciência divina, a liberdade humana e a existência de Deus fora do tempo.

d.     A cidade de Deus e a cidade do Homem: duas comunidades não necessariamente materializadas em termos institucionais (e.g. a pertença à Igreja não é condição de salvação; o papel do império na cidade de Deus).

e.      A negação da escatologia: o sentido da história para lá da morte: a resposta a 410.


Fírmico, Jerónimo e Claudiano: Christianus vs Ciceronianus. A revolução da estética: Deus e a cultura.

5 Abril 2018, 14:00 Rodrigo Furtado

1.     Contrastes e mundividências

a.       Cristianismo e cultura clássica: Christianus non Ciceronianus?

 

Jerónimo, Epístola XXII a Eustóqiuo, 30: ‘Há já muitos anos, embora tivesse, por causa do Reino dos Céus, cortado todas as relações com a minha casa, os meus pais, irmã, parentes e, o que é mais penoso do que isto, com o hábito dos lautos banquetes [...], não podia passar sem a biblioteca que coligira para mim, em Roma, com grande zelo e trabalho. Assim eu, infeliz, antes de ler Cícero, jejuava. Depois das ininterruptas vigílias nocturnas [...], tomava Plauto nas minhas mãos. Se porventura, caindo em mim, começava a ler um profeta, a linguagem rude horrorizava-me [...].

Quase a meio da Quaresma, uma febre, infundida nas minhas entranhas mais recônditas, invadiu o meu corpo esgotado e, sem qualquer descanso [...], devorou os meus infelizes membros ao ponto de eu mal permanecer preso aos meus ossos. [...] De repente, arrebatado em espírito, sou arrastado até ao tribunal do Juiz, onde era tanta a luz e tanto o brilho oriundos do esplendor dos que se encontravam de pé ao meu redor, que, lançado por terra, não ousava olhar para cima. Interrogado acerca da minha condição, respondi que era Cristão. Mas aquele que presidia disse: «Mentes. És Ciceroniano, não Cristão; «onde estiver o teu tesouro, aí está também o teu coração» [Mat. 6, 21].

                  Calei-me de imediato e, entre vergastadas – efectivamente, tinha ordenado que eu fosse flagelado – era ainda mais torturado pelo fogo da minha consciência, reflectindo para comigo naquele versículo, ‘no inferno porém, quem te louvará?’ [Ps. 6, 6b]. Comecei então a gritar e a dizer entre lamentos: ‘Tem piedade de mim, Senhor, tem piedade de mim’ [Ps. 56, 2]. [...] Fui libertado, voltei à superfície e, perante a admiração de todos, abro os olhos, inundados por uma tamanha chuva de lágrimas que convenciam da minha dor os incrédulos. [...] A partir de então li os livros divinos com um empenho maior do que aquele com que antes tinha lido os livros dos mortais.

 

b.      Educação e novos desafios.

                                               i.     A educação clássica : o triuium.

                                              ii.     As ‘escolas’ cristãs de Alexandria e de Antioquia no século III; o direito dos Cristãos poderem aceder à educação;

‘Quero pedir-te que extraias da filosofia dos Gregos o que pode servir como um plano de estudo ou uma preparação para o cristianismo, e da geometria e astronomia o que servirá para explicar as Sagradas Escrituras, para que o que todos os filhos dos filósofos costumam dizer sobre geometria e música, gramática, retórica e astronomia, como companheiros auxiliares da filosofia, possamos dizer nós, sobre a própria filosofia, em relação ao cristianismo. Talvez algo deste tipo esteja suposto no que está escrito no Êxodo, da boca de Deus: que ele ordenou aos filhos de Israel que pedissem aos seus vizinhos e àqueles que habitavam com eles, vasos de prata e ouro e vestes, de modo a que, ao espoliarem os egípcios, eles pudessem ter material para a preparação das coisas que pertencem ao serviço de Deus’. (Orígenes, Carta a Gregório)

‘Não devemos errar em defender que todas as coisas necessárias e proveitosas para a vida nos vieram de Deus, e que a filosofia foi mais especialmente dada aos Gregos, como uma aliança especial com eles - sendo, como é, um degrau para a filosofia que existe de acordo com Cristo’. (Clemente de Alexandria, Stromata 8)

‘Apresentarei os melhores contributos dos filósofos dos Gregos, porque tudo o que há de bom foi dado aos homens de cima por Deus '”(João Crisóstomo, Capítulos Filosóficos, Prefácio).

 

                                             iii.     A recusa da cultura clássica: não interessam as letras nem a argumentação, mas apenas a fé – o sermo piscatorius (Atanásio de Alexandria, Vita Antonii, 1.80).

c.      A recuperação de um passado.

                                               i.     Os Saturnalia de Macróbio: ambiente simposiástico que pretende recuperar os modelos clássicos: discussão em torno de Vergílio;

                                              ii.     As edições de luxo autores antigos:

1.     Tito Lívio patrocinada por Símaco e por Nicómaco Flaviano em 401;

2.     As edições de luxo de Vergílio: o Virgilius Mediceus (Firenze, Laur. 39.1 + Vaticano, lat. 3225) – a subscrição de Túrcio Rufo Aproniano Astério (f. 76).

3.     Os comentários: Sérvio, Tibério e Élio Donato.

d.     Tradição literária e novos conteúdos : pseudomorfose cultural.

                                               i.     Claudiano : um poeta egípcio em Roma ao serviço de Estilicão. O maravilhoso pagão como adereço.

                                              ii.     A oratória clássica ao serviço da religião: João Cristóstomo, aluno de Libânio;

                                             iii.     Juvenco e os Euangelii libri ; Proba e o centão de Vergílio In laude Christi; Sedúlio e o Carmen paschale.

 

2.     Cristianismo e religiões não cristãs: o exemplo de Fírmico Materno.

a.      O Cristianismo como padrão cultural: ser cristão é ser como o imperador.

b.     A argumentação a favor da proibição dos rituais não cristãos. Um combate não apenas contra o politeísmo. Um combate pela racionalidade e a cultura: Basílio de Cesareia, Gregório de Nazianzo.

 

'Falta pouco para que o mal seja definitivamente proibido e afastado pelas tuas leis e para que o contágio mortal da idolatria do passado possa perecer’ (Firm. err. 20.7).

 

Afrodite, Ágora de Atenas

Templo de Ísis em Filai, Egipto.

 

    1. A proibição de construção de novos templos por Constantino. O carácter ambíguo das atitudes imperiais:

                                               i.     a manutenção dos rios cívicos;

                                              ii.     os templos da deusa Tiquê (Thychê) e dos Dióscuros em Constantinopla;

                                             iii.     a negligência: o cada vez menor evergetismo religioso não cristão.

“Imaginei na minha cabeça o tipo de procissão que seria, com um homem a ter visões sonho: animais para sacrifícios, libações, refrões em honra do deus, incenso e os jovens da cidade a rodear o santuário, com as suas almas adornadas com toda a santidade e eles próprios vestidos com vestes brancas e esplêndidas. Mas quando entrei no santuário, não encontrei incenso, nem um bolo, nem um animal para sacrifício. Nesse momento fiquei espantado e pensei que ainda estava fora do santuário e que estavam à espera de um sinal meu, dando-me essa honra por eu ser o sumo pontífice. Mas quando comecei a indagar que sacrifício a cidade pretendia oferecer para celebrar a festa anual em honra do deus, o sacerdote respondeu: 'Trouxe comigo da minha casa um ganso como uma oferenda ao deus, mas a cidade desta vez não fez preparativos.” Juliano, Misopogon (sobre o santuário de Apolo em Dafne, perto de Antioquia).

 

    1. Edicto de Constante (ou Constâncio II) (341): cesset superstitio, sacrificiorum aboleatur insania (cod. Theod. 16.10.2): a proibição dos rituais da religio.

                                               i.     a proibição aos cristãos de participarem nos ritos e sacrifícios cívicos (321 d.C.);

                                              ii.     A proibição constante dos sacrifícios em Roma ao longo do século IV;

                                             iii.     Notícias esporádicas de conflito; mas ausência de uma política consequente até à época de Teodósio; mesmo depois, não há uma perseguição massiva;

                                             iv.     Visita de Constâncio II a Roma (357): respeito pelos templos da cidade: ao ponto de ser ele próprio apresentado por Símaco como modelo para Valentiniano II;

e.      Teodósio e o edicto de 391.

                                               i.     A extinção do fogo do Templo de Vesta e a proibição das Vestais. O de uirginitate de Ambrósio de Milão;

                                              ii.     A proibição da religião familiar;

                                             iii.     O abandono/destruição dos templos?

1.     Números

Gália: 2,4% templos destruídos;

Norte de África: apenas destruições em Cirene;

Ásia Menor: apenas um exemplo de destruição;

Grécia: apenas um exemplo de destruição (pelos Godos de Alarico);

Itália: apenas um exemplo de destruição;

Britânia: três exemplos de destruição;

Egipto: sete exemplos de destruição;

Síria-Palestina: vinte e um exemplos de destruição

TOTAL: 43 destruições

2.     O caso de Serapeum de Alexandria:

a.      não havia biblioteca;

b.     Teófilo de Alexandria retira de um templo abandonado objectos sagrados;

c.      Reacção pagã: tomam o Serapeum, torturam e crucificam cristãos;

d.     Acabam por ser expulsos e os líderes, que eram filósofos neo-platónicos, perdoados por Teodósio;


Orósio: contra os pagãos e a felicidade dos Christiana Tempora. A revolução do tempo: Deus e a história.

22 Março 2018, 14:00 Rodrigo Furtado

I.               As Histórias de Orósio

1.     A estrutura:

a.     Sete livros – sete dias; os debates em torno da duração do mundo e a mutação orosiana.

b.     Umas histórias optimistas: desde as gentium miseriae até à felicidade do presente – a mutação orosiana;

c.      Reafirmar o eusebianismo político: como provar o improvável – a teimosia orosiana.

2.     O saque de Roma de 24 de Agosto de 410.

a.     O círculo pagão de Volusiano e a crítica à Encarnação; a cessação dos ritos e da adivinhação; as consequências do Cristianismo.

b.     Orbis terrarum ruit;

Chega-me um terrível rumor do Ocidente: Roma foi cercado, a vida dos cidadãos resgatada com ouro e de novo os espoliados foram cercados, de tal modo que, depois dos seus bens, também perderam a vida. Embarga-se a vos e os soluços entrecortam as palavras quando dito esta carta. Foi tomada a Cidade que tomou todo o orbe; morre com fome antes de morrer pela espada; e dificilmente se encontram uns poucos para serem capturados: Ó vergonha, o círculo da terra desmorona, mas os nossos pecados não desaparecem. A ínclita Cidade e cabeça do poder romano foi consumida por um único incêndio. Não há região que não tenha refugiados vindos de lá. Em cinzas e em brasas caíram igrejas outrora sagradas. E, ainda assim, teimamos na avareza. (Hier. ep. 128.5).

c.      A primeira resposta de Agostinho: O De excídio urbis Romae.

O que havemos de dizer, irmãos? Tremenda e veemente questão nos é aqui lançada, sobretudo por homens que, sem piedade alguma, assaltam as nossas escrituras (não decerto por aqueles que piamente as perscrutam) e que dizem, sobretudo acerca da recente destruição de tão grande cidade: «Não haveria em Roma cinquenta justos? Em tão grande número de fiéis, de pessoas consagradas, de tantos que vivem em continência, em tão grande número de servos e servas de Deus, não foi possível encontrar cinquenta justos, nem quarenta, nem trinta, nem vinte, nem dez? Se isto é pouco provável, por que razão Deus por cinquenta ou mesmo por dez [justos] não poupou a cidade?» (…) Então, eu apresso-me a responder: «Ou encontrou aí alguns justos e poupou a cidade ou, se não poupou a cidade, é porque não encontrou nenhum justo.» Dir-me-ão que é evidente que Deus não poupou a cidade. Eu porém respondo: «Para mim, não é de modo nenhum evidente.» A devastação da cidade que então aconteceu não foi como a de Sodoma. Quando Abraão interrogou Deus, a pergunta era acerca de Sodoma. E Deus, então, disse: «Não destruirei a cidade»; não disse: «Não castigarei a cidade». Deus não poupou Sodoma, destruiu Sodoma, consumiu-a completamente nas chamas. Não lhe adiou o Juízo, mas exerceu sobre ela o que tem guardado para os outros perversos no dia do Juízo. De Sodoma não restou absolutamente nada (…) Da cidade de Roma, porém, muitos fugiram e hão-de voltar, muitos ficaram e salvaram-se, muitos, nos lugares sagrados, não foram atingidos! «Mas – dir-me-ão – muitos foram levados como cativos». Também Daniel, não para seu castigo mas para consolação dos outros. «Mas muitos – dirão ainda – foram mortos.» Também muitos justos profetas desde o sangue do justo Abel até ao de Zacarias. Também os apóstolos, e o próprio senhor dos profetas e dos apóstolos, Jesus. «Mas muitos – dirão – foram atormentados por toda a sorte de aflições.» Imaginamos porventura que o foram tanto quanto o próprio Job? (2.2; trad. C. Urbano)

 

  1. O praeceptum agostiniano.

a.     Or. 1. prol.

b.     Uma interpretação retórica?

c.      O esquecimento de Orósio após 417;

 

  1. As diferenças de Orósio: 

a.     A história providencialista e conduzida por Deus: a inteligibilidade da história;

b.     A recusa da Roma republicana;

c.      A recusa de uma história que se projecta plenamente para lá da morte.

 

  1. Textos
    1. Or. 2.19.10-15;
    2. Or. 6.22.5-8;
    3. Or. 7.35.1-23;
    4. Or. 7.39.1-18.