Sumários

As aventuras africanas de John Ford

28 Abril 2016, 14:00 Mário Jorge Torres Silva

Brevíssimo olhar sobre a carreira cinematográfica de John Ford, desde os melodramas irlandeses. até a uma pluralidade de registos que incluem a comédia e o filme-de-guerra, com especial destaque para a estratégica colocação de Westerns clássicos, para além de um grande drama sobre a Depressão, The Grapes of Wrath (1940) ou um dos apogeus da poética fordiana, How Green Was My Valley (1941). Nos anos 50, assina dois filmes que fazem figura de raridades na sua obra: Mogambo e o único dos seus filmes meta-cinematográfico, o biográfico The Wings of Eagles (1957).

Início do visionamento comentado de Mogambo (John Ford, 1953): o confronto entre duas divas da década - a loira vulcânica sob aparência gélida de Grace Kelly e a força da natureza e milagre fotogénico de Ava Gardner, votada pelos jornalistas como "o mais belo animal do mundo"; o filme de aventuras e a viagem como digressão; a relação entre o "filme africano" e o Western; a questão erótica e o filme como remake de um veículo para Jean Harlow, mantendo Clark Gable no seu papel de força sexual masculina, Red Dust (Victor Fleming, 1932), ambientado na Indonésia e bastante mais desafiador das regras comportamentais, rodado ainda nos anos do pre-code.


"Anna" (Alberto Lattuada, 1951): o novo estrelato italiano dos anos 50, na esteira do Neo-Realismo:

26 Abril 2016, 14:00 Mário Jorge Torres Silva

A procura de novas estrelas masculinas, mas sobretudo femininas para criar um star system italiano que vai perdurar por toda a década de 50: a importância do concurso Miss Itália dos últimos nos 40 para encontrar as vedetas cinematográficos com inesquecíveis corpos e rostos; o sucessivo triunfo de jovens actrizes como Silvana Mangano, Lucia Bosè, Eleonora Rossi Drago, Gina Lollobrigida,Silvana Pampanini, Sophia Loren, Valentina Cortese, Gianna Maria Canale ou Giovanna Ralli, entre muitas outras.

Conclusão do visionamento comentado de Anna (Alberto Lattuada, 1951): a enorme importância das cenas de cabaret, com inclusão de dois megassucessos musicais, "El Negro Zumbó", a famoso baião de Anna, que Nanni Moretti virá a citar em Caro Diario, e "Non DImenticar"; uma das primeiras aparições de Sophia Loren, num pequeno papel de empregada do night-club; a complexidade do epílogo, favorecendo uma visão mais politizada do argumento e escapando ao happy ending; a relevância do filme enquanto transição entre uma dimensão mais empenhada dos cineastas neo-realistas e uma recepção mais popular e universal ao cinema italiano.


O neo-realismo e o melodrama

21 Abril 2016, 14:00 Mário Jorge Torres Silva

O advento do Neo-Realismo, fruto das condições adversas de produção criadas pela Guerra: coordenadas estilísticas como o som em directo ou a filmagem com iluminação do dia nas ruas, enquanto resultado da deficiência de material e da destruição parcial dos estúdios da Cinecittà; a utilização de não-actores, na procura de novos rostos e de novos olhares; a centralidade documental dos primeiros grandes filmes associados com o movimento - Roma, Città Aperta (Roberto Rossellini, 1945) ou Paisà (Rossellini, 1946).

Início do visionamento comentado de Anna (Alberto Lattuada, 1951): a importância progressiva do melodrama na definição das relações do neo-realismo com as condições económicas complicadas do pós-guerra; o enorme sucesso popular do melodrama Catene (Raffaello Mattarazzo, 1949), levando a que outros cineastas considerassem a hipótese de abordar o género, integrando-o no esforço estético neo-realista; Alberto Lattuada, cineasta conotado com fortes manifestos do movimento, como Il Bandito (1946) e Senza Pietà (1948), repega no trio de intérpretes de sucesso do influente Riso Amaro (1950) do marxista Giuseppe de Santis, Silvana Mangano, Raf Vallone e Vittorio Gassman, para protagonizar uma história de freiras e de cabaret, em que a primeira parte se conformava ao realismo da vida de um hospital filmado em locais naturais, e a segunda, baseada em estilizados flashbacks se aproximava das regras do melodrama.


"Black Narcissus" (Michael Powell, Emeric Pressburger, 1947): o erotismo interiorizado e o exotismo de estúdio

19 Abril 2016, 14:00 Mário Jorge Torres Silva

Conclusão do visionamento comentado de Black Narcissus (Michael Powell, Emeric Pressburger, 1947): o lado místico do romance de Rumer Godden e o contraste estabelecido pelo filme com uma visão progressivamente erótica das freiras sujeitas à exposição de uma natureza agressiva e envolvente; os flashbacks gerando zonas de desconforto nas personagens femininas; o despertar da sexualidade na juventude e a tentação do masculino, corporizada por um lado pelo jovem general ( o quase assexuado Sabu) e, por outro, por Mr. Dean (David Farrar) um livre pensador numa colónia longínqua e exótica; o melodrama e a vibração dos sentidos - a vista marcada pela paisagem e pelos frescos eróticos nas paredes, o ouvido, castigado pela inclemência do vento que sopra das montanhas, ou o olfacto de perfumes misteriosos, como o "narciso negro" do título; o preciosismo da encenação das fantasias das freiras, culminando na revolta letal da diabólica irmã Ruth; a Irlanda católica e a Índia das castas; o epílogo aparentemente apaziguador, levando ao abandono do território de antigas crenças, restituído às suas funções ancestrais de equilíbrio com as forças da natureza.


Michael Powell, Emeric Pressburger e a fantasia colorida do Império

14 Abril 2016, 14:00 Mário Jorge Torres Silva

A obra complexa e decorativa de Michael Powell e Emeric Pressburger, criando um look inglês, tanto na iluminação quanto no modo como interrogar o ballet, a ópera e a cultura europeia, em produtos de qualidade industrial, mas estilizados artisticamente.

Início do visionamento comentado de Black Narcissus (Michael Powell, Emeric Pressburger, 1947): os Himalaias de estúdio e o uso dramático  de uma extraordinária fotografia em technicolor de Jack Cardiff; o vento e o silêncio como perturbante banda sonora; a filmagem de cenários evocativos de um antigo harém exótico, para reintegrar um convento de uma estranha ordem religiosa de ocupação do território; para um estrelato britânico, sobretudo Deborah Kerr e Jean Simmons, na transição para o panteão hollywoodiano, na década seguinte.