Sumários

Conceito de Utopia Edificatória na tratadística do renascimento: Léon Battista Alberti, Filarete, Leonardo, Francfesco Colonna.

27 Outubro 2015, 10:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

                    A Literatura Artística e os tratados de Arte (III.1):

                   1. A Utopia Edificatória de Léon Battista Alberti

                    2. Sforzinda: A Cidade Ideal de Filarete

                    3. A Cidade Ideal de Leonardo da Vinci

                    4. Hypnerotomachia Poliphili: A Utopia Insular de Citerea

                    5. As Imagens Pictóricas de Cidade Ideal do Séc. XV.

 A utopia anuncia-se logo no Prologo do De re aedificatoria de Alberti (1452) ao ser outorgada à Arquitectura,  assim  como  às  molte  e   svariate  arti…  dai  nostri  antenati  indagate, a  missão  de  render  felice  la  vita, além  de  que  a  Arquitectura, ou  melhor, a   res  aedificatoria,  seria  quanto  mai  vantaggiosa  alla  comunità  come  al  privato, particolarmente gradita all’uomo in genere e certamente tra le prime [ou  seja, entre as principais artes] per importanza Em Vitrúvio a missão da Arquitectura era contribuir para propiciar uma vida boa, com saúde e  em  segurança, como  se  explicita na  história do recinto  fortificado  transferido  por  M.  Hostílio  de  um  lugar  insalubre  para  outro  saudável. A salubridade, nomeadamente a defesa em relação aos ventos e climas agressivos (na tradição hipocrática, o  ar era visto como causa de todas  as doenças,  a  par  da  segurança,  que  levava a recintar as cidades com muralhas, são dos principais e primeiros aspectos tratados no De architectura, ocupando os caps. 4 a 6, do Livro I.
  Assim, pode-se concluir que a Utopia Edificatória, de Alberti, consiste acima de tudo na expressão do desejo de transformação do mundo e da realidade através da construção ou edificação. A edificação que está pre-
  sente no título do que é considerado o seu tratado de Arquitectura, De re aedificatoria,  e  que,  mais  correctamente,  deveria  ser  visto  como  um tratado sobre a Edificação, ou seja, sobre a Actividade de Construção do  Mundo e da Realidade, sentidos  como  insuficientes  e  imperfeitos, mas  susceptíveis de aperfeiçoamento, ou até de perfectibilidade.

Esta  concepção,  de  natureza  utópica,  da  Arquitectura,  e  do  Arquitecto como  demiurgo,  ou  seja,  como  construtor  do  mundo,  expressa-se  de  maneiras  multiformes  na  Teoria  da  Arquitectura  dos  alvores  da  Idade  Moderna,  mas  com  especial  incidência  nas  propostas  de  cidade  ideal, de Filarete, Leonardo da Vinci, e outras

BIBL.:

Vitrúvio Polião, Vitrúvio, Tratado de Arquitectura (De architectura  ou  De  architectura  libri  decem,  escrito  entre 35-25 a.C., impresso entre 1486-1490, ed. G. Sulpicio), I, 4, 12, trad. do latim, introd. e notas por M. J. 
 Maciel, ilust. Th. N. Howe, Lisboa, 2006, IST Press.

L. B. Alberti, L’architettura (De re aedificatoria, escrito entre 1443-52, impresso em 1485), ed. crítica, trad. di G. Orlandi, introd. e note di P. Portoghesi, Milano, 1989, Ed. Il Polifilo.

J. M. Simões Ferreira, J. M., Visões de Utopia: As Teorias da Arquitectura e as Utopias Políticas nos alvores da Idade Moderna, Dissertação de Mestrado em Filosofia, FCSH / UNL, 2001.


O Conceito de Cripto-História da Arte: problemáticas e usos na prática da História da Arte..

22 Outubro 2015, 10:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

A Cripto-História da Arte, nova proposta de conceptualização para a nossa disciplina, parte da revalorização da noção de fragmento, não apenas como memória parcelar da obra ausente, mas colmo testemunho vivo da sua essência,  senão como indício perene (tal como o iconólogo E. H. Gombrich o referiu, ao acentuar que a H. da Arte  impõe sempre a ideia do conjunto artístico, e do seu contexto) – uma avaliação da obra em globalidade. Uma História de Arte operativa, apta a alargar as suas bases teóricas e metodológicas não pode reduzir o seu objecto de estudo às obras de arte vivas; também as que desapareceram do nosso convívio, as que só sobrevivem através do indício ou do fragmento, ou seja, as obras de arte mortas, têm uma palavra a dizer aos historiadores, aos críticos e fruidores de arte.

Aquilo que se define por CRIPTO-HISTÓRIA DE ARTE atenta no papel que as obras desaparecidas no tempo podem ter assumido em determinadas circunstâncias históricas, económicas, políticas, ideológicas, na sua roupagem estética e no seu programa iconológico. O estudo das «zonas escuras» da produção das artes clarifica e alarga sempre o conhecimento. Poderá fazer-se História da Arte eficaz recorrendo aos objectos mortos, à sua diluída memória, às cicatrizes deixadas como rasto, bem como às obras de arte que não só não existem como chegar a ter verdadeiramente  uma existência, porque nunca passaram da fase da concepção (bom ex.: o projecto de ponte que Leonardo da Vinci, em 1502, desenhou para o sultão turco Baiazid II, destinado a unir a Gálata e Constantinopla, que nunca chegou a ser construído, senão em 2001 na Noruega pelo arquitecto Vebjoen Sansd...). As noções de totalidade, de fragmento, de micro-história, o conceito alargado de mercado e de programa artístico, iluminam as possibilidades (e a utilidade) do olhar cripto-artístico. A novidade desta vertente reside na consciência reforçada que possa ser atribuída à obra de arte morta e a possibilidade de se organizar o inquérito a seu respeito

segundo sólidas bases de pesquisa. As obras de arte também morrem, ou por incúria dos homens, ou por efeitos de calamidades cíclicas, ou por deliberado vandalismo, e são desse modo naturalmente apagadas da memória colectiva, desde que a sua função originária possa deixar de fazer sentido. Assim se passou (entre muitos outros exemplos) com o cadeiral pintado do Mosteiro de Almoster, que os efeitos das intempéries no arruinada casa cisterciense inevitavelmente vieram consumir sem remissão...

Enquanto noção operativa provida de franca utilidade para o alargamento das práticas da H. Arte, a CRIPTO-HISTÓRIA DE ARTE assenta as suas bases de pesquisa cripto-artística em cinco vertentes simétricas e convergentes, a saber:

1 --- a abordagem criptoanalítica;

2 --- a abordagem dedutiva;

3 --- a abordagem reconstitutiva;

4 --- a abordagem incriativa;

5 --- e a abordagem cripto-iconológica.


Aula não dada, por ausência do docente numa conferência em Madrid.

20 Outubro 2015, 10:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

A aula foi substituída por tempos tutoriais na tarde de 4ª e 5ª feiras. No dia 19, o docente fez uma conferência no Museu do Prado em Madrid, na qualidade de especialista na obra de Luís de Morales, el Divino, cuja exposição acaba de abrir nesse museu, com um grande catálogo monográfico em que é colaborador.


Bases de construção de uma 'fortuna crítica' de obra de arte, com 'estudos de caso'.

15 Outubro 2015, 10:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Exemplificação de leitura analítico-descritiva e interpretativa de uma obra de arte recorrendo a dois exemplos. O primeiro é a famosa pintura 'Os Esposos Arnolfini', de Jehan Van Eyck, 1434, National Gallery, Londres. O artista – o mais célebre dos Primitivos  Flamengos e nome maior da pintura proto-renascentista nórdica -- nasce c. 1488 em Masseik (Holanda), recebe influência da escultura tardogótica (Broedeldam, Sluter, foi provável discípulo do Mestre de Flémalle (Robert Campin e  deve a sua inovação ao citado ‘atrevimento’ no modus operandi. Usa o óleo como diluente com secagem rápida e os preparados de branco para conferir à película cromática um brilho intenso. Serviu João da Baviera, conde de Holanda, em Liège, de 1422 a 1424. Mas em 1425 é já pintor de câmara do Duque Filipe o Bom, instala-se em Lille por cinco anos, viaja a Espanha e Portugal em missões do duque, e só em 1430 se fixa definitivamente em Bruges. É ainda obscuro o que Jan deve a seu irmão Hubert van Eyck, com quem teria trabalhado como miniaturista-iluminador e no retábulo de Gand, começado c. 1420 por Hubert.  Outro irmão, Lambert, foi também pintor. Hubert, que a lenda pinta como pintor celebrado no seu tempo, é ainda uma incógnita e tem escassa obra segura. Jehan van Eyck, ou jɑn vɑn ɛik, nasceu em Maaseik pouco antes de 1390 (quase de certeza em 1488) e faleceu na cidade flamenga de Bruges a 9  de Julho de 1441. Ele é, reconhecidamente, a mais fortes e mediatizada personalidade da Pintura do Renascimento do Norte durante.  É autor de obras celebérrimas como o Políptico de Gand (em colaboração com seu irmão Hubert van Eyck), a Virgem com Van der Paele, as iluminuras do Livro de Horas Turim-Milão. Devem-se-lhe seguramente de vinte e cinco pinturas executadas de 1432 a 1439, dez delas assinadas com a fórmula em caracteres gregos ALS IK KAN (Assim  pelo melhor modo que eu (Eyck) posso). Filipe o Bom, Duque de Borgonha, conditor Belgii, governador dos Países Baixos de 1417 a 1467, tornou  o território da Bélgica durante meio século um pólo fundamental da estabilidade europeia. À frente de uma Flandres que governa com o seu chanceler Nicolas Rolin a partir de Bruges ou de Bruxelas e que inclui os conselhos de Namur, Hainaut, Brabante, Limbourg, Somme, Luxemburg, e os principados episcopais de Liège e Cambrai, o tempo de Filipe o Bom é uma espécie de chefe da cristandade, afirma as virtudes cavaleirescas, cria uma corte luxuosa onde se protegem as artes e letras e que atrai a Bruges (então com 150.000 habitantes) mercadores, banqueiros e artistas. O ambiente estável propicia o desenvolvimento das artes. No retrato dos Arnolfini, atesta-se o chamado milagre eyckiano expressa-se nesse profundo humanismo, na densidade do real, no apelo às forças vivas, no realismo do modelado, na concepção em profundidade, que o retrato do casal mostra e reflecte em alto cume... O segundo exemplo é uma 'Natureza Morta' holandesa da autoria de  Jacob van Es (Antuérpia, 1596-1666). Ambas as pinturas são interpretadas à luz das suas qualidades históricas, iconográficas, estéticas, formais, iconológicas e comparatistas, seguindo o seu percurso trans-contextual.

 


Aula tutorial.

13 Outubro 2015, 10:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Devido ao facto de o professor proferir uma comunicação no Congresso Internacional SPHERA MUNDI. ARTE E CULTURA NO TEMPO DOS DESCOBRIMENTOS, no CCB, à hora da aula, esta foi transdformada em acompanhamento tutorial no período de atendimento e discussão para tal atribuído.