Sumários
Cultura(s) em Tempoespaço
21 Fevereiro 2019, 10:00 • Luís Filipe Sousa Barreto
Aula 8
21-02-201
A cultura/cultural como ambivalência Plural-Uno. Uma constante processual em oscilação/tensão com uma dominante pluralidade-heterogeneidade (uma “heteropia interna”, F. Julien, 2016) e uma dominada unidade/homogeneidade.
O fundamento da cultura/cultural é a transformação interna e a das relações transculturais. Exemplos de factos/fenómenos culturais na grande transformação transcultural dos finais do século XV a inícios do século XVIII.
O novo/emergente, o repetido e o herdado. Qualquer parte do cultural (língua, texto, arte, valores comportamentais) tem sempre múltiplas idades: o presente/simultâneo, os passados/anteriores, as lutas e projetos de posteriores/futuros.
As regras do espaçotempo internacional, marítimo, litoral da Ásia do Sueste aos Mares da China e do Japão. O peso demográfico, cultural, económico, político, da China oficial (Ming) e das comunidades chinesas ultramarinas-privadas. Um mundo sinocêntrico com os desafios do Islão e do Japão. O “Sistema Tributário” e o quadro internacional com o Japão a usar mas não aceitar desde os anos 607-608. O Japão como Império/Imperador (Tenno) do Oriente que saúda a China com Império/Imperador do Ocidente (Kotei). As regras do espaço da Ásia Oriental que os portugueses vão aprender e apreender na prática (a colina de Patane em Macau).
A propósito de perguntas dos alunos a pluralidade – ambivalência cultural de Portugal-Portugueses acerca da grande transformação transcultural do século XVI (exemplos pontuais em Gil Vicente, D. João de Castro, João de Barros, Fernando Oliveira).
A identidade cultural é sempre múltipla e transformativa. Um campo, um grupo, um indivíduo, toda uma cultura, possui sempre um conjunto de múltiplas e ambivalentes identidades. Diferenças internas nas culturas dos Estados, dos mercadores, dos missionários: são todos Unos múltiplos – heterogéneos com alguma homogeneidade. A propósito do comércio internacional a ética neo-confuciana de Fujiwara Seika (1561-1619)
Bibliografia mencionada:
Bary, W. Theodore, C. Gluck e outras (ed.) – Sources of Japanese Tradition, N. Iorque, Columbia U. Press, 2002-2006, 3 vols. (também Sources of Chinese Tradition e Indian Tradition)
Julien, François – Il n´y a pas d´identité culturelle, Paris, L´Herne, 2016
Elucidações em torno da categoria de cultura e de factos culturais/fenómenos
19 Fevereiro 2019, 10:00 • Luís Filipe Sousa Barreto
Aula 7
19-02-201
Os humanos são observadores observados. Todos somos Outros e os Outros não são fac-similes, nem antípodas mas identidades diferenças como nós. Os factos culturais são coisas/palavras, formas/representações, que fornecem o ambiente (normas/desvios) de orientação das ações, a constituição humana. Uma “definição aberta” de cultura, um “fenómeno impreciso” (a cultura, não medida mas forma) que é preciso seriar, comparar, delimitar, etc.
O substantivo cultura de meados do s. XVII em línguas latinas, aos finais do s. XVIII alemão, francês, e em inglês no s. XIX como definição etnológica. A cultura/cultivo do espirito em latim e línguas latinas. As palavras como designação/classificação com diferentes explicações. Um mesmo significante e a variação de significados.
A predominante pluralidade/heterogeneidade das culturas e o núcleo de Homogeneidade. O viver, praticar, ter a verdade das culturas a partir de dentro (endotópico) e o ver a partir de fora (exotópico). Os campos, grupos, indivíduos em interação cultural como ambivalentes em tensão. Endotópico/exotópico são posições – fronteiras oscilantes e dialogais. As interações – relações transculturais vivem o máximo dessa oscilação/diálogo.
Para conhecermos uma cultura, culturas, relações transculturais temos de analisar os modos e as formas de cada uma e as relações – trocas – passagens entre elas. Cultura implica culturas, identidade implica diferença e todos (culturas, campos, grupos, indivíduos) temos sempre múltiplas identidades.
Bibliografia mencionada:
Geertz, Clifford – *Available Light*, Princeton, Princeton U. Press, 2000
Sahlins, Marshall – Apologies to Thucydides: Understanding History and Culture and Vice-Versa, Chicago, U. of Chicago Press, 2004
- The Western Illusion of Human Nature, Chicago, Paradign Press, 2008.
Lógicas do Cultural
14 Fevereiro 2019, 10:00 • Luís Filipe Sousa Barreto
Aula 6
14-02-201
O cultural, campo simbólico constituído no espaçotempo como significados/sentido. Este universo simbólico humano possibilita a comunicação, representação, conhecimento, ação (das línguas aos padrões de ideias, gostos, valores, etc.)
O cultural (as culturas) como realidade transformativa e cumulativa em metamorfoses e persistências, continuidades e descontinuidades. Todo e qualquer cultural no presente está grávido de futuros (potenciais) e de passados (disseminados, integrados). O cultural é sempre também heterogéneo (com polifonias e heteroglassias). As normas/padrões culturais são sempre plurais, variáveis, oscilantes. Uma cultura/cultural é conjunto de trocas com outras culturas e persistência dalgo que é residual próprio. O cultural é assimétrico e hierárquico. O capital cultural (por exemplo, o linguístico) está distribuído sempre em forma desigual.
Em torno de fronteiras porosas / campos de interação. Fronteiras litorais marítimas como interação/pontos nucleares. Ilhas/Penínsulas/Cidades (Macau, Nagasaqui, Manila) eurasiáticas de interação global. Palcos regulares de interação (feira de Cantão/Guangzhou, Zhaoquin (residência de verão do Governador de Guangdong-Guanxi), Beijing – Palácio Imperial e a botica/oficina dos Jesuítas.
Bibliografia mencionada:
Gil, Juan – Los Chinos en Manila : Siglos XVI y XVII, Lisboa, CCCM, 2011
Valignano, Alexandre – Catecismo da Fé Cristã (Lisboa, 1586), ed. A. Guimarães Pinto e J. M. Pinto dos Santos, Lisboa, CCCM, 2017
Em torno de cultura/culturas interações/relações transculturais
12 Fevereiro 2019, 10:00 • Luís Filipe Sousa Barreto
Aula 5
12-02-201
Lógicas de ordenamento e de explicação do cultural. Campos e limites/fronteiras em abertura de interação transcultural. Processos de mútua embora desigual aculturação e os casos limite de metamorfose/passagem a um Outro: Cristovão Ferreira (c. 1580-1650)/ Sawano Chúan e “A Superstição Desvendada”/ Kengiroku, 1636.
Espaços e tempos do transcultural: Europa/Sol Poente e Ásia/Sol Nascente. Palavras de uso cada vez mais amplo por elites europeias dos séculos XVI a XVIII mas, termos não chineses, não japoneses, etc.
Os grandes ciclos do moderno e global relacionamento transcultural (sempre multilateral e desigual) entre Europa e Ásia Oriental/portugueses, chineses, japoneses, Índico- Ásia do Sueste, etc. Um primeiro andamento do século XVI ao século XVIII de maior impacto de China/Japão nos Europeus e Europa. Um segundo andamento, séculos XIX e XX, de maior impacto da Europa/E. Unidos/”Ocidente” no Japão e China. Hoje, desde os anos de 1980/1990, vivemos um novo ciclo de impactes cruzados e não sabemos como vai evoluir e como/quando vai acabar. As realidades humanas são, em larga medida, imprevisíveis (para os nossos conhecimentos de Humanidades e C. Sociais).
Leitura e comentário de três enunciados chave formulados por Claude Levi-Strauss (1980-2009) em “Race et Histoire”/1971
Bibliografia de Estudos:
Claude Levi-Strauss – L´Autre Face de la Lune Écrits Sur le Japan, Paris, Seuil, 2011
Georg Elison – Deus Destroyed, the Image of Christianity in Early Modern Japan, Cambridge, Mass. Harvard U. Press, 1982
Jacques Gernet – Chine et Christianisme: La Première Confrontation, Paris, Gallimard, 1982
A Planetarização marítima global s. XV-XVII: em torno das categorias de Espaço-Tempo
7 Fevereiro 2019, 10:00 • Luís Filipe Sousa Barreto
Aula 4
07-02-201
Para todos (Europeus, Asiáticos, Africanos, Americanos) novos tempos e novos espaços de conexão global nos séculos XVI e XVII. O nascimento de campos de interação transcultural assentes em redes globais interoceânicas. Os espaços globais transculturais que nascem nos litorais do Pacífico/Atlântico/Índico e os efeitos no comércio internacional de longa distância (também efeitos no consumo, nas ideias, nas línguas, finanças, modos de sentir e ver o Corpo ou o Divino).
A interação global vai gerando mistura, adaptação, imitação. Crescentes relações transculturais geram alargamento de informação e de mercado mas, também, tipos de fusão. Exemplos concretos nos portugueses filhos de mãe Asiática, nos híbridos e imitações dos navios ao mobiliário.
As transferências são sempre adaptações (os casos das armas de fogo e relógios da Alemanha via portugueses no Japão).
Os recém chegados dos Mares Ocidentais (portugueses, espanhóis, holandeses, ingleses) devem obedecer às regras diplomáticas, internacionais, transculturais: caravelas e naus nos mundos dos juncos. Os canhões de bordo (falcão) como auxiliar do próprio comércio intra e interasiático.
Bibliografia Específica de Estudos:
Davids, Karel – Religion, Technology, and the Great and Little Divergences: China and Europe Compared, c. 700-1800, Leiden, Brill, 2013
Hyunchee, Park – Mapping the Chinese and Islamic Worlds: Cross-Cultural Exchange in Premodern Asia, Cambridge, C. U. Press, 2012
Ptak, R. T. – China and the Asian Seas: Trade, Travel and Visions of the Other (1400-1750), Londres, Variorum, 1998
Raaflaub, Kurt (ed.) – Geography and Ethnography: Perceptions of the World in Pre-Modern Times, Oxford, Blackwell, 2010
Smith, Richard L. – Premodern Trade in World History, N. Iorque, Routledge, 2009