Sumários

A filosofia e as suas questões

31 Outubro 2018, 17:00 Maria Leonor Lamas de Oliveira Xavier

Aula nº7 - 31/ 10/ 18

A filosofia e as suas questões. A questão da origem das ideias ou conceitos (universais).

Exercícios de apresentação oral de temas filosóficos com base em textos de uso lectivo: Daniel Afonso, João Tavares, João Amaral.

Próximos exercícios de apresentação oral: - aula nº8, 7/11, Cristiana Miranda, Filipa Marques, Francisca Vaz Guedes; - aula nº9, 14/11, Isadora Pinheiro, Helder Cruz, Gonçalo Pinho; - aula nº10, 21/11, Clara Forte, Beatriz Freitas, Sofia Estudante; - aula nº11, 28/11, Margarida Nunes, Ana Lúcia Dionísio, Diogo Vítor, Francisca Matos; - aula nº12, 5/12, Manuel Moita, Rafael Rebelo, Bárbara Bernardino, João Rodrigues; - aula nº13, 12/12, Liliana Santos, Karina Silva, Laura Green.


Algumas posições sobre Antropologia Filosófica

26 Outubro 2018, 10:00 Adriana Veríssimo Serrão


Algumas posições sobre Antropologia Filosófica

 

A necessidade de um saber sobre o Homem

“O mais útil e o me­nos avan­çado de todos os co­­­nhe­ci­mentos humanos parece-me ser o do homem”. [1]

 

 “Todos os progressos na cultura, mediante os quais o homem faz a sua formação es­colar, têm o propósito de usar esses […] conhecimentos soltos [Kenntnisse] e aptidões adquiridos para o uso do mundo, mas, neste mundo, o objecto mais im­portante a que ele os pode apli­car é o homem, pois ele é o seu próprio fim último.” [2]

 

A posição de Kant

“O campo da Filosofia nesta acepção cosmopolita pode reconduzir-se às seguintes questões:

1) O que posso saber? (Was kann ich wissen?)

2) O que devo fazer? (Was soll ich tun?)

3) O que me é lícito esperar? (Was darf ich hoffen?)

 4) O que é o Homem? (Was ist der Mensch?)

 

À primeira pergunta responde a Metafísica, à segunda a Moral, à terceira a Religião e à quarta a Antropologia.

No fundo, poder-se-ia contar tudo isto como Antropologia, uma vez que as três primeiras questões se referem à última." (Kant, Logik, A 25).

 

 

 

 

 […] “Contudo, a todas as tentativas de alcançar uma tal ciência bem fundamentada opõem‑se consideráveis dificuldades que pertencem à própria natureza humana:

1. O homem que nota que o observam e o tentam examinar parecerá em­­­­ba­raçado (in­­­como­dado) e, nesse caso, não pode mostrar‑se tal como é; ou então dis­simula‑se, e com isso não quer ser conhecido tal como é.

2. Mas se quiser examinar‑se a si mesmo, sobretudo no que diz respeito ao seu es­­tado em situação de afecção, chega a uma situação crítica que habitualmente não per­­mite nenhuma dis­simu­lação, a saber: quando os móbiles estão em acção, ele não se ob­serva, e quando se observa, os móbi­les são neutralizados.

3. Quando são duradouras, as circunstâncias de lugar e de tempo provocam há­bi­tos, que, como se costuma dizer, são uma segunda natureza e dificultam o juízo do ho­mem sobre si mesmo, sobre o que deve pensar de si, mas mais ainda sobre o conceito que deve fazer de um outro homem com quem está em re­lação; com efeito, a alteração da situação em que o homem está colocado pelo seu destino ou que ele, como aven­tu­reiro, também coloca a si mesmo, torna muito difícil à Antropo­logia elevar‑se ao estatuto de uma ciência estrita.

Por fim, existem sem dúvida, não fontes, mas meios auxiliares para a An­tro­po­logia: história universal, biografias, e mesmo peças de teatro e romances. Pois, se bem que aos últimos não subjaza propriamente experiência e verdade, mas apenas seja per­miti­do apresentar aqui efabulação e exagero dos caracteres e situações em que os ho­mens são colocados, à semelhança de imagens oníricas, e portanto pareçam não trazer nada para o conhecimento do homem, aqueles caracteres, tal como fo­ram es­­bo­çados por um Richardson ou um Molière, tiveram de ser extraídos nos seus traços fun­da­mentais da observação do que o homem realmente faz e deixa fazer; porque se é certo que em grau ex­­cedem a natureza humana, na qualidade porém têm de ser coincidentes com ela.

Uma Antropologia em abordagem pragmática, siste­ma­ticamente esboçada e no en­­tanto po­pular (com recurso a exemplos que cada leitor pode além disso des­cobrir), traz consigo uma vanta­gem para o público leitor: graças à exaustividade das rubricas sob as quais pode ser colocada a ob­servação de tal ou tal propriedade humana retirada da prá­tica, ofe­re­ce‑se ao leitor a oportunidade e o desafio de fazer de cada uma delas um tema pr­óprio e de a colocar na secção a que pertence; assim, nesta An­tropologia, os trabalhos re­­partir‑se‑ão por si mesmos entre os amadores deste estudo e serão reunidos num todo exac­tamente pela unidade do plano; deste modo, o desen­volvimento desta ciên­cia de in­te­res­se geral será favorecido e acelerado.”[3]

 

 

Algumas posições de pensadores do século XX

 

“toda a asserção sobre o homem implica sempre uma afirmação sobre si mesmo, o que significa uma afirmação deste homem na sua situação. Toda a vida humana seria, por isso, hermenêutica em si mesma.” [4]

 

 

"A visão do homem (Mensch-Anschauung) reflecte-se involuntária e voluntariamente em tudo o que pensamos, fazemos e produzimos. Todos os domínios culturais de um povo e de uma época contêm uma auto-com­preen­são humana não expressa e multi-fragmentada, uma ´antropologia implícita’, como se poderia dizer, e têm nela um dos aspectos de­ter­minantes da sua configuração. Cada filosofia deixa-se circunscrever em uma antropologia."[5]

 

 

 “Não há problema filosófico cuja solução reclame o nosso tempo com mais peculiar premência do que o problema de uma antropologia filosófica.” Pela qual entendo “uma ciência fundamental da essência e da estrutura essencial do homem”, compreendendo: a relação com os reinos da natureza; da sua origem metafísica e do seu início físico no mundo; das forças e poderes que movem o homem e o homem move; das direcções e leis fundamentais da sua evolução (biológica, psíquica, histórico-espiritual e social; das suas possibilidades e das suas realidades. Este ambicioso projecto forneceria “um fundamento filosófico último” que daria um rumo às investigações científicas dispersas sobre o objecto “homem”. Ora, a falta de uma perspectiva unitária não decorre somente de uma dispersão epistemológica … . Ela marca, pela primeira vez na História, uma total falta de consciência de si, de saber de si.

[…]

“Ao cabo de uns dez mil anos de “História”, a nossa época é a primeira em que o homem se tornou plena, inteiramente ‘problemático’; já não sabe o que é, mas sabe que não o sabe.”[6]

 

 

 

 

Noções de metodologia: as referências bibliográficas

 

 

Referência bibliográfica de uma obra com um só autor:

 

Pelo sistema autor/ título

 

Leonel Ribeiro dos Santos, Linguagem, Retórica e Filosofia no Renascimento, Lisboa: Edições Colibri, 2004.

 

Júlio Fragata, Noções de Metodologia para a Elaboração de um Trabalho Científico, Porto: Livraria Tavares Martins, 1973.

 

Pelo sistema autor/ data / título

Leonel Ribeiro dos Santos, 2004, Linguagem, Retórica e Filosofia no Renascimento, Lisboa: Edições Colibri.

José H. Silveira de Brito (2001), Introdução à Metodologia do Trabalho Cien­tí­fico, Braga, Uni­versidade Católica de Braga.

 

 

Referência bibliográfica de uma obra com dois autores:

 

M. Ribeiro Sanches e A. Veríssimo Serrão, A Invenção do “Homem”. Raça, Cul­tura e História na Alemanha do século XVIII, Lisboa: Centro de Filosofia da Uni­ver­­sidade de Lisboa, 2002.

 

Referência bibliográfica de uma obra com editor, director ou organizador:

Pedro Calafate (dir.), História do pen­sa­men­to filo­­sófico português; vol. II. Re­nas­­ci­mento e Con­tra‑Re­forma, Lisboa: Caminho, 2001.

 

Referência bibliográfica de uma obra com vários editores, directores ou organizadores:

Ensinar Filosofia? O que dizem os filósofos, coord. M. José Vaz Pinto e M. Luísa Ribeiro Ferreira, Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2013.

ou:

M. José Vaz Pinto e M. Luísa Ribeiro Ferreira (coords.), Ensinar Filosofia? O que dizem os filósofos, Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2013.

 

Ensinar e Aprender Filosofia num mundo em Rede, coord. M. Luísa Ribeiro Ferreira, Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2013.

ou:

M. Luísa Ribeiro Ferreira (coord.), Ensinar e Aprender Filosofia num mundo em Rede, Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2013.

 

[org.= organizador; ed.= editor: dir.= direcção de…]

 

Referência bibliográfica de uma obra com vários autores:

AA. VV., História del Mundo Contemporáneo, Madrid: Anaya, 1979.

 

[AA. VV.= au­­tores vários]

 

Referência de um artigo de uma Antologia (ou capítulo de um livro):

Pierre-Jean Labarrière, "Textos sobre texto ou como silen­ciá-lo?" em [in]: Texto, Leitura e Escrita. Antologia, coord. de Irene Borges Duarte et alii [et al.] (org.), Por­to: Porto Edi­tora, 2000, pp.185-192.

 [em = in]

[et al.] = e outros

Referência de um artigo de revista:

Cristina Beckert, "A estética do invisível na natureza", Philosophica, Lisboa, n.º 29 (2007), 7-17.

 

Pedro Alves, "A ideia de uma filosofia primeira na Fenomenologia de Edmund Hus­serl", Phi­losophica, 7 (1996), pp. 3-37.

 

ou: Pedro Alves, "A ideia de uma filosofia primeira na Fenomenologia de Edmund Hus­serl", Phi­losophica, 7 (1996), 3-37.

 

ou: Pedro Alves, "A ideia de uma filosofia pri­meira na Fenomenologia de Ed­mund Husserl", Phi­losophica, Lisboa,  Revista do Departamento de Fi­lo­so­fia, Fa­culdade de Le­tras da Uni­­versidade de Lisboa, 7 (1996), pp. 3-37.

 

Referência de uma tradução:

I. Kant, Crítica da Razão Pura, trad. port. de Manuela Pinto Ribeiro e Alexandre Fra­di­que Mo­rujão. Introdução e notas de Alexandre Fradique Morujão, Lisboa: Fun­dação Calouste Gul­ben­kian, 3.ª edição, 1994.

 

ou:

Kant, Kritik der reinen Vernunft / Crítica da Razão Pura /, trad. do alemão de M. Pinto Ribeiro e A.Fradique Mo­rujão. In­tro­du­ção e notas de A. Fra­dique Morujão, Lisboa: Fundação Ca­louste Gul­benkian, 3.ª edição, 1994.

 

Ou: .... 31994.

 

Umberto Eco, Como se faz uma tese em Ciências Humanas, trad. De …….. de  Come si fà una tesi di laurea, Lisboa: Editorial Presença,1980.

ou:

Umberto Eco, Como se faz uma tese em Ciências Humanas, Lisboa: Editorial Presença,1980.

 

Referência de uma entrada de dicionário ou enciclopédia:

A. Coxito, "Cartesianismo em Portugal" em [in]: Logos. Enciclopédia Luso-Bra­si­lei­ra de Fi­lo­so­fia, Lisboa-São Paulo, Ed. Verbo, vol. 1, 1989, cols. 849-857.

[col. = coluna; cols. = colunas]

 

 

 

 

 

 

 


[1] Jean-Jacques Rousseau, Dis­curso sobre a de­si­gualdade, 1755; Discours sur l'origine et les fondements de l'inégalité parmi les hommes; Oeuvres Complètes, Paris: Seuil, 1971, vol. 2, p. 208.

 

[2] Kant, Antropologia numa Abordagem Pragmática, publicada em 1798, “Prefácio”, trad. port. de Adriana Veríssimo Serrão, in A Invenção do “Homem”. Raça, Cultura e História na Alemanha do século XVIII, Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2002, pp. 50-52.

 

[3] Kant, Antropologia numa Abordagem Pragmática, publicada em 1798, “Prefácio”, trad. port. de Adriana Veríssimo Serrão, in A Invenção do “Homem”. Raça, Cultura e História na Alemanha do século XVIII, Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2002, pp. 50-52.

 

[4] Wilhelm Dilthey, Gesammelte Schriften,  vol. 7, 4ª ed. 1965, p. 279.

 

[5] Michael Landmann, De Homine, Der Mensch im Spiegel seines Gedankens, Problemgeschichte der Wissenschaft in Dokumenten und Darstellungen, Freiburg / München: Orbis Academicus, 1962, pp. XI-XII.

 

[6] Max Scheler, “Mensch und Geschichte”, Die Neue Rundschau, Berlin 37 (1926); Gesammelte Werke. Späte Schriften, Bern und München: Francke Verlag, 1976, Bd.9, 120-144; trad. espanhola in El porvenir del Hombre, La Idea del Hombre y la Historia (pp.19-52), El puesto del Hombre en el Cosmos, Buenos Aires / México: Espasa-Calpe, 1942.

 

 


A filosofia e as suas questões

24 Outubro 2018, 17:00 Maria Leonor Lamas de Oliveira Xavier

Aula nº6 - 24/ 10/ 18 

A filosofia e as suas questões. A formulação kantiana: 1. Que posso saber? – 2. Que devo fazer? – 3. Que me é permitido esperar? Exemplificação de um projecto de trabalho escrito, com base nos quatro textos citados na colecção de textos de uso lectivo, sobre as principais questões da filosofia, segundo Kant.

Exercícios de apresentação oral de temas filosóficos com base em textos de uso lectivo: Ana Rita Pacheco, Rodrigo Pina, Rúben Chama.

Próximos exercícios de apresentação oral: - aula nº7, 31/10, Daniel Afonso, João Tavares, João Amaral; - aula nº8, 7/11, Cristiana Miranda, Filipa Marques, Francisca Vaz Guedes; - aula nº9, 14/11, Isadora Pinheiro, Helder Cruz, Gonçalo Pinho; - aula nº10, 21/11, Clara Forte, Beatriz Freitas, Sofia Estudante; - aula nº11, 28/11, Margarida Nunes, Ana Lúcia Dionísio, Diogo Vítor, Francisca Matos.


Exercício 1: A explicação de texto tem por base os textos de Kant, Epicuro e Nietzsche distribuídos

19 Outubro 2018, 10:00 Adriana Veríssimo Serrão

TEXTOS PARA A PRÓXIMA AULA

Algumas posições sobre Antropologia Filosófica

 

A necessidade de um saber sobre o Homem

“O mais útil e o me­nos avan­çado de todos os co­­­nhe­ci­mentos humanos parece-me ser o do homem”. [1]

 

 “Todos os progressos na cultura, mediante os quais o homem faz a sua formação es­colar, têm o propósito de usar esses conhecimentos soltos [Kenntnisse] e aptidões adquiridos para o uso do mundo, mas, neste mundo, o objecto mais im­portante a que ele os pode apli­car é o homem, pois ele é o seu próprio fim último.” [2]

 

A posição de Kant

“O campo da Filosofia nesta acepção cosmopolita pode reconduzir-se às seguintes questões:

1) O que posso saber? (Was kann ich wissen?)

2) O que devo fazer? (Was soll ich tun?)

3) O que me é lícito esperar? (Was darf ich hoffen?)

 4) O que é o Homem? (Was ist der Mensch?)

 

À primeira pergunta responde a Metafísica, à segunda a Moral, à terceira a Religião e à quarta a Antropologia.

No fundo, poder-se-ia contar tudo isto como Antropologia, uma vez que as três primeiras questões se referem à última." (Kant, Logik, A 25).

 

 

 

 […] “Contudo, a todas as tentativas de alcançar uma tal ciência bem fundamentada opõem‑se consideráveis dificuldades que pertencem à própria natureza humana:

1. O homem que nota que o observam e o tentam examinar parecerá em­­­­ba­raçado (in­­­como­dado) e, nesse caso, não pode mostrar‑se tal como é; ou então dis­simula‑se, e com isso não quer ser conhecido tal como é.

2. Mas se quiser examinar‑se a si mesmo, sobretudo no que diz respeito ao seu es­­tado em situação de afecção, chega a uma situação crítica que habitualmente não per­­mite nenhuma dis­simu­lação, a saber: quando os móbiles estão em acção, ele não se ob­serva, e quando se observa, os móbi­les são neutralizados.

3. Quando são duradouras, as circunstâncias de lugar e de tempo provocam há­bi­tos, que, como se costuma dizer, são uma segunda natureza e dificultam o juízo do ho­mem sobre si mesmo, sobre o que deve pensar de si, mas mais ainda sobre o conceito que deve fazer de um outro homem com quem está em re­lação; com efeito, a alteração da situação em que o homem está colocado pelo seu destino ou que ele, como aven­tu­reiro, também coloca a si mesmo, torna muito difícil à Antropo­logia elevar‑se ao estatuto de uma ciência estrita.

Por fim, existem sem dúvida, não fontes, mas meios auxiliares para a An­tro­po­logia: história universal, biografias, e mesmo peças de teatro e romances. Pois, se bem que aos últimos não subjaza propriamente experiência e verdade, mas apenas seja per­miti­do apresentar aqui efabulação e exagero dos caracteres e situações em que os ho­mens são colocados, à semelhança de imagens oníricas, e portanto pareçam não trazer nada para o conhecimento do homem, aqueles caracteres, tal como fo­ram es­­bo­çados por um Richardson ou um Molière, tiveram de ser extraídos nos seus traços fun­da­mentais da observação do que o homem realmente faz e deixa fazer; porque se é certo que em grau ex­­cedem a natureza humana, na qualidade porém têm de ser coincidentes com ela.

Uma Antropologia em abordagem pragmática, siste­ma­ticamente esboçada e no en­­tanto po­pular (com recurso a exemplos que cada leitor pode além disso des­cobrir), traz consigo uma vanta­gem para o público leitor: graças à exaustividade das rubricas sob as quais pode ser colocada a ob­servação de tal ou tal propriedade humana retirada da prá­tica, ofe­re­ce‑se ao leitor a oportunidade e o desafio de fazer de cada uma delas um tema pr­óprio e de a colocar na secção a que pertence; assim, nesta An­tropologia, os trabalhos re­­partir‑se‑ão por si mesmos entre os amadores deste estudo e serão reunidos num todo exac­tamente pela unidade do plano; deste modo, o desen­volvimento desta ciên­cia de in­te­res­se geral será favorecido e acelerado.”[3]

 

 

Algumas posições de pensadores do século XX

 

“toda a asserção sobre o homem implica sempre uma afirmação sobre si mesmo, o que significa uma afirmação deste homem na sua situação. Toda a vida humana seria, por isso, hermenêutica em si mesma.” [4]

 

 

"A visão do homem (Mensch-Anschauung) reflecte-se involuntária e voluntariamente em tudo o que pensamos, fazemos e produzimos. Todos os domínios culturais de um povo e de uma época contêm uma auto-com­preen­são humana não expressa e multi-fragmentada, uma ´antropologia implícita’, como se poderia dizer, e têm nela um dos aspectos de­ter­minantes da sua configuração. Cada filosofia deixa-se circunscrever em uma antropologia."[5]

 

 

 “Não há problema filosófico cuja solução reclame o nosso tempo com mais peculiar premência do que o problema de uma antropologia filosófica.” Pela qual entende “uma ciência fundamental da essência e da estrutura essencial do homem”, compreendendo: a relação com os reinos da natureza; da sua origem metafísica e do seu início físico no mundo; das forças e poderes que movem o homem e o homem move; das direcções e leis fundamentais da sua evolução (biológica, psíquica, histórico-espiritual e social; das suas possibilidades e das suas realidades. Este ambicioso projecto forneceria “um fundamento filosófico último” que daria um rumo às investigações científicas dispersas sobre o objecto “homem”. Ora, a falta de uma perspectiva unitária não decorre somente de uma dispersão epistemológica … . Ela marca, pela primeira vez na História, uma total falta de consciência de si, de saber de si.

“Ao cabo de uns dez mil anos de “História”, a nossa época é a primeira em que o homem se tornou plena, inteiramente ‘problemático’; já não sabe o que é, mas sabe que não o sabe.”[6]

 

 

 


[1] Jean-Jacques Rousseau, Dis­curso sobre a de­si­gualdade, 1755; Discours sur l'origine et les fondements de l'inégalité parmi les hommes; Oeuvres Complètes, Paris: Seuil, 1971, vol. 2, p. 208.

 

[2] Kant, Antropologia numa Abordagem Pragmática, publicada em 1798, “Prefácio”, trad. port. de Adriana Veríssimo Serrão, in A Invenção do “Homem”. Raça, Cultura e História na Alemanha do século XVIII, Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2002, pp. 50-52.

 

[3] Kant, Antropologia numa Abordagem Pragmática, publicada em 1798, “Prefácio”, trad. port. de Adriana Veríssimo Serrão, in A Invenção do “Homem”. Raça, Cultura e História na Alemanha do século XVIII, Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2002, pp. 50-52.

 

[4] Wilhelm Dilthey, Gesammelte Schriften 7, 4ª ed. 1965, p. 279.

 

[5] Michael Landmann, De Homine, Der Mensch im Spiegel seines Gedankens, Problemgeschichte der Wissenschaft in Dokumenten und Darstellungen, Freiburg / München: Orbis Academicus, 1962, pp. XI-XII.

 

[6] Max Scheler, “Mensch und Geschichte”, Die Neue Rundschau, Berlin 37 (1926); Gesammelte Werke. Späte Schriften, Bern und München: Francke Verlag, 1976, Bd.9, 120-144; trad. espanhola in El porvenir del Hombre, La Idea del Hombre y la Historia (pp.19-52), El puesto del Hombre en el Cosmos, Buenos Aires / México: Espasa-Calpe, 1942.

 

 


A filosofia e as suas questões

17 Outubro 2018, 17:00 Maria Leonor Lamas de Oliveira Xavier

Aula nº5 - 17/ 10/ 18

A filosofia e as suas questões: a questão dos princípios do saber.

Exercícios de apresentação oral de temas filosóficos com base em textos de uso lectivo: Bárbara Barra, Maria Santos.

Próximos exercícios de apresentação oral: - aula nº6, 24/10, Rúben Chama, Ana Rita, Rodrigo Pina; - aula nº7, 31/10, Daniel Afonso, Sofia Estudante, Ana Lúcia; - aula nº8, 7/11, Cristiana Miranda, Filipa Marques, Francisca Vaz Guedes; - aula nº9, 14/11, Isadora Pinheiro, Helder Cruz, Gonçalo Pinho; - aula nº10, 21/11, Clara Forte.