Sumários
Alexander Korda e a expansão do Cinema Inglês no mercado internacional, na década de 1930 e nos princípios dos anos de 1940
8 Outubro 2015, 16:00 • Mário Jorge Torres Silva
As hipóteses de uma produção industrial de um cinema capaz de rivalizar nos mercados internacionais com Hollywood. Os irmãos Korda e a emigração de realizadores, técnicos e actores para a Grã-Bretanha, fugidos às perseguições da Alemanha de Hitler e à sua política de expansão continental. As produções Korda e a sua política de prestígio e de reconstituição histórica.
Início do visionamento comentado de The Thief of Bagdad (Michael Powell, Ludwig Berger, Tim Whelan, Zoltan Korda, 1940): a importância do imaginário das Mil e Uma Noites; as transgressões visuais de uma fotografia em cores contrastadas e exuberantes; a credibilidade de um exotismo concebido à medida do Império; o triunfo da imaginação pictórica sobre a verosimilhança histórica; as múltiplas contribuições para o produto final, caucionadas por assinaturas diversas de realizadores que foram acrescentando mais-valias ao objecto; o lado autorreflexivo do filme, interrogando não apenas as coordenadas narrativas, mas também os modos de filmar e de representar o olhar do espectador virtual na película
"The Lady Vanishes" (Alfred Hitchcock, 1938) - os géneros, o "macguffin" e as premonições da guerra
6 Outubro 2015, 16:00 • Mário Jorge Torres Silva
As hipóteses do thriller como metagénero, a sua relação com o lado vago, não politicamente explícito da ficção hitchcokiana e, apesar de tudo, os reflexos da crise precipitada pelos medos de uma Segunda Guerra Mundial numa ficção abstracta, mas trazendo à liça rimas com ameaças exteriores de conspirações e espionagens numa Europa Central que nunca se determina, ou seja as possíveis contradições internas do McGuffin.
Conclusão do visionamento comentado de The Lady Vanishes (Alfred Hitchcock, 1938): a concepção complexa do espaço fechado do comboio; os jogos de convivência e de confronto em espaços cada vez mais claustrofóbicos, entre as carruagens, os corredores, os compartimentos e o vagão restaurante; as conversas codificadas entre Iris e Miss Froy em torno de uma marca de chá, afectadas pelos ruídos próprios do comboio, provocando desentendimentos e obrigando a uma escrita no vapor deixado nos vidros exteriores; a acumulação de pistas de que o espectador se não apercebe desde o início.
O Hitchcock inglês e as estratégias da comédia para complexificar o "thriller"
1 Outubro 2015, 16:00 • Mário Jorge Torres Silva
Breve introdução à obra cinematográfica de Alfred Hitchcock no período inicial na Grã-Bretanha, entre as experiências do mudo, com influências do Expressionismo Alemão, e os grandes thrillers executados na década de 30: a criação de estilo expectável, condicionando a recepção dos espectadores, com sublinhado nas técnicas do suspense; para uma compreensão da estratégia da autorrepresentação, a partir de The Lodger (1927), no início por razões basicamente económicas de suprir figurantes; a progressão dos cameos do mestre, cada vez mais indispensáveis e colocados perto do início do filme, a fim de não distrair a atenção do espectador; o pretexto ou o McGuffin como modo de complexificar a relação entre a audiência e o filme - o lado artificial desse contexto pretextual e o jogo forçosamente criado pelo seu progressivo virtuosismo.
Início do visionamento comentado de The Lady Vanishes (Alfred Hitchcock, 1938): a possibilidade da divisão do filme em três partes (segundo alguma crítica, actos, como se de uma peça de teatro de tratasse); o início da narrativa (quase meia hora) num registo que desafia as expectativas geradas pelos thrillers hitchcockianos - o de uma comédia, quase uma comédia screwball, em se ilude a construção de um mistério; a banda sonora e os silêncios - a importância em filigrana, desde o início, da música, tantos nas melodias pseudo-folclóricas, como na função das danças, uma espécie de trompe l'oeil que se vai desfazendo à medida que as ameaças se adensam; a primeira evidência do estilo Hitchcock no plano em que o cantor de rua é assassinado; o uso de uma babel linguística num local não determinado, escondido sob um nome ficcional, Brandyka; a apresentação das personagens principais feita paulatinamente, ao abrigo dos estereótipos próprios da visão do inglês típico no estrangeiro, desde a velhinha aparentemente inofensiva até ao par de fanáticos do cricket, passando pelo conspícuo casal adulterino, tudo construído em pinceladas largas; o ataque à velha Miss Froy, com a queda do pesado vaso de flores, imediatamente antes do início do segundo acto, inteiramente organizado no microcosmos de um comboio que atravessa paisagens previamente filmadas e projectadas em back projection; as evidências da falta de recursos de produção na découpage das sequências ambientadas no interior do comboio.
First a Girl (Victor Saville, 1935) e a tradição do musical britânico
29 Setembro 2015, 16:00 • Mário Jorge Torres Silva
Conclusão do visionamento comentado de First a Girl (Victor Saville, 1935): o modo como a emigração de técnicos e actores da Alemanha nazi influi na configuração do filme, pela relação oblíqua com o musical germânico; Shakespeare em filigrana na deposição ideológica detectável nos diálogos do filme - as múltiplas citações do bardo de Stratford a pontuarem as mudanças essenciais de registo da personagem de Victor; a "comédia de enganos" na raiz da construção do enredo do filme; a função da elipse na narrativa enquanto marca de uma economia fulcral de um filme parcimonioso; os limites dos modos de produção de um cinema com poucos meios, como o cinema inglês; Victor Saville, o administrador de um projecto concebido para um fenómeno de popularidade como Jessie Matthews, sobretudo depois do enorme sucesso internacional de Evergreen (Saville, 1934); o quarteto amoroso e as suas mudanças na lógica "sexual" do filme; as alusões de homossexualidade e a sua complexificação de modo a favorecer a recomposição dos pares; os elementos burlescos do número musical de Sonnie Hale, no final; a função complexa do papel da princesa Mironoff no jogo de afectos que a película encena; o escapismo particular de uma ficção musical num período muito complicado da História da Europa, na eminência de uma Guerra com a Alemanha nazi.
Visões sobre o Cinema Musical Inglês dos anos 30
24 Setembro 2015, 16:00 • Mário Jorge Torres Silva
O cinema musical como estratégia de escape às complexas condições sociais e económicas na década de 1930, na ressaca da queda bolsista em 1929, nos Estados Unidos: possíveis reflexos no cinema inglês; especificidades do mercado britânico; breves indícios de um contraponto estético e político, presente no surgimento de uma escola de documentarismo, da qual se destaca, historicamente, o nome do cineasta John Grierson.
A inscrição do primeiro filme a estudar, First a Girl, numa tradição do remake, uma vez que se trata de uma segunda versão de um original alemão, Viktor und Viktoria (Reinhold Schunzel, 1933), com a estrela germânica Renate Muller, tendo conhecido outras versões posteriores, nomeadamente a americana que foi protagonizada por Julie Andrews, Victor and Victoria (Blake Edwards, 1982), em que as questões de género e de opção sexual aparecem mais claramente representadas. Visionamento comentado de um excerto de um número musical do original alemão, salientando a importância do cabaret berlinense na sua configuração, bem como a influência decisiva em ambos (de modos diferentes) do musical americano e do estilo Busby Berkeley com os seus caleidoscópios humanos. Visionamento complementar de um número de Palmy Days (Edward Sutherland e Busby Berkeley, 1931), a fim de verificar as origens da imaginação coreográfica.
Início do visionamento comentado de First a Girl (Victor Saville, 1935): a especificidade da indústria cinematográfica inglesa no modo como integra cenários e guarda-roupa numa produção que emula o musical da Warner Bros de forma muito mais discreta e económica; o estrelato indiscutível de Jessie Matthews e a sua relativamente pouca predisposição para funcionar em travesti, até pela sua voz de soprano ligeiro (com um timbre muito semelhante ao de Julie Andrews), sem as cambiantes graves de Renate Muller; a diferença de tradição entre o transformer do teatro inglês e o travesti do cabaret alemão; os problemas morais da mudança de sexo, contornados pela comédia e pelo recurso às constantes citações shakespeareanas; o music-hall vitoriano, com a sua dimensão ecléctica, em que a vertente circense avulta, criando as raízes britânicas para o primeiro número de Victoria, com a intrusão de animais e quedas burlescas em palco.