Sumários
Constituição Material (3)
17 Outubro 2024, 11:00 • Ricardo Santos
O paradoxo da constituição material
(continuação). Quarta opção: aceitar a Coabitação, adoptando o
tetradimensionalismo. Além de se estenderem no espaço (e terem partes
espaciais), os objectos materiais estendem-se também no tempo (e têm partes
temporais). Cada parte espacial existe num só lugar e cada parte temporal
existe num só momento. O objecto no seu todo consiste em todas as suas partes
juntas, espaciais e temporais. A estátua e o pedaço de barro são dois objectos
diferentes, mas um faz parte do outro: todas as partes da estátua são partes do
pedaço de barro, mas não inversamente. Por isso, o princípio de que é
impossível as mesmas partes formarem dois todos diferentes não é violado.
Consegue também explicar-se porque é que a destruição da estátua não destrói o
pedaço de barro (ainda que sejam feitos da mesma matéria), sem ter de invocar
nenhuma ‘maior fragilidade’ (?) daquela. Objecção: o tetradimensionalismo nega
a realidade da mudança.
Constituição Material (2)
16 Outubro 2024, 11:00 • Ricardo Santos
O paradoxo da constituição material
(continuação). Terceira opção: niilismo. Não há estátuas nem pedaços de barro,
mas somente partículas elementares sem partes menores. Se a Física actual
estiver certa, só há electrões e quarks. Quando uma pluralidade de partículas
compõem um todo, o todo não é uma entidade adicional, além das partículas.
Existem apenas as partículas. Estátuas e outros objectos macroscópicos do mesmo
género (mesas e cadeiras, paus e pedras) são causalmente redundantes, quer
dizer, não têm poderes causais próprios, diferentes daqueles que lhes são
conferidos pelas partículas subatómicas que os constituem. O ‘princípio
eleático’: só devemos aceitar a existência de entidades que tenham poderes
causais próprios. O niilismo não pode ser refutado por simples observação. Mas
podemos lançar dúvidas sobre o niilismo se considerarmos que é possível que não
haja partículas indivisíveis.
Constituição Material (1)
14 Outubro 2024, 11:00 • Ricardo Santos
O paradoxo da constituição
material: duas premissas extremamente plausíveis (Criação: a escultora cria a
estátua; Sobrevivência: a escultora não destrói o pedaço de barro) implicam uma
conclusão chocante (Coabitação: há dois objectos no mesmo lugar). Porque é que
o pedaço de barro e a estátua são dois objectos diferentes. Primeira opção:
negar a Criação. A escultora não cria matéria nova, apenas dá nova forma a
matéria pré-existente. Os únicos objectos existentes são pedaços (porções,
quantidades) de matéria. Um objecto material é definido pela matéria de que é
feito. Essencialismo mereológico: todas as partes de um objecto material lhe
pertencem essencialmente (inspirado em Heraclito, é solução radical para o
problema do barco de Teseu). Consequência indesejável: quando um carro é
esmagado, desmontado e vendido para peças não deixa de existir; Sócrates ainda
hoje existe; cada um de nós já existia no tempo de Sócrates. Segunda opção: negar
a Sobrevivência. O pedaço de barro cessa de existir e dá lugar à estátua.
Teoria da substituição. Um objecto é feito de certas partículas de matéria.
Consoante o modo como um grupo de partículas está disposto, estas constituirão
um objecto de determinada categoria. As partículas só podem constituir um objecto
de cada vez. Vantagem: as estátuas deixam de existir quando são esmagadas, os
cubos de gelo quando derretem, as pessoas quando morrem. Consequências
indesejáveis: a resposta a “Que coisas existem?” carece de objectividade, dado
que sujeitos com esquemas conceptuais diferentes classificam a realidade de
maneiras diferentes. Terráqueos e marcianos; os conceitos de pedacex e pedacin.
Que objecto tenho na mão: uma estátua ou um pedacin? As respostas não podem ser
ambas correctas, pois só há um objecto em cada lugar. A escolha da categoria
estátua é suspeita de antropocentrismo.
Factos ou Estados de Coisas
10 Outubro 2024, 11:00 • Ricardo Santos
A noção metafísica de facto (ou estado de coisas). O
mundo como totalidade dos factos, não das coisas (Wittgenstein, Russell). Os
elementos constituintes de um facto: objectos, propriedades, relações. O
problema da unidade de um facto; a razão porque a exemplificação não pode ser
uma relação. Os factos como ‘fazedores-de-verdade’ (truthmakers). Análise da relação de ‘tornar verdadeiro’ (truthmaking) em termos de necessitação
(necessariamente, se X existe, então Y é verdadeira). Problemas das verdades
negativas e das verdades necessárias. O argumento da catapulta (slingshot).
Acontecimentos e Acções (2)
9 Outubro 2024, 11:00 • Ricardo Santos
A teoria de Davidson: quantificação
sobre acontecimentos; os acontecimentos (de que as acções são uma espécie) são
entidades particulares, localizadas, datadas e irrepetíveis. Acontecimentos
como causas e efeitos. A individuação dos acontecimentos pelas suas causas e
efeitos seria circular. A sua individuação como ocupantes de uma região do
espaço-tempo reduz os acontecimentos a objectos físicos, e enfrenta
contra-exemplos. A proposta alternativa de Kim: acontecimentos são
exemplificações de propriedades por objectos num tempo (ou seja, estados de
coisas). Avaliação da proposta: individuação demasiado fina?
Acontecimentos e acções: a
intencionalidade como traço distintivo. As acções intencionais não são um
subconjunto próprio das acções. Se um acontecimento é uma acção, então há pelo
menos uma descrição sob a qual é verdade que alguém a fez intencionalmente.