Sumários

Progressos e amadurecimento de ideias

10 Maio 2019, 14:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

 

MAIO                                    6ª FEIRA                               15ª AULA                             

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Saída de Campo não anunciada em aula mas aproveitada pela aluna Rita Miranda. Exposição Cérebro – Mais vasto que o céu, Fundação Calouste Gulbenkian, 3 de Maio, pelas 18:30.

 

Reunimos pela última vez em espaço de seminário para escutarmos relato de cada um dos alunos sobre o avanço das suas investigações e preparação do relatório final.

Não esteve presente Sajjad Yarifiroozabadi por entretanto já ter regressado ao Irão. Os restantes alunos tiveram uma participação eficaz e demonstraram entusiasmo ao expressarem as alterações por que optaram em relação aos seus estudos de doutoramento, ao longo do semestre, e que tornaram mais exequíveis as propostas de trabalho que actualmente executam.

Verificámos que nem sempre foi possível que todos os doutorandos se inteirassem dos assuntos e temas em estudo a cargo de cada um dos alunos e que constituíam material de trabalho das sessões de seminários. As propostas de leitura de capítulos de obras do interesse dos próprios, exposições-ensaio dedicadas ao assunto escolhido para a dissertação de doutoramento, materiais vários como vídeos, diapositivos em série, como por exemplo power points despertaram muitas vezes curiosidade nos observadores-participantes que até interrogaram o respectivo apresentador com perguntas pertinentes.

Aceitemos que o esforço geral pode não ter sido optimizado. Uma pergunta, porém, se nos coloca: com que verdadeira qualidade podemos contribuir para um trabalho sério que nasce de seis distintas áreas de trabalho? E elas foram: da dramaturgia contemporânea portuguesa do séc. XXI, ao teatro político na cidade de Lisboa (e de São Paulo) entre 2017 e 2019, às companhias portuguesas de teatro que aportaram à cidade de São Luís do Maranhão no séc. XIX, ao corpo como espaço de censura e sua singularidade na performance, à dança ritualística e religiosa conhecida como Ta’ziyeh no Irão, ao performer-astronauta em deriva no globo terráquio.

Poderíamos ter tido um leque de propostas menos diversa. Teria sido mais fácil o diálogo entre nós. Não foi isso que aconteceu e talvez nos tenhamos enriquecido com aquilo com que deparámos e que nos solicitou quase sempre trabalho sério mesmo sem as melhores condições.

 

São agora aguardados os relatórios finais (até 15 de Maio), prevendo-se o lançamento de notas (Portal Fenix) até 31 de Maio. Nesse dia haverá uma breve reunião com os alunos (pelas 13 horas no espaço ao ar livre junto ao restaurante de entrada do EC da FLUL) em jeito de balanço da nossa actividade semestral.

 

Aulas previstas em Maio – 2

Aulas dadas em Maio – 2

 Saída cá dentro - 0

Saída cultural – 1

 

Total de aulas previstas entre Fevereiro e Maio -15

Total de aulas dadas entre Fevereiro e Maio - 15

Saídas culturais - 4

Saídas cá dentro - 0

 

FIM DO SEGUNDO SEMESTRE


Edward Gordon Craig e a supermarioneta - palestra do Prof. Didier Plassard

3 Maio 2019, 14:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

                                      6ª FEIRA                               14ª AULA                    

 

3

Propus às alunas Fabiana Mercadante, Isabel Menezes e ao aluno Andrés Jurado, presentes na passada aula deste seminário, que nos deslocássemos hoje para a sala 1.26 para assistirmos à palestra do Prof. Didier Plassard, da universidade Paul-Valéry Montpellier, sobre Edward Gordon Craig e o significado da Supermarioneta. Esta iniciativa integra o conjunto de acções do PET – no âmbito dos estudos de doutoramento. Juntou-se a nós Marineide Câmara, regressada da sua investigação no Brasil.

Recebemos da Prof. Maria João Brilhante informação a propósito e atempada:

Eis o resumo da intervenção e o CV. Vou assegurar que fará a sua intervenção em inglês. 

L'énigme de la Surmarionnette est l'une des plus discutées de l'histoire du théâtre au 20e siècle. Par ses déclarations contradictoires, Gordon Craig a brouillé les pistes autour de son projet: s'agit-il de l'acteur de l'avenir,  "avec le feu en plus, et l'égoïsme en moins", ou bien d'une marionnette de taille humaine? Par l'examen des sources d'archives aujourd'hui disponible, nous sommes en mesure de reconstituer dans ses détails le projet de Craig. Cette conférence se propose donc de répondre aux questionnements soulevés depuis la parution de l'article "The Actor and the Übermarionette" dans sa revue The Mask, en avril 1908, mais aussi de réfléchir aux relations entre expérimentation pratique et élaboration théorique, ainsi qu'aux méthodes de la recherche scientifique.  

 

Didier Plassard est professeur en études théâtrales à l’université Paul-Valéry Montpellier 3. Il a publié L’Acteur en effigie (L’Age d’Homme, 1992, Prix Georges-Jamati), Les Mains de lumière (Institut International de la Marionnette, 1996, rééd. 2005), des traductions, ainsi qu’une centaine d’articles et de contributions à des ouvrages collectifs. Ses recherches portent sur le théâtre moderne et contemporain (dramaturgie, mise en scène), le théâtre de marionnettes, les nouvelles technologies. Il a dirigé le volume Mises en scène d’Allemagne(s) dans la collection des « Voies de la création théâtrale » (Éditions du CNRS, 2014) et l’édition bilingue du Drama for fools / Théâtre des fous d’Edward Gordon Craig (éditions de l’Entretemps, 2012). Chercheur associé au réseau de théâtres européens Prospero, il a été rédacteur en chef de Prospero European Review  (2010-2013) et codirige depuis 2018, avec Agata Łuksza, le European Journal of Theatre and Performance. Il a reçu la Sirène d’or du Festival Arrivano dal mare !en 2012 et été nommé Chevalier des Arts et des Lettres en 2015.  

A sessão foi curiosa, na medida em que a exposição do Prof. Plassard teve o mérito de abrir aos presentes um percurso de vida artística e pessoal do visado Gordon Craig em vez de se concentrar especificamente no ensaio de sua autoria e para o qual fôramos alertados: O Actor e a Supermarioneta (1907).

Comentado foi o facto de que a ideia de Supermarioneta se torna numa extensão de um discurso crítico da parte de Craig em relação ao trabalho do actor no seu tempo. Segundo Craig, este não revelava qualificação adequada e pureza artística, deixando-se influenciar por estados emocionais que retiravam à representação a dimensão elevada que ela deveria atingir. A arte pura, de acordo com Craig, pressupunha a integração no trabalho do actor da consciência do corpo como matéria a moldar à “imagem de Deus”. Esta referência fez-me recordar o ensaio de Heinrich von Kleist, Sobre o teatro de marionetas (1810), que conferi quase no fim da palestra com o Prof. Plassard, e que terá sido do conhecimento de Gordon Craig. Kleist dá particular atenção à graciosidade como característica intrínseca da sua marioneta: «assim também a graciosidade, depois de, por assim dizer, o conhecimento tiver atravessado o infinito, volta a apresentar-se; e de tal maneira que surge em simultâneo e de modo mais puro naquela estrutura de um corpo humano que ou não possui consciência alguma, ou possui uma consciência infinita, i. e. ou no boneco articulado, ou num deus.» (Kleist, 2009: 143)

O modelo defendido por Craig mantém alguma similitude com o de Kleist na medida em que a materialização do trabalho do actor só adquire consistência como expressão do sagrado, não se sujeitando a qualquer manipulação. A Supermarioneta existe para Craig afastada de quaisquer tipos de funcionalidade exterior, devendo a sua capacidade de concretizar movimento e acção orientar-se por uma energia interior que, exactamente de dentro para fora, molde o seu corpo (o do actor) e o prepare para a representação.

 

Obra citada:

Heinrich von Kleist, Sobre o Teatro de Marionetas e outros escritos, Tradução, apresentação e notas de José Miranda Justo, Lisboa: Antígona, 2009.


A questão da singularidade e da censura do corpo - Trabalho de Fabiana Mercadante

26 Abril 2019, 14:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

 

ABRIL                                   6ª FEIRA                               13ª AULA                             

 

26

 

Fabiana Mercadante regressou do seu programa Erasmus + em Montpellier e foi-lhe concedida uma aula (2:45) para nos elucidar sobre o seu projecto de doutoramento em curso. A aluna enviou aos colegas e a mim diversos materiais que considera importantes para a compreensão do assunto do seu relatório que intitulou: Censored body (in performance) between Latin culture and pluralism. A focus on Italian Culture in a PaR[1] perspective through intermedia artistic experimentation.

Eis os materiais:

- Dr.Rashmi M. Shetkar S-VYASA University, Creative Singularity in Self, Division of Yoga & Humanities, Jan. 2016, pp. 35-37.

- Agha Fahad*, Asad Ali Khan*, Huma Babar*, Midhat Aamir*, Rabbiya Tariq*, Shahbaz Ahmed Alvi*+*Aligarh Institute of Technology, Sir Syed University of Engineering and Technology, Artificial Intelligence and Technological Singularity, 2 páginas, PDF.

- Summary: Artistic Research – Pier Paolo Pasolini, 1 página e um terço.

- AMANDA ESPEZEL, Bachelor of Fine Arts, University of Alberta, 2007, A Support Paper for M.F.A. Thesis Submitted to the School of Graduate Studies of the University of Lethbridge in Partial Fulfillment of the Requirements for the Degree, [MASTER OF FINE ARTS, ART], Department of Art, University of Lethbridge, LETHBRIDGE, ALBERTA, CANADA © Amanda Espezel, 2011, pp. 1-56.

- Fabiana Mercadante, L’histoire réécrite à travers le corps2: la singularité dans la narration historique. Focus sur la condition féminine dans le sud de l'Italie entre les années 1950 et la fin des années 1990, 2019, 8 páginas.

- Fabiana Mercadante, Relatório dos progressos: Censored body (in performance) between Latin culture and pluralism. A focus on Italian Culture in a PaR perspective through intermedia artistic experimentation. Seminário de Orientação II.

Na impossibilidade de nos pôr em contacto com os seus referentes teóricos que iria apresentar em power point, e que não conseguiu por inoperância dos meios tecnológicos á disposição, a aluna optou por fazer uma exposição livre orientada. Apesar de se ter preparado com algum cuidado e de revelar progresso na investigação, Fabiana Mercadante articulou a apresentação com exemplos, aspecto positivo a salientar, mas que por vezes nos fizeram perder o rumo da sua apresentação. Pudemos, no entanto, interrogá-la sobre as nossas dúvidas que a aluna procurou esclarecer.

O assunto de trabalho da Fabiana – Os corpos censurados através da performance - com estudo de caso referenciado no sul de Itália pareceu-nos ser muito pertinente e acreditamos que havendo espaço para uma boa fundamentação teórica integrada e explorada de forma sistemática, ela poderá fornecer à aluna boas pistas de investigação futura. Também não temos dúvida de que a sua estadia em França e na Alemanha lhe terá fornecido acesso a metodologias adequadas à prossecução da sua pesquisa e escrita da Dissertação de Doutoramento.

O tempo de que dispusemos não foi suficiente para apurarmos com pormenor os resultados da exposição feita. O conjunto de documentos era também demasiado vasto e disperso para que pudéssemos apurar, por exemplo, da validade e limites do conceito de singularidade, um objectivo prioritário da Fabiana.

É bem provável que o excesso de questões tratadas nos tenha desviado para lateralidades que nos submergiram perante tanta informação. Talvez resida aqui um aspecto que deverá ser tido em conta pela aluna e que diz respeito à capacidade de optar. Nem sempre é benéfico inundar o leitor com muita documentação. Numa apresentação de âmbito geral podem ser fornecidos os elementos que dizem respeito ao trabalho em progresso (teóricos seguidos, perspectivas de análise, áreas científicas) e num momento seguinte escolhem-se um ou dois aspectos para discussão com os interlocutores. Assim, a nossa capacidade de atenção ficará circunscrita e poderá produzir melhor colaboração para os fins pretendidos.

 

2 Le corps a cessé d'être l'ennemi de la connaissance à l'ère moderne, c'est-à-dire qu’il a cessé de constituer l'antithèse de la psyché comprise à la fois comme âme et esprit.

 

Aulas previstas em Abril – 4

Aulas dadas em Abril – 4

 Saída cá dentro - 0

Saída cultural – 0


[1]     PaR (Practice as Research) is the term used to indicate a practice of study based on doing as a method of investigation. This method comes from the reflection on the research methodology in the field of the arts.
Currently the PaR approach is increasingly studied and used in various fields of knowledge, especially in pedagogy. Creative work and learning based on play and art, would have a great impact on modal learning of reality: knowledge as the possibility of imagining scenarios and hypothesizing strategies of action.


Em torno da leitura, da voz e da empatia

12 Abril 2019, 14:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

ABRIL                                            6ª FEIRA                     11 ª AULA

 

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 A aula de hoje decorreu na sala 1.26, no âmbito do seminário PET – seminário geral de doutoramento, durante a qual o doutorando João Henriques fez a apresentação de um documento escolhido por si sobre empatia e leitura. Tratou-se de um texto de David Miall, Enacting in Literary Reading apresentado como capítulo que pertence ao livro Shellekens, E. & Goldie, P. (Eds (2011), The Aesthetic Mind: Philosophy and Psychology, Oxford and New York: Oxford University Press, pp.285-298.

A exposição do aluno procurou sensibilizar-nos para questões que relacionam a leitura silenciosa com aquilo que as personagens despertam no leitor. A sua posição foi posteriormente adequada a um nível de leitura individual executado por actores que podem contar com a sua colaboração especializada enquanto director vocal. Este segundo nível de leitura adequado ao trabalho cénico e independentemente das metodologias utilizadas no trabalho com o leitor-actor, propicia a descoberta de relações emocionais e de comportamentos associados à emissão da palavra e também à voz.

Trata-se de um campo investigativo muito pertinente, não só pela sua aplicação prática no trabalho com actores e cantores, talvez o espaço de investigação mais promissor, mas também pela abertura a diversas áreas do conhecimento como, por exemplo, as neurociências aplicadas às humanidades.


Aprendendo sobre o Taz'iyeh

5 Abril 2019, 14:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

ABRIL                                   6ª FEIRA                               10ª AULA

 

 

5

 

Apresentação por Sajjad Yarifiroozabadi de três vídeos dedicados à dança religiosa tradicional Ta’ziyeh como expressão performativa do Irão antigo e contemporâneo, seguida de discussão com o aluno apresentador. Questionação ao mesmo sobre a quase ausência de mulheres na assistência a um dos espectáculos, registado por fotografias de meados do século XX, e que as mostrava cobertas por véu branco. A resposta a esta questão corrobora o princípio de que o Ta’ziyeh não só é um espectáculo feito por homens como a ele assistem poucas mulheres. Não foi possível apurar se a condição de classe era factor discriminatório ou não no estatuto da mulher-espectadora. Ainda nessas fotografias observámos que as mulheres se encontravam em bancadas e todas juntas num mesmo espaço comum.  É nossa convicção que esta opção de preenchimento do espaço facilitaria ao público masculino o controle sobre estas espectadoras. Apesar disso, a presença de mulheres na assistência ao Ta’ziyeh é desde pelo menos o séc. XVIII frequente em recinto aberto. Às mulheres caberia a preparação de alimentos distribuídos entre todos os presentes.

Os vídeos apresentados confirmam a presença de representação de personagens femininas por homens, fenómeno ainda hoje corrente em espectáculos de Ta’ziyeh. Naturalmente não tivemos acesso a um espectáculo inteiro o que nos teria suscitado um tipo de aproximação mais cuidadoso.

Sajjad Yarifiroozabadi utilizou como material de apoio para esta aula um pequeno ensaio já antes elaborado, comentado e anotado por mim. A versão última foi projectada em power point, o que no caso presente facilitou a compreensão da apresentação da perspectiva histórica, religiosa e mítica desta dança antiga do Irão.

A questão mítica, associada à existência de um lugar sagrado – Transoxiana -, cuja existência remonta a cerca de 3.000 a.C., diz respeito, como o aluno explicou, a uma zona de confluência dos actuais países Uzebequistão, Tadjiquistão e Caziquistão, à época pertencentes ao Império Iraniano. Esta região implementou diferentes culturas locais mas também foi alvo de conflitos ferozes entre os povos autóctones. Este modelo terá influenciado o imaginário colectivo que elaborou as histórias narradas durante a representação do Ta’ziyeh e que estão associadas ao Muharram, o primeiro mês do calendário islâmico. O espectáculo em si, que apareceu pela primeira vez no séc. VII d. C. e a seguir à morte de Maomé, narra diversos episódios da vida trágica do Iman Hussein, neto de Maomé, e dos seus muitos companheiros de luta. Este tipo de narrativa histórico-religiosa recebe expressiva influência das lutas romanas entre gladiadores transpostas para algumas das partes do espectáculo enquanto arte performativa. Esta consuma-se na vida religiosa, em episódios da História do Irão e em dança, narrativa e canto. Existe sempre uma coreografia de natureza ancestral associada a figurinos que invocam a própria antiguidade do espectáculo.

A exposição de Sajjad Yarifiroozabadi deixou ainda muitas incógnitas sobre uma arte que reconhecemos e compreendemos mas que nos escapa em termos culturais. Precisaríamos de mais tempo e disponibilidade para continuarmos a fazer as perguntas que não articulámos.

Regressando o aluno ao seu país Natal agora em Abril, ficar-nos-á a faltar o seu relatório final em que esperamos descobrir mais e melhores esclarecimentos. Apesar desta insuficiência e deste condicionalismo, encontrámo-nos pela primeira vez com uma manifestação artística iraniana que desconhecíamos. Deste ponto de vista, fomos todos beneficiados: o aluno e os seus interlocutores.

 

Leitura recomendada:

Chelkowski, J. Peter: Ta'ziyeh: Ritual and Drama in Iran (New York University Press, 1979)

 

Vídeos disponibilizados:

https://www.youtube.com/watch?v=8owD49fCsO8&t=337

 

https://www.youtube.com/watch?v=AwGsg1V5ZU8

 

https://www.youtube.com/watch?v=uHUgqw0fYb0