Sumários
Discussão de trabalhos práticos / Classificações
8 Maio 2019, 08:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
Notas de TEORIA DA HISTÓRIA DA ARTE – 3º ano – 2018/2019
(ASSINALAM-SE COM ASTERISCO OS ALUNOS QUE APRESENTARAM / DISCUTIRAM TRABALHOS NA AULA DE 15-V *)
Teste Trabalho Prático Nota Final
Alice Nunes Faria – ……………………………………………………………... 15 15+ 15
(TP: Arte como Terapia. A arte dos doentes mentais e a descoberta do mundo interior).
Ana Bela Valentim Pereira Águas – ………………………………………. 14+ 17 16
(TP: A Suplicante, de Camille Claudel …).
Ana Carolina Ribeiro Westwood – ………………………………………… 14+ 15+ 15
(TP: A Mulher como Artista. Realidades da História da Arte).
Ana Catarina Cecília Fontes – …………………………………………………. f f F
(TP: Francisco de Paula Oliveira (Pavel / António Rodriguez) e a crítica de arte neo-realista no México).
Andreia Filipa Avidago da Cunha Gomes – *………………………………… 16+ 18 18
(TP: A génese do Futurismo. Reflexão sobre uma arte de vanguarda, com comentário crítico de Clive Bell.
Beatriz Ataíde Lisboa de Macedo Faria – ………………………………………. 12+ 16+ 15
(TP: Revitalização do valor de culto da obra de arte – reflexão a partir de um exemplo de Richard Serra).
Beatriz Maria Avelar Teodoro – ………………………………………………………. 15+ 15+ 15+
(TP: A iconoclastia na arte contemporânea: o caso de Nicola Samorai -- ex: The Golden Child).
Bruna de Oliveira Azevedo -- ………………………………………………………………. 15+ 14+ 15
(TP: The Principles of Art, de Robin George Collingwood).
Carlota da Silva Cortesão – ………………………………………………………………….. 13+ 15+ 15
(TP: A escultura pública em rotundas portuguesas).
Carolina de Azevedo Ramos – ……………………………………………………………….. 12 14 13
(TP: A crescente aura nas pinturas de Vincent van Gogh).
Catarina Fernandes Rodrigues – …………………………………………………………… 12+ f F
(TP: …)
Cláudia da Silva Costa – ……………………………………………………………………….. 12+ 14+ 14
(TP: Simbiose entre Arte e Publicidade).
Diogo Garcia Rodrigues – *……………………………………………………………………… 16+ 16 17
(TP: O Artista e a sua Liberdade. Análise às iluminuras presentes nas margens dos manuscritos medievais)
Francisca de Campos Martins – ………………………………………………………………… 12+ 14+ 14
(TP: Comentário à obra ‘Do Espiritual na Arte’ de Vassily Kandinsky).
Gabriel Formigo Domingues – …………………………………………………………………. 13+ 14+ 14+
(TP: Alberto Giacometti, ‘Monumental head’)
Inês Abreu do Carmo Garcia – ……………………………………….………………………….. 17+ 17 17
(TP: Obra de Karl Blassfeldt: de Fotografia Técnica a Obra de Arte. Um Ensaio sobre Fotografia)
Inês Serrorio de Macedo – ………………………………………………………………………… 13+ 14 14
(TP: Frida Kahlo e a depressão na arte).
Inês Simão Chumbinho dos Reis Sebastião – *………………………………………………… 13+ 15 15
(TP: A Capela de Santa Eufémia da Serra de Sintra…)
Jennifer Bettencourt Vieira – *………………………………………………………………………… 14+ 15+ 16
(TP: A Melancolia na Arte. O poder e a fragilidade das obras de arte)
Jéssica Mira Freitas – ……………………………………………………………………………………….. 13 15 14
(TP: Inês de Castro pressentindo os assassinos…)
Joana Marisa B. T. Bessa – ………………………………………………………………………………… 14 15+ 15
(TP: O contributo da arte urbana na vila de Riachos).
Joana da Gama Dominguez – ……………………………………………………………………………. 12 15 14
(TP: A Transfiguração de Cristo de Rafael Sanzio (e Giulio Romano) e as suas retomas).
João Gomes Pereira Duarte Belo – ……………………………………………………………............ 16+ 16 16
(TP: Yve Minjun , Execution – Avant Garde chinesa, 1995).
Laura Maria Fonseca de Carvalho Torres – *……………………………………………………………. 16+ 18+ 18+
(TP: A religiosidade em Alexander Mcqueen – Dessacralização da arte ? Uma análise iconográfica, simbólica e sociológica).
Laura Catarina de Jesus e Silva e Matos Farias – ……………………………………………........... 16+ 17+ 18
(TP: Arte & Feminismo. Teorias e Práticas na Arte)
Mafalda Sofia Cunha Roças – ……………………………………………………………………………….… 16+ 17 17
(TP: A Autenticidade do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha: de edifício monacal a complexo museológico).
Margarida Capelo – …………………………………………………………………………………………………. 14 13+ 14
(TP: Revestimento azulejar das capelas da igreja matriz de Alhos Vedros…).
Maria Ângela da Silva Rosa – *…………………………………………………………………………………. 14+ 16+ 16
(TP: Introdução ao método de identificação da obra de arte: análise do conceito de artworld de Arthur Danto, com um estudo de caso: Beyoncé Mass, de Yolanda Norton, no programa da Bienal BOCA, de 2019).
Maria Joaquina A. Carita – …………………………………………………………………………………………. f f F
(TP: O Templo de Abu-Simbel, no Egipto (questões de ética patrimonial na trasladação de monumentos…)
Maria da Luz Pinheiro – *…………………………………………………………………………………………….. 17+ 18+ 18+
(TP: «para vossa disposição, tudo o que de mais precioso me pertence»: Aurélia de Sousa e a pintura feminina na viragem do século XIX para o XX).
Mariana da Cruz Alves – ………………………………………………………………………………………………… 13 15 14
(TP: A efemeridade do gosto).
Mariana Casimiro Coelho dos Santos Roque – ………………………………………………………………. 14+ 15 15
TP: sem título – sobre a Iconoclastia e a destruição do Cinema Monumental, do arq. Rodrigues Lima)
Mariana Filipa Americano da Silva – *……………………………………………………………………….. 14+ 16 16
(TP: Sobre o fenecimento das auras: o Calvário de Gregório Lopes (1544) no Bom Jesus de Valverde e as suas variantes e réplicas).
Marta Paula de Almeida – …………………………………………………………………………………………… 15 18 17
(TP: Reflexão acerca das relações entre a Aura e as intervenções de restauro. Análise de cinco casos de estudo).
Marta Seixas Parente – …………………………………………………………………………………………………… 13 15 14
(TP: ‘Ciúme’, de José Malhoa).
Marta Silva Pereira – *……………………………………………………………………………………………….... 14+ 16 16
(TP: O espectáculo Pedro e Inês, de Olga Roriz: a aura e a reprodutibilidade na dança e nas artes do espectáculo).
Natacha Sofia Guerreiro de Jesus – ………………………………………………………………………………… 14+ 16 16
(TP: Guy Ribes, a Aura e o Fake).
Patrícia Alexandra Rodrigues – …………………………………………………………………………..…………… 14+ 15 15
(TP: O Monumento a José Afonso: uma obra com aura ?)
Pedro Mendonça Cantoneiro – ……………………………………………………………………………………….. 14 15+ 15
(TP: O Auditório José Afonso: um olhar sobre a renovação estética da principal avenida de setúbal e as suas influências culturais)
Pedro Miguel Oliveira Ramos -- ………………………………………………………………………………………… 12 14+ 14
(TP: A Beleza Artística na perspectiva de Roger Scruton)
Raquel Filipa Vinagre Soares – ………………………………………………………………………………………….. 14+ 15 15
(TP: Bordalo II e a dimensão do fantástico das Street Art).
Rita Dias Esteves – ………………………………………………………………………………………………………….. 14+ 15 15
(TP: As pinturas murais na Capela de São Sebastião e a arte na vila de Castro Marim depois da Guerra da Restauração)
Rita Ribeiro Castro Serra – ……………………………………………………………………………………………… 14+ 15+ 15
(TP: A Obra de Arte: obtenção de Aura e validação contemporânea).
Rodrigo José da Silva Fidalgo – *……………………………………………………………………………………….. 14+ 16 16
(TP: Daniel na Cova dos Leões. Pintura; diversos usos artísticos e perenidade de aura).
Rúben Alexandre Silva Henriques – …………………………………………………………………………….……… 15 17+ 17
(TP: A arte enquanto mecanismo de criar memória).
Rui Miguel Correia Parreira – *…………………………………………………………………………………………….. 14+ 15+ 16
(TP: Arte Contemporânea: limites e fronteiras. O Ready-made).
Tatiana Nunes – ………………………………………………………………………………………………………………….. f f F
TP: A Última Ceia de Leonardo da Vinci…).
Teresa Maria dos Santos Ribeiro – ……………………………………………………………………………………….. 15+ 16+ 17
(TP: Rapariga com brinco de pérola, de Vermeer …)
Tomás Mexia Gorjão – …………………………………………………………………………………………………………. 16 17+ 17
(TP: Live in your head. When Attitude becomes form (Kunsthalle, Berna, 1969). Os discursos, o espaço iconoclasta e a curadoria de Harald Szeemann. Uma análise).
Vanessa Guimarães da Costa Bastos – ……..……………………………………………………………………………. 11 14 13
(TP: Comentário ao conceito de Artworld de Arthur Danto).
Vera Curiel – *………………………………………………………………………………………………………………………. 16 17 17
(TP: O simbolismo na obra de Josefa de Óbidos).
Conceito de trans-contemporaneidade das artes.
6 Maio 2019, 08:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
Discussão em torno do conceito de trans-contemporaneidade das artes..
teste
29 Abril 2019, 08:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
TESTE DE TEORIA DA HISTÓRIA DA ARTE – Licenciatura em História da Arte (1ª chamada) – 29 de Abril de 2019 – Prof. Vitor Serrão
I Leia atentamente as cinco seguintes questões e responda de modo suficiente, com estilo claro e num texto bem estruturado, com recurso a exemplos se e quando necessário, a apenas DUAS delas:
1. Em que sentido o conceito de aura formulado pelo filósofo Walter Benjamin (1892-1940) num ensaio de 1936 se mantém actual face ao reconhecimento que possa existir da singularidade das obras de arte num mundo globalizado como é o nosso ? Quais as dimensões auráticas que definem a produção artística em termos de discurso trans-contextualizável ? Será que as auras morrem mesmo, ou se transformam, e adaptam, e podem (no limite) sobreviver ?
2. Face à sua prática pessoal de investigação, acha que o conceito operativo de ArtWorld, tal como foi formulado por Arthur C. Danto (1924-2013), ajudou a estruturar a prática da História Crítica da Arte e abriu, ou não, novas vias de análise e fruição das obras de arte ? Não esqueça o que diz Howard Becker (Mundos da Arte), numa visão mais ampla do conceito de Danto, ao discorrer sobre a (in)definição do território da arte e ao destacar o momento em que as obras se mostra, isto é, quando decorre o seu momento de exposição.
3. O conceito de iconologia do intervalo, definido no início do século passado por Aby Warburg, fiel a uma espécie de Antropologia das imagens ancorada nos conceitos de pathos (sobrevivência de formas) e de Nachleben (vida póstuma de códigos imagéticos que tendem a adquirir novas corporalidades), alertou os historiadores de arte para a necessidade de um olhar em globalidade para o seu objecto de estudo. Em que termos o conceito ajuda a situar os fenómenos da produção, sem constrangimentos crono-estilísticos ou visões preconcebidas e pré-determinadas ?
4. Será que a vasta abertura da História da Arte, com a viragem do milénio, a vertentes «de género» (Feminismo, Art Outsider/Art Brut, arte pós-colonial, arte ingénua, street art, gay and lesbian studies, ‘novos primitivos’, arte pública, etc), veio acentuar, num mundo globalizado como é o nosso, a adequação da Teoria da História da Arte aos seus verdfadeiros objectivos programáticos ?
II Leia atentamente os dois seguintes textos e escolha UM deles para um comentário claro, bem estruturado, suficientemente desenvolvido e com reflexão original.
1. Homem do «largo tempo do Renascimento», Benito Arias Montano (1527-1598), humanista, teólogo, poeta, latinista, bibliotecário, jurista, biblista, antiquário, homem ligado às artes da imagem e autor de uma Bíblia Poliglota, contribuiu com as suas ideias e as suas escolhas para a sedimentação de uma Teoria da Arte onde defendeu a bondade inata da criação artística. «A arte é o maior remédio para os males da humanidade», disse, em tempos de guerras fratricidas e intolerâncias sem limites. Esse seu sentido de tolerância, rigor doutrinário e força emotiva, visto em nome de uma concepção neoplatónica e um saber profundo da ut pictura poesis, percebe-se bem no seu poema composto para acompanhar a gravura A verdadeira Inteligência (Idea) inspira o Pintor, de Cornelis Cort segundo desenho de Frederico Zuccaro, que foi editado em 1577-78 em Roma. Aí foca o papel de bondade das artes, verdadeira síntese dos princípios do Humanismo cristão, espécie de visão estética e ecumenista do mundo. Comente estas ideias e a sua plausível actualidade na reflexão teórica e na investigação da História da Arte do presente.
2. Uma visão globalizante e ontológica sobre o mundo das artes, tal como foi definido pelo filósofo marxista Theodor Adorno (1903-1969), atesta o quanto esse mundo nos traz de perene e de sublime, espécie de «movimento contínuo algures entre o efémero e o inesgotável». Será o conceito aurático de inexprimível e de inefável definido por esse filósofo da Escola de Frankfurt uma justificação para se perceber a arte numa dimensão permanentemente renovada e, como tal, trans-contemporânea ? Qual, pois, o alcance e actualidade do pensamento estético de Adorno para a História da Arte no sentido da sua maior abertura analítica e crítica ?
O conceito de Trans-Contemporaneidade das Artes na era da globalização.
24 Abril 2019, 08:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
Consciência da trans-contemporaneidade das artes.
Em tempos de madurez do processo da globalização mundial (tempos de crise social generalizada, mas também de possibilidades infinitas de saber e, como tal, aproximar … --, os próprios fundamentos científicos da História-Crítica da Arte, ancorada numa tradição formalista e historicista, viram-se, e vêem-se, confrontados com a necessidade de redefinir os seus conceitos, fundamentos e objectivos fundamentais, e também os seus limites de análise e percepção no contexto da Ciência das Humanidades.
Por isso se regressa às origens. Pelo menos, àquela origem que remonta à transbordante lição de um historiador de arte como Aby Warburg (1866-1929) [1], que deu sentido à prática da Iconologia e expressou as suas tabelas analíticas no famoso Atlas Bielder e em noções operativas como a Denkraum (espécie de investigação comparada de grau superior) e as Nachleben (ou memórias transmigradas dos códigos imagéticos). Depois de um limbo de meio século, verificamos como esse campo de análise fortaleceu a tradição mais recente de estudos iconológicos, representada por nomes como Brendan Cassidy, Daniel Arasse, Hans Belting, Axel Bolvig, Philip Lindley, entre outros autores integrados na Nova Iconologia [2], criando mecanismos iconológicos de observação da produção artística segundo as renovadas possibilidades da informatização em rede e do comparatismo serial.
Com a globalização, dá-se maior enfoque ao campo da Iconologia enquanto instrumento operativo apto a explicar a operacionalidade das obras de arte quando são observadas à luz dos seus pontos de vista (como diria Warburg) e da sua complexa teia de significados. Assim, hoje pode estudar-se mais a obra artística na razão directa dos seus tipos comportamentais, bem como das suas dimensões trans-contextual e trans-memorial [3] (tomando-se como referencial a nachleben warburghiana na sua dimensão imagética literal de ‘vida depois da morte’)[4], incluindo-se aqui, também, outras ordens de razões e linhas de pesquisa que importa ter em conta. Uma delas é o renovado empenho pelo estudo das situações de produção, do estatuto das artes e dos artistas, e das flutuações caracterizadoras do mercado artístico. Uma outra é o interesse acrescido pela análise de fenómenos até recentemente menorizados, como sejam os comportamentos de repulsa e de fascínio (a iconoclastia, a iconofilia) face à obra de arte, recorrendo aos testemunhos e exemplos pré e proto-históricos, medievais, modernos e contemporâneos para se intuírem as qualificações relativas e a presença dos seus sinais em conjunturas longas [5]. Outra, ainda, é a linha de interesses para as produções artísticas de periferismo em contexto colonial e de miscigenações culturais, como se o olhar saudosista, a nostalgia das relações de dominação ou mal-escondidas derivas neo-colonialistas se dissipassem de vez (veja-se, no caso português, o desenvolvimento de estudos sobre a arte nos espaços da lusofonia’, desde o século XVI à mais fresca actualidade).
Numa palavra: aborda-se mais a produção artística à luz das bases de teorização da História-Crítica da Arte, com recurso a visões globalizantes, a vastas redes tecnológicas e a novas metodologias pluri-disciplinares. São conquistas relevantes que a globalização traz para o campo das artes, caso seja for entendida, não como espaço de consumismo, apagamento de identidades e exploração desenfreada, mas como oportunidade evolucionista capaz de gerar discursos críticos e de reforçar o sentido pleno da cidadania.
A respeito da visão alargada que nos oferece o historiador de arte marxista Walter Benjamin com os seus conceitos de aura e de imagem dialéctica (categorias de História, Tempo, Melancolia e Alegoria) como modos de analisar a própria História global enquanto processo transformador (e não como mera evolução linear e positivista), temos consciência de que com ele, também, se rasgou um processo de trabalho com futuro, segundo o qual a produção artística nos vem solicitar uma nova e mais dinâmica abordagem das relações intrínsecas entre as instâncias de cultura, as da obra de arte e as estruturas sociais envolvidas [6]. Sobre a famosa aura, referida no ensaio de 1936 intitulado A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica, afirmava o seguinte: «A singularidade é idêntica à sua forma de se instalar no contexto da tradição. Esta tradição, ela própria, é algo de inteiramente vivo, de extraordinariamente mutável. Uma estátua antiga de Vénus, por exemplo, situava-se num contexto tradicional diferente, para os gregos que a consideravam um objecto de culto, e para os clérigos medievais que viam nela um ídolo nefasto. Mas o que ambos enfrentavam da mesma forma era a sua singularidade, por outras palavras, a sua aura»…O talento analítico de Benjamin expressou-se no modo como soube entrever relações entre tudo o que parecia disperso e amalgamado, numa grande capacidade de perceber as relações, afinal estreitas e clarificantes, entre a matéria bruta e o imaginário da produção de bens de consumo [7]. São valores fadados para longa sobrevivência, que interessam à prática da História e da Crítica das Artes, e que explicam, de certo modo, os mecanismos paragonais de gosto e de repulsa, de marginalidade e de massificação, de deriva repressiva e de ruptura vanguardística.
As novas gerações de historiadores e críticos de arte da era da globalização aprendem com estas lições, oriundas em muitos casos da esfera da sociologia da arte, da psicologia, da antropologia e da filosofia marxista, e que se tornam de evidenciada utilidade para a definição desta nossa disciplina. Bem vistas as coisas, a História-Crítica da Arte, ao mostrar a sua utilidade perene, ao falar das obras de arte como obras em aberto (como as definiu Umberto Eco), progrediu de modo significativo no contexto de um mundo em globalização. Alargou capacidades de análise crítica, recentrou interesses regionais, atraiu jovens investigadores, disponibilizou apoios dos poderes instituídos, redefiniu outros objectos de estudo no enfoque micro-artístico, amadureceu a sua visão patrimonialista sem as antigas peias auto-menorizadoras, e reforçou, sobretudo, esse seu entendimento (que só ela pode ter…) do discurso da arte como um fenómeno que é, em todas as circunstâncias, inesgotável e, por isso mesmo, trans-contemporâneo.
[1] Aby WARBURG. The renewal of Pagan Antiquity, intr. de Kujrt W. Foster, ed. The Getty Research Institute, Los Angeles, 1999; El renacimiento del paganismo. Aby Warburg, ed. de Felipe Pereda e Elena Sánchez Vigil, Alianza, Madrid, 2005; Essais Florentins (de Aby Warburg), intr. de Eveline Pinto, Paris, Klincksieck, 1990. Cfr., também, E. H. GOMBRICH, Aby Warburg: an Intellectual. Biography, 2ª ed., London, 1986 (trad. espanhola, Aby Warburg: una biografia intelectual. Alianza, Madrid, 1992.
[2] Axel BOLVIG e Philip LINDLEY (coord.), History and Images. Towards a New Iconology, Turnhout, ed. Brepols, 2003; Brendan CASSIDY (coord.), Iconography at the Crossroads, Princeton University, 1993; Daniel ARASSE, On n’y voit rien, Paris, Denoel, 2000; e Hans BELTING, The Global Art World. A Critical Estimate, ed. com Andrea Buddensieg, Ostfildern 2009.
[3] Vitor SERRÃO, A Trans-Memória das Imagens. Estudos Iconológicos de Pintura Portuguesa, Cosmos, Lisboa, 2007.
[4] O conceito de Nachleben não se reduz apenas a ‘renascimento’ ou ‘sobrevivência’; implica a ideia de continuidade de uma herança (pagã, nos casos estudados por Warburg). Cfr. Giorgio AGAMBEN, «Aby Warburg e la scienza senza nome», Aut aut, nº 199-200, Nuova Italia, Firenze, 1984, pp. 54-55.
[5] Cfr. catálogo da exposição Iconoclasme. Vie et mort de l’image mediévale, Musée d’Histoire de Berne e Musée de l’Oeuvre Notre-Dame de Strasbourg, coord. de Cécile Dupreux, Peter Jezler e Jean Wirth, 2001; Olivier CHRISTIN, Une révolution symbolique. L’iconoclasme protestant et la reconstruction catholique, Paris, 1991; Alain BESANÇON, L’image interdite. Une histoire intellectuelle de l’iconoclasme, Arthème Fayard, Paris, 1994; e David FREEDBERG, The Power of Images, University of Chicago, 1989 (trad., El Poder de las Imágenes. Estudios sobre la historia y la teoría de la respuesta, ed. Cátedra, Madrid).
[6] Walter BENJAMIN, Le livre des passages, col. Paris capitale du siècle XIX, tradução de Jean Lacoste, éd. Cerf, Paris, 2000.
[7] Cfr., de Walter BENJAMIN, o texto «A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica», publicado na revista do Institute for Social Research, de 1936 (trad. port.: Walter Benjamin, Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, introd. de T. W. Adorno, ed. Relógio de Água, Lisboa, 1992, p. 82).
Balanço da matéria dada: a Teoria da História da Arte na encruzilhada.
22 Abril 2019, 08:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
Balanço da matéria dada: a Teoria da História da Arte na encruzilhada.