Sumários

A reflexão teórica sobre a História da Arte e os seus caminhos.

2 Junho 2016, 08:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Teoria da Arte como um imperativo da prática da nossa disciplina. Reflexão sobre as grandes questões e a sua definição teórico-metodológica. Novos géneros da arte e novas visões da História da Arte na senda da percepção crítica e da avaliação estética. A Micro-História da Arte e a busca de visões globalizantes. A Nova Iconologia. 


Apresentação e Discussão de trabalhos práticos

31 Maio 2016, 08:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Apresentação oral/discussão de trabalhos práticos:

  

Alexandra Fernandes: Teorias da reprodutibilidade na arte, desde Benjamin a Bourriaud.

Ana Teresa Baptista Dias da Silva: A Ética nos Mercados da Arte.

Ana Vanessa Gonçalves Fernandes: A Escola de Atenas de Rafael: estudo iconológico.                 

Andreia Ricardo Amorim: Uma crítica à sociedade através da arte urbana: Bordalo II.

Beatriz Jacinto Bilrero: A experiência estética e a aura das obras de arte. Uma perspectiva sobre Imanuel Kant e Walter Benjamin.

Beatriz Ayala Moreira Saraiva: Comentário à obra ‘Do Espiritual na Arte’ de Wassily Kandinsky. f

Carolina Sofia Ferreira Mogos: A obra de Walter Benjamin ‘A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica’ e os movimentos de vanguarda do século XX.

Catarina do Castelo Nascimento: Rui Chafes. Breve reflexão sobre o espectador que termina a obra.

Catarina Alexandra Claudino Pinto: Melancolia na Arte e Transcontextualidade (referência à exposição ‘Melancolia’, Paris, Berlin, e a Walter Benjamin) f                    

Catarina Moura Pires: Um novo olhar sobre o património azulejar. Três painéis de azulejos do Museu Nacional do Azulejo.

Catarina Almeida Ramos: Recensão crítica a ‘O que é a Arte ?’ de Nigel Warburton.

Cláudia Borges Santos: Comparação das pinturas de ‘Judite e Holofernes’ de Caravaggio e de ‘Byronesque’ de Dan Witz. Aplicação do conceito de nachleben.                                                                                                                                           

Daniela Lesco: Estudo da obra de Frida Kahlo à luz da teoria da arte (a definir). f

Diana da Conceição Costa: Função e interpretação do Surrealismo entre Breton e Bataille: o jogo lúgubre.

Henrique Paulino Sotero: Análise da obra de Walter Benjamin Prescrutando a Aura benjaminiana (sobre ‘A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica’).

Inês Lima: Graffittis como arte urbana em Lisboa.

Inês Saiote: Paul Klee: arte degenerada e relação com Kandinsky na obra ‘Da Espiritualidade na Arte’. f

Jéssica Lais Machado da Silva: … f

Jéssica P. Sousa Louro: Comentário crítico à obra ‘O que é a arte ?’ de Nigel Worburtern.

José Manuel Neves Baptista: … f

Letícia Alexandra Pires Simões: …f

Lia Furtado Castro Neves: Malévitch: a arte de pintar.

Manuel António Alves Pinto: «Os Bêbados» de José Malhoa à luz de uma leitura iconológica.

Margarida Amaral Pereira: Videojogos: uma arte em crescimento. Questões teóricas e problemáticas contemporâneas.

Maria de Gouveia Brazão e Sousa: Os limites da Arte.

Maria João Gomes da Costa: Comentário crítico ao texto ‘O Problema da Definição Geral de Arte’ de Umberto Eco.

Maria Regina C. S. Albuquerque: As Figuras de Convite e a sua desconstrução por Eduardo Nery no azulejo parietal da Estação do Campo Grande do Metropolitano de Lisboa, segundo o ponto de vista iconológico e o conceito de obra de arte total.  

Maria Teresa Morujão Novais de Oliveira: A mobilidade das obras de arte e a sua descontextualização: a ‘Virgem com o Menino entre Anjos e Santos’ de Hans Holbein, o Velho, e o relevo do mesmo tema de Hans Daucher.

Mariana Correia Penedo dos Santos: A Morte da Arte segundo Umberto Eco (crítica e comentários).

Marta Alexandra Marques Pereira da Silva: O sentido da trans-contemporaneidade da arte na obra de René Magritte ‘Ceci n’est pas une pipe’.

Marta Sofia da Silva Gomes de Pina: A arte como propaganda política (teoria do discurso de propaganda estética).

Marta Sofia Guerreiro dos Santos: A iconografia da Virgem na obra de Gregório Lopes: ‘A Virgem, o Menino e Amjos num jardim’ (1536) do MNAA. Estudo iconológico.

Micaela Filipa de Jesus Rocha: Ficha analítica da obra de Walter Benjamin A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica.                                                         

Mónica Bolonha Lapa: … f

Olga Garasymic: Durer (um aspecto artístico a definir, à luz da Teoria da Arte).

Patrícia Sofia Nunes de Sousa: Diferença entre obra privada e obra pública.

Paulo Lourenço Marques: A ambiguidade da arte falsificada (O Crime na Arte. Falsificações são Arte ? Um ensaio anatítico-comparativo entre original e fraude).

Ricardo Miguel Alves Nogueira: Casos de Iconoclastia e Iconofilia em Monumentos e Obras de Arte.

Rosa Filipa Duarte Marques: A Revolução Francesa e a arte de propaganda: um caso de estudo.

Rui Miguel Barreiros Silva: Do espiritual e dos labirintos pictóricos. Entre Vieira da Silva e Wassily Kandinsky.                

Tatiana Lopes Rodrigues: A Mimésis na estética da Grécia Antiga.


Balanço sobre o programa: História da Arte face à globalização.

26 Maio 2016, 08:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Eppure si muove... Uma leitura analítica e crítica sobre a História, a Arte, a Globalização mundial, a História Crítica da Arte e a produção artística no limiar do século XXI: um balanço.   Discussão em torno de um ensaio de Eric Hobsbawm.


Psicologia da Arte e Inconsciente criativo, novos géneros e enfoques da Teoria da Arte.

24 Maio 2016, 08:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

,,.A Loucura na Pintura Contemporânea. A Descoberta do Mundo Interior. Uma referência, a abrir, a um pintor e a um filme: em 1974, António Reis realiza o filme Jaime, apoiado pelo Centro Português de Cinema. Jaime Fernandes, falecido em 1969, nasceu em Barco (Beira Baixo). Trabalhador rural, aos 38 anos foi internado por três décadas no Hospital Miguel Bombarda, como esquizofrénico-paranóico. Como pintor e desenhador, impôs-se: bastaram cinco anos para considerarem o camponês um génio em artes plásticas  Dois anos após a morte de Jaime, António Reis descobriu um desenho seu num gabinete clínico do Hospital e partiu à investigação., reunindo mais cem desenhos do autor e retratando a sua existência. O Palácio Ideal de Ferdinand Cheval em Hauterives (Drôme), Châteauneuf-de-Galaure: um sonho esculpido. O homem (1836-1924): «Fils de paysan, paysan, je veux vivre et mourir pour prouver que dans ma catégorie il y a des hommes de génie et d’énergie»... Dele se dizia: «C’est un pauvre fou qui remplit son jardin de pierres».A visita de André Breton ao Palácio Ideal de Ferdinand Cheval: «[…] cet intérieur et cet extérieur sont comme imbriqués l’un dans l’autre»... As influências que provoca: Max Ernst, Le Facteur Cheval, 1932, colagem; Pablo Picasso, Le Facteur Cheval, 1937; etc.A descoberta do mundo interior
A interiorização do olhar em Gustave Courbet e Édouard Manet. A diluição das fronteiras entre o interior e o exterior, entre o espaço pictórico e o espaço real.Gustave Courbet, L’Atelier du Peintre, allégorie réelle déterminant une phase de sept années de ma vie artistique, 1855, óleo sobre tela, Musée d’Orsay, Paris. Momentos significativos do encontro entre psicologia e reflexão sobre arte. A noção de inconsciente em Freud e Jung. (exs: 1910: Sigmund Freud, Uma Recordação de Infância de Leonardo da Vinci; 1914: Sigmund Freud, O Moisés de Michelangelo; 1932: Carl Gustave Jung, «Picasso» in O Espírito na Arte e na Ciência). A obra de Hans Prinzhorn (1886 - 1933): em 1920 Prinzhorn reúne na Clínica Psiquiátrica de Heidelberg 5. 000 peças de doentes mentais provenientes de asilos de vários pontos da Europa; em 1922  escreve a sua obra mais conhecida Artistery of the Mentally Ill onde analisa o trabalho de dez doentes psiquiátricos (the schizophrenic masters) seleccionados a partir da colecção de Heidelberg; na obra Artistery of the Mentally Ill, 1922, Prinzhorn questiona as fronteiras que separam a arte dos doentes mentais e a arte das pessoas ditas “normais”. Considerava que o impulso criativo era comum a qualquer ser humano independentemente do seu quadro psíquico. O trabalho de Prinzhorn foi divulgado no meio artístico. Vários artistas conheceram a sua obra e visitaram a sua colecção. As obras de August Natterer, Franz Pohl, Heinrich Anton Müller e outros artistas com perturbações mentais da Colecção Prinzhorn. O fascismo e a 'arte degenerada' do III Reich.Jean Dubuffet e a Collection d’Art Brut de Lausanne. Em 1945 Dubuffet cria a Collection d’Art Brut em que reúne um dos acervos mais significativos de arte realizada em contexto psiquiátrico.  Dubuffet definiu nos seguintes termos o conceito de Arte Bruta: « Nous entendons par-là des ouvrages exécutés par personnes indemnes de culture artistique […] Nous y assistons  à l’opération artistique toute pure, brute, réinventée dans l’entier de toutes ses phases par son auteur, à partir seulement de ses propres impulsions. De l’art donc où se manifeste la seule fonction de l’invention […].» L’homme du commun à l’ouvrage, 1973. As obras de Adolf Wölfi, Aloïse Corbaz,Carlo Zinelli, Augustin Lesage, etc. A obra de Nise da Silveira, psiquiatra brasileira com formação junguiana. Em 1949 cria o atelier de arte na Secção de Terapia Ocupacional do Hospital Psiquiátrico Pedro II. Em 1951 Nise da Silveira funda o Museu das Imagens do Inconsciente onde expõe as obras dos seus pacientes. O Museu das Imagens do Inconsciente. O caso do Museu de Art Outsider doi ex-Hospital miguel Bombarda.


A Teoria da Arte no nosso tempo.

19 Maio 2016, 08:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

... De facto, há um contraste brutal entre esta prática e o dogmatismo, feito de certezas férreas, que pulula nos textos militantes das diversas correntes que se reclamam do pós-estruturalismo (feminismo, estudos visuais, pós-colonialismo, lesbian and gay studies, psicanálise, semiótica, etc.), que na sua aparente modernidade (escudados na crítica da objectividade científica de Thomas Khun e de outros pensadores pós-modernos) pretendem cristalizar e institucionalizar as suas certezas de uma forma totalizadora. Efectivamente, este tipo de movimentos mostra-se frágil quando abdica, contra natura, da consideração da polissemia, ambivalência e ambiguidade que encerram todas as obras de arte (sejam elas obras-primas ou produtos ditos «menores»), reclamando que a sua abordagem e a sua narrativa é a única possível e «verdadeira» – precisamente o inverso de uma Nova Iconologia que se ofereça como um discurso novo em nome da reflexão que inevitavelmente se abre em torno da inesgotabilidade e da trans-contextualidade que (como defende Arthur C. Danto) são características essenciais de todas as obras de arte e que as tornam, por isso, um fascinante instrumento de morosa contemplação, de profícua reflexão e de constante debate. 

Trazendo à colação historiadores de variada formação e de diversa metodologia, e pondo a tónica na análise globalizante a partir do indício, o historiador de arte José-Augusto França nos lembra que «a historia (da arte) é feita de céu e de terra, e seja qual for a ordem de preferência, a nossa obrigação é procurar num sítio e no outro (mesmo no céu, por inocente utopia) os factos e as crenças que lá estejam, os eventos e os mitos, que eventos são, de outra ordem.»(José-Augusto França, História: Que História?, Lisboa, Edições Colibri, 1996, reed. 2005). …Aliás, a questão que se nos coloca é sempre a mesma: dentro da sua dimensão mais ou menos regional (já que todas as obras de arte geradas ao longo da História são fruto de contextos regionais, pois tão frágil se torna definir-se a unicidade da sua permanência ao «centro» de onde emana), o que importa é saber situar e ver as obras de arte -- todas as obras de arte -- como objectos vivos, parcelas de um discurso integral e trans-memorial que interage a níveis históricos, formais, iconográficos, iconológicos, estilísticos e, sempre, estéticos. O caminho é o da conjugação metodológica de vias: a investigação dos arquivos, a análise laboratorial, a via estilística e comparativa, o re-conhecimento dos dialectos artísticos das obras de per si, na sua dimensão dialéctica de microcosmos de um tempo e de testemunho trans-contextual vivenciado. Também aprendemos isso com José-Augusto França.

É de explorar, neste âmbito, as tangentes que existem entre a Micro-História da Arte e o conceito que Aby Warburg (1866-1929) designou iconologia do intervalo e que analisa, sobretudo, os fenómenos de perenidades formais, aparentemente retardatários. Nesse âmbito, a memória imagética tende a anular o abismo entre passado e presente, «apaga o tempo» -- o que não significa que impeça a mudança, pois o que é transmitido nunca permanece igual na sua reinterpretação artística. O muito referido Aby Warburg desenvolveu uma teoria dos símbolos que passa pela ideia de que as Nachleben (memórias póstumas da imagem) são imagens simbólicas, em que o símbolo, ao condensar a tensão entre passado e presente, quebra o continuum histórico. O estudo da produção simbólica, no sentido em que a cultura pode ser vista como um modo de dominar o caos através do símbolo, remete para uma permanente tensão à escala da História e do indivíduo, entre reflexão e êxtase, como via onde a comunicabilidade em aberto das obras de arte se acentua (Umberto Eco). Assim, como conquista – nunca definitiva – da razão nas regiões do caos, a cultura artística abre um espaço intermédio entre impulso e acção. O conceito de História de Warburg fundou-se numa teoria da memória e do código imagético. A pesquisa deve trazer à luz conflitos tipológicos e trans-históricos, estudar o que permanece (mais do que passou) à luz da historicidade intensiva das Nachleben. A imagem dotada de «vida póstuma» é, na sua dinâmica, produtora de símbolos.Estudando a teoria de que as Nachleben são sempre imagens simbólicas, Warburg mostrou que o símbolo, materializando a tensão entre passado e presente, quebra o continuum da história e obriga a rever conceitos fixos como os de «atavismo periférico», «centro»,«vanguarda», etc etc: caso de tantas situações da arte portuguesa dos séculos XVI, XVII e XVIII, em fidelidades só aparentemente anacrónicas a modelos de decoração alinhados com o estilo dominante, que constituem óptimo testemunho da visão enunciada e obrigam a reavaliar o discurso das periferias artísticas como espaço onde a modernidade também é possível e, mais que tudo, desejada. Analisámos o problema, tão secundarizado pelos historiadores de arte, da análise micro-artística à luz da modernidade relativa das produções. Embora as experiências que se afirmam à margem dos grandes «pólos artísticos» não tenham muitas vezes acesso aos caudais eruditos de informação, elas mostram conhecer as flutuações de gosto que assistem naqueles «centros». Contraria-se, assim, a tese de que o «pólo central» seria sempre, por definição, lugar privilegiado da criação artística, enquanto que a «periferia» significaria apenas um afastamento geográfico e um grau de decréscimo qualitativo em relação àquele – pelo que se devia considerar a periferia como sinónimo de atraso…

Deparamo-nos, assim, com um sentido renovado de pesquisa: o estudo integral dos paradigmas de conhecimento estético sobre as diversas facetas de produção e recepção das artes. Dentro do seu apregoado regionalismo, muitas obras que nasceram e nascem em contexto de periferia não são inevitavelmente retardatárias, e constituem, sempre, um manancial de estudo extremamente cativante para uma História de Arte definida pela globalidade do facto artístico e sensibilizada pela resposta que brota de contextos de produção provincial.

Em suma, a Micro-História da Arte assume-se de cada vez ,maior importância na teoria e na prática de uma História da Arte globalizada pois alarga as possibilidades do saber ver as obras de arte (todas elas !), a vários níveis: 1.alargando o campo de análise aos espaços de periferia, senão de ruralidade, com um olhar ‘visto de baixo para cima’;2.definindo a perspectiva dinâmica da «circularidade cultural» (Ginzburg) a partir de uma leitura microscópica integrada e pluri-disciplinar;3.estimulando e qualificando a prática do comparatismo (as célebres «cronologias» e «quadros» de José-Augusto França);4.reavaliando o conceito de «iconologia do intervalo» (Warburg) no estudo dos comportamentos de atraso e manutenção de códigos;5.atestando as possibilidades de inovação que se afirmam muitas vezes à margem dos grandes «pólos artísticos»;6.reforçando a componente de uma antropologia social das artes;7.estudando melhor os fenómenos de repulsa e de iconoclasma;8.contrariando a tese de que só o «centro» é o lugar da criação, sendo a «periferia» apenas sinónimo de atraso;9.renovando o estudo integral dos paradigmas de criação estética sobre as diversas facetas de produção e recepção das artes; 10.dignificando (em tempo de feroz totalitarismo ultra-liberal, de primado do lucro e da exploração, com efeitos também na nossa área) uma componente humanística na prática da História da Arte e do Património.