Sumários
John M.Stahl e a transformação do melodrama como género e como figuração do sentimento
8 Outubro 2015, 14:00 • Mário Jorge Torres Silva
Breve introdução ao melodrama cinematográfico: relações com a ópera italiana, os folhetins oitocentistas ou o romance histórico; as estratégias do sentimento e a sua codificada expressão artística; as especificidades do género na captação de espectadores, variando a sua função mediante o público a que se destina; o melodrama e o filme de mulheres; a importância da banda sonora e das peripécias aventurosas e romanescas; o melodrama lacrimejante e a sua progressiva densidade narrativa.
Início do visionamento comentado de Leave Her to Heaven (John M. Stahl, 1945): os cruzamentos possíveis com o film noir; a relevância da construção de interiores; as sequências do Novo México e as reminiscências do western; a heroína melodramática e a mulher fatal; para uma construção de uma geografia inclusiva dos Estados Unidos, pela oscilação entre espaços exteriores; o flashback e a narrativa fragmentária; a simetria dos jantares e das festas; a assimetria das relações entre as personagens.
"Cleópatra" (Cecil B. De Mille, 1934) e a representação da História no derradeiro fôlego do chamado "Pre Code"
6 Outubro 2015, 14:00 • Mário Jorge Torres Silva
Conclusão do visionamento comentado de Cleópatra (Cecil B. De Mille, 1934): o final da primeira parte do filme, com a morte de Júlio César, a rebelião das forças republicanas e a ascensão do candidato a líder do eminente Império, Octávio Augusto; a inclusão quase anedótica nos diálogos de referência ao famoso solilóquio de Marco António, "Roman, countrymen, lend me your ears", da tragédia romana de William Shakespeare; a intertextualidade tripartida do filme - com o registo histórico disponível, nomeadamente Plutarco, com a matriz literária, shakespeareana (e não só) e, sobretudo, com a lenda da rainha egípcia, "devoradora de homens" e lídima representante do seu sexo; a radicação visual do filme num imaginário devedor da pintura histórica de finais do século XIX, desde os vitorianos aos simbolistas, passando pelos pompiers franceses.
O "peplum" e a História como metáfora
1 Outubro 2015, 14:00 • Mário Jorge Torres Silva
Cecil B. de Mille e a sua função de pioneiro de Hollywood, rodando filmes de diversos géneros desde 1914: a especialização no peplum, sobretudo no épico bíblico, desde os tempos do mudo com The Ten Commandments ou The King of Kings, até às suas obras paradigmáticas finais, Samson and Delilah (1949) e o derradeiro filme, The Ten Commandments (1956).
Breves linhas de identificação do peplum como género: a sua origem na indústria italiana; a sua adopção por Hollywood ainda na década de 1910, sobretudo como resultado da importância da história bíblica na cultura norte-americana.
Início do visionamento comentado de Cleopatra (Cecil B. de Mille, 1934): o erotismo e a História; as relações complexas entre a ficção e as matrizes literárias, nomeadamente, para a primeira parte do filme, Caesar and Cleópatra de George Bernard Shaw ou Julius Caesar de Shakespeare; a importância dos adereços, a arte egípcia filtrada pela Art Déco; a entrada de Cleópatra em Roma e a inserção de massas figurantes no plano; a importância dos diálogos da América dos anos 30, num simulacro de Roma pré-imperial; penteados, guarda roupa e adereços de uma Roma reconfigurada pelo presente da narrativa; a relevância da concepção do filme em duas partes praticamente correspondentes aos amores da rainha do Egipto, primeiro por Júlio César, depois por Marco António.
"42nd Street" (Lloyd Bacon e Busby Berkeley, 1933) e a instituição de um estilo coreográfico especificamente fílmico
29 Setembro 2015, 14:00 • Mário Jorge Torres Silva
Conclusão do visionamento comentado de 42nd Street (Lloyd Bacon e Busby Berkeley, 1933): a construção a par e passo do espectáculo musical, com a noção clara de palco e de profundidade de campo; a progressiva solidão do encenador, figura condutora do espectáculo e metáfora radical do criador isolado no seu próprio mundo; a alternância das peripécias cómicas com fortes, embora subtis, remissões para o mundo complexo das dificuldades trazidas pela Grande Depressão, no auge da visibilidade em 1933; a relevância da diferente escala de planos nos esboços sucessivos de campo/contracampo; a escassez dos números musicais remetidos, ainda para mais, para o final climáctico como razão para considerar o filme o mais integrado dos backstage musicals da Warner Bros, neste período de glória que medeia entre 1933 e 1935; a função fulcral do número "42nd Street", não apenas pela coincidência titular, mas também por um espécie de simulacro do real, integrando a dança numa reconstituição aparente do quotidiano de uma rua de Nova Iorque, com cenas de violência e morte, enquadradas na fantasia coreográfica, concebida em termos de apoteose final; os efeitos de limitação de palco em "Shuffle off to Buffalo"; o número "Young and Healthy" claramente entre as verosimilhanças do palco e as pirotecnias típicas do estilo Berkeley com os picados verticais ou os vertiginosos travellings entre as pernas das bailarinas; a obrigatoriedade de uma assinatura dual pela diferença estilística entre os números musicais, especificamente fílmica, em que a câmara coreografa e delimita o olhar, e a acção ficcional entre o cómico e o trágico, da responsabilidade de Lloyd Bacon.
Breve visionamento comentado do número musical "Pettin' in the Park", de The Golddiggers of 1933 (Mervyn LeRoy, Busby Berkeley), o terceiro "volume" de uma possível trilogia do anos de 33: o desafio à censura pela nudez desafiante, representação da autoridade sobre patins ou inclusão do casal negro, bem como do amor na terceira idade; vestígios de pedofilia na figuração da criança, interpretada por um anão, que se confronta com as pernas e os corpos das bailarinas; o arrojo do final do número em que as mulheres se encontram envoltas em armaduras, uma espécie de cinto de castidade, que os homens "abrem" com um abre-latas fornecido pela azougada criança.
O Musical Cinematográfico e a lógica escapista em tempos de Grande Depressão
24 Setembro 2015, 14:00 • Mário Jorge Torres Silva
Brevíssima introdução à carreira de Lloyd Bacon, no período que antecede o advento do Sonoro: desde a sua colaboração como actor nos filmes de Charlie Chaplin (nomeadamente The Kid, 1921), até às primeiras realizações durante a década de 1920 (com curtas-metragens, desde 1922), assinando a sua primeira longa-metragem, Broken Hearts of Hollywood, em 1926. A importância capital dos dois musicais dirigidos para a Warner em 1933, 42nd Street e Footlight Parade, incorporando coreografias de Busby Berkeley, imagem de marca incontornável dos musicais cinematográficos da Warner Bros, com top shots e grande mobilidade da câmara.
Visionamento comentado de um excerto de Footlight Parade, o número musical "By a Waterfall", paradigma possível das coreografias berkeleyanas, misto de tratamento excessivo do trabalho de câmara e de fantasia surrealizante (um "sonho húmido"). Primeira análise breve da alternância entre picado e contrapicado no estabelecimento de uma básica linguagem cinematográfica de delimitação espacial.
Visionamento comentado do início do filme 42nd Street: a noção de plano e de sequência, na organização narrativa de uma comédia dramática à volta das artes de palco; o enquadramento de grandes massas humanas nas cenas de ensaios do coro; a virtual oposição entre vedeta e corista; para uma primeira definição da personagem isolada e solitária do encenador; o encadeamento das peripécias num filme musical que vai estrategicamente adiando os grandes números musicais; a presença obsessiva da Grande Depressão nos diálogos e no comportamento das personagens, embora de forma algo subtil, o ritmo fílmico e um primeiro olhar sobre as diferentes formas de raccord entre planos - do dissolve ao fade out/ fade in, bem como sobre a alternância clássica campo/contracampo.