Sumários

VI. O Pensamento: uma Investigação Lógica - 4

26 Novembro 2021, 14:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege O Pensamento: uma Investigação Lógica Der Gedanke: eine logische Untersuchung) de 1918/19 - 4

16. Poderão realmente existir pensamentos pertencendo inteiramente ao mundo da experiência privada?  17. A estratégia de Frege para abordar esta questão: A. Definição do elenco de características que distinguem ideias (i.e., conteúdos de consciência) de objectos físicos: i) as ideias não são sensorialmente perceptíveis; os objectos físicos são sensorialmente perceptíveis; ii) as ideias não subsistem de forma independente; os objectos físicos subsistem de forma independente; iii) as ideias necessitam de um portador; os objectos físicos não estão ligados a qualquer portador; iv) nenhuma ideia pode ter mais do que um portador; o mesmo objecto físico pode ser igualmente apreendido por diferentes observadores. B. Consideração dos pensamentos em termos das características i)-iv): os pensamentos são como as ideias no que a i) diz respeito, mas são como os objectos físicos no que a ii)-iv) diz respeito; assim sendo, os pensamentos definem um terceiro reino ontológico distinto tanto do dos objectos físicos como do das ideias ou conteúdos de consciência. 18. Conclusão - A resposta de Frege à questão colocada acima: dadas as características que definem os pensamentos, as condições de possibilidade do nosso relacionamento com os mesmos tornam impossível a existência de pensamentos inteiramente compostos por partes apenas interpretáveis no âmbito da experiência privada da consciência; nessas circunstâncias, os termos que representariam tais partes não reuniriam as condições necessárias para poderem referir e, por isso, as frases que elas comporiam não teriam, na realidade, sentido.         


VI. O Pensamento: uma Investigação Lógica - 3

22 Novembro 2021, 17:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege O Pensamento: uma Investigação Lógica Der Gedanke: eine logische Untersuchung) de 1918/19 - 3

13. Se é o caso que, com frequência, muitos dos componentes da frase devem ser negligenciados para se poder pôr em evidência o pensamento que ela exprime, é também o caso que, com frequência, para se poder pôr em evidência o pensamento que uma frase exprime, é necessário ou acrescentar à frase componentes que dela não fazem parte (por exemplo, a identificação do momento em que a asserção foi feita) ou modificar alguns dos seus componentes (por exemplo, nos casos em que a frase contém componentes indexicais). 14. A mesma frase pode também exprimir mais do que um pensamento; por exemplo, nos casos em que uma frase contém nomes próprios, o pensamento que a mesma exprime depende do modo de apresentação (do sentido) desses nomes próprios para o falante e para o interlocutor; diferentes modos de apresentação (sentidos) do mesmo nome próprio dão origem a pensamentos diferentes, ainda que co-referenciais, ocasionados pela mesma frase. 15. O caso particular do pronome pessoal 'Eu': prima facie, uma frase declarativa na primeira pessoa do indicativo está, ipso facto, associada a dois pensamentos distintos - o pensamento no qual o termo 'Eu' refere a delimitação do campo da experiência do falante relevante no momento da asserção e o pensamento no qual o termo 'Eu' funciona como um indexical que identifica um indivíduo entre os demais, descrevendo o seu conteúdo aspectos do mundo público comum tanto ao falante quanto aos interlocutores. 16. Mas poderão realmente existir pensamentos pertencendo inteiramente ao mundo da experiência privada?         


VI. O Pensamento: uma Investigação Lógica - 2

19 Novembro 2021, 14:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege O Pensamento: uma Investigação Lógica Der Gedanke: eine logische Untersuchung) de 1918/19 - 2


7. A respeito de o que é que, de facto, surge a questão da verdade? Frege defende que esta questão só surge a respeito de frases e não de coisas, ideias ou representações; todavia, aquilo que, numa frase, pode ser verdadeiro ou não é, na realidade, o seu sentido, e não a frase propriamente dita; por sua vez, o sentido de uma frase é um pensamento; logo, os pensamentos são aquilo acerca do que a questão da verdade pode colocar-se. 8. Sendo os pensamentos imateriais, a questão da verdade só pode então colocar-se a respeito de entidades imateriais; ser verdadeiro não é, portanto, uma propriedade perceptível ou material. 9. Só as frases nas quais se afirma ou comunica alguma coisa, i.e., em geral, frases indicativas, exprimem pensamentos; mas, numa frase indicativa, há que distinguir entre dois componentes - o conteúdo e a asserção; e só o primeiro contém o pensamento que a frase exprime. 10. Com efeito, é possível exprimir um pensamento sem o colocar como verdadeiro; assim sendo, há que distinguir entre: i) a apreensão ou captura de um pensamento (o processo de pensar), ii) o reconhecimento como verdadeiro de um pensamento apreendido (a formulação do juízo), iii) a manifestação ou comunicação do juízo, i.e., de um pensamento apreendido e tido por verdadeiro (a asserção). 11. Dadas estas distinções, torna-se compreensível por que é que, segundo Frege, a asserção de uma frase indicativa x acompanhada com o qualificativo 'é verdade que x' ou 'x é verdadeira' nada acrescenta à simples asserção da frase; para o autor da elocução, a questão da verdade põe-se antes da formulação do juízo, após a captura de um pensamento, e não depois, no momento da asserção. 12. Na realidade, além do conteúdo e da asserção, muitas frases indicativas contêm ainda outros aspectos como, e.g., o tom, os quais estão associados à expressão da emoção e dos sentimentos dos falantes; estes aspectos são, todavia, irrelevantes para a determinação de qual o pensamento expresso por uma frase; no âmbito de uma investigação lógica eles devem, por isso, ser negligenciados.


VI. O Pensamento: uma Investigação Lógica - 1

15 Novembro 2021, 17:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege O Pensamento: uma Investigação Lógica ( Der Gedanke: eine logische Untersuchung) de 1918/19 - 1


1. A Lógica como 'Ciência da Verdade': o propósito da Lógica é descobrir as leis da verdade. 2. Dois sentidos associados ao uso do termo 'lei': sentido prescritivo (moral, direito); sentido descritivo (ciências da natureza); quando se fala em 'leis da verdade' como o objecto da Lógica, o termo 'lei' deve ser aqui entendido no mesmo sentido em que se fala de 'lei', quando se fala de leis da natureza (i.e., estas são leis descritivas). 3. Há, todavia, que distinguir entre as leis da verdade e as leis dos processos de pensamento efectivos; estas últimas são de natureza psicológica e descrevem eventos sujeitos à causalidade natural; aquelas não são de natureza psicológica e não descrevem eventos sujeitos à causalidade natural. 4. Usos do termo 'verdadeiro' que nada têm a ver com a Ciência da Verdade: i) 'verdadeiro' como 'genuíno' ou 'veraz'; ii) 'verdadeiro' como 'próprio' ou 'não adulterado'. 5. O uso do termo 'verdadeiro' que tem a ver com o modo como o mesmo é usado na Ciência da Verdade é o uso típico das ciências naturais; mas que uso é esse? 6. Diferentes interpretações de 'x é verdadeiro' tal como usado nas ciências naturais: i) 'x é verdadeiro' como 'x é uma representação verdadeira'; a noção de 'representação verdadeira' elucidada à custa da noção de 'correspondência' entre representação e representado; análise desta noção - uma representação seria tanto mais verdadeira quanto mais correspondesse ao representado; mas, num caso em que houvesse coincidência perfeita entre representação e representado, o que se obteria não seria uma representação maximamente verdadeira, mas sim a ausência de representação; não havendo coincidência perfeita entre representação e representado, o que se obteria seria apenas uma correspondência parcial; mas a uma correspondência parcial deveria estar associada apenas uma verdade parcial; ora, uma verdade parcial não é uma verdade; a verdade não admite graus; no caso particular da representação mental, esta situar-se-ia num plano ontológico (o do mundo das coisas mentais que existiriam no tempo mas não no espaço) distinto do plano ontológico do representado (o do mundo das coisas físicas, que existiriam no espaço e no tempo); como poderia então uma coisa mental corresponder a uma coisa física? Segundo Frege, o termo 'correspondência' não teria aqui as condições de uso que permitiriam atribuir-lhe um sentido claro; por outro lado, o esforço no sentido da clarificação do mesmo revelaria que o entendimento da noção de verdade como correspondência seria contraditório nos seus próprios termos.       


V. O que é uma função? - 2

12 Novembro 2021, 14:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege O que é uma função? Was ist eine Funktion? de 1904 - 2


Conclusão da análise e discussão do ensaio de Frege indicado em epígrafe: i) o carácter confuso das definições de função de Czuber - de facto, os conceitos de variável e de função são independentes um do outro; ii) a função aritmética como uma entidade que estabelece uma correspondência entre conjuntos de números; iii) a natureza essencialmente insaturada da função - enquanto tal, ela tem que ser distinguida dos argumentos e dos valores que a complementam; iv) a necessidade de se preservar a clareza conceptual, não deixando que a predisposição natural para a concisão nas formulações linguísticas leve a mente a interpretar estas últimas de forma literal e não da forma conceptualmente correcta; v) a importância de se recorrer a uma notação conceptual (Begriffsschrift), independente da linguagem natural, para que o desiderato expresso em iv) possa ser cabalmente alcançado.