Sumários

III. Sobre Conceito e Objecto - 3

18 Outubro 2021, 17:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege Sobre Conceito e Objecto (Ueber Begriff und Gegenstand) de 1892 - 3

H. Distinção entre um conceito ser uma propriedade de um objecto e um conceito ser uma das características de um conceito mais complexo; distinção entre os usos do verbo ser (predicação e subordinação ou inclusão) por meio dos quais cada um destes comportamentos de um conceito é expresso. I. A incapacidade revelada por Kerry em estabelecer três distinções essenciais: a sua não distinção adequada entre os usos do verbo ser como indicador de predicação e como indicador de subordinação ou inclusão, a sua não distinção entre sentido e denotação de uma expressão, e a sua não distinção adequada entre os usos do verbo ser como indicador de predicação e como indicador de identidade. J. Extensão ao caso dos conceitos relacionais das dificuldades introduzidas pela própria estrutura da linguagem natural em respeitar a natureza essencialmente predicativa de um conceito quando se pretende dizer algo acerca dele. K. Conclusão do ensaio: é necessário ter-se sempre em mente os modos como a linguagem natural pode constituir um obstáculo à expressão da verdadeira estrutura do Pensamento.


 




III. Sobre Conceito e Objecto - 2

15 Outubro 2021, 14:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege Sobre Conceito e Objecto (Ueber Begriff und Gegenstand) de 1892 - 2

G. A crítica de Frege à posição defendida por Kerry de que, por um lado, a distinção entre conceito e objecto não seria ontologicamente irredutível, tendo apenas uma validade meramente contextual, e de que, por outro lado, o próprio Frege violaria o princípio da irredutibilidade (continuação) 

i) Apresentação dos contra-exemplos de B. Kerry: estes consistem em frases nas quais um termo do género 'O conceito tal e tal' aparece no que parece ser o lugar do sujeito de uma predicação com sentido (e.g., 'O conceito cavalo é fácil de obter'; 'O conceito acerca do qual acabei de falar é individual'). ii) Resposta de Frege aos contra-exemplos de Kerry: em tais casos, o termo do género 'O conceito tal e tal' seria um termo singular que, de facto, referiria um objecto; mas esse objecto manter-se-ia essencialmente distinto do conceito (e.g., ser um cavalo) identificado por Kerry, mesmo que, numa tal frase, o representasse. iii) Justificação da resposta de Frege: a) ela estaria de acordo com as marcas da objectualidade e da conceptualidade presentes na língua; no uso linguístico, os termos para objectos viriam associados ao artigo definido no singular, enquanto que os termos para conceitos viriam associados ao artigo indefinido; b) Análise de contra-exemplos à validade do apelo para estas marcas (e.g., 'O Turco cercou Viena'; 'O Cavalo é um quadrúpede') e sua elucidação como meramente aparentes: no primeiro caso 'O Turco' seria um termo singular que referiria um povo, i.e., um objecto colectivo, enquanto que no segundo caso estaríamos apenas perante uma variação estilística de um juízo universal afirmativo; c) Distinção entre os casos de frases em que um conceito é predicado de um objecto e o caso de frases em que um conceito de primeira ordem cai sob um conceito de segunda ordem; nos casos de frases nas quais se afirma que um conceito de primeira ordem cai sob um conceito de segunda ordem, o conceito de primeira ordem mantém, nessas mesmas frases, a sua natureza predicativa, apesar de, nelas, se estar a dizer algo acerca dele (como acontece no caso dos juízos universal ou existencialmente quantificados que substituem, na Lógica moderna, os juízos gerais da Lógica aristotélica); ora, no caso de frases do género 'O conceito tal e tal tem tal e tal propriedade', nas quais o termo 'O conceito tal e tal' ocorre no lugar do sujeito da predicação, isso não acontece: nestas frases, o termo 'O conceito tal e tal' poderia ser substituído no âmbito da frase por um qualquer nome próprio (e.g., 'Júlio César'), sem que a frase perdesse sentido (tornando-se apenas falsa) - já a substituição do termo 'O conceito tal e tal' por um termo geral no âmbito da mesma frase geraria um sem sentido; e sem sentidos surgem, tipicamente, quando se pretende predicar objectos de objectos, objectos de conceitos, conceitos de conceitos, ou conceitos de ordens superiores de objectos; d) A importância do holismo e da obediência ao princípio do contexto para o esclarecimento desta questão: um mesmo pensamento pode ser decomposto de múltiplos modos, dando origem a estruturas frásicas distintas; e um termo só pode ser identificado como um termo singular ou como um termo geral no âmbito de uma estrutura frásica particular (um modo particular de decompor um pensamento): neste sentido, assim como há claramente frases nas quais termos, que habitualmente surgem como nomes próprios, são, de facto, termos gerais (como é o caso, e.g., do termo 'Viena' nas frases seguintes: 'Só há uma Viena' ou 'Trieste não é nenhuma Viena'), também há frases nas quais o fenómeno inverso acontece (i.e., termos, que temos tendência a entender como gerais, são, de facto, nessas frases, termos singulares que referem objectos). e) Conclusão da argumentação: as considerações anteriores constituiriam evidência de que, nas frases de Kerry, o termo 'O conceito tal e tal', ao contrário do sustentado por Kerry, não referiria, de facto, um conceito, mas sim um objecto; logo, a tese da irredutibilidade ontológica conceito/objecto não seria realmente violada por Frege, e a posição de Kerry, de acordo com a qual essa distinção ontológica seria, na realidade, contextualmente dependente, seria, além de incorrecta, independente da posição proposta por Frege.  


III. Sobre Conceito e Objecto - 1

11 Outubro 2021, 17:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege Sobre Conceito e Objecto (Ueber Begriff und Gegenstand) de 1892 - 1

A. Distinção entre uso lógico e psicológico do termo 'conceito' e necessidade de não os confundir. B. O problema da definição: o uso de definições é necessariamente limitado - aquilo que é ontologicamente simples não pode ser definido, apenas pode ser apontado ou elucidado por meio de sugestões e descrições. C. Conceitos e objectos como simples ontológicos; enquanto simples ontológicos distintos uns dos outros, conceitos e objectos são indefiníveis e irredutíveis uns aos outros. D. O problema da identificação dos simples ontológicos: estes não são dados imediatamente à experiência; aquilo que é dado imediatamente à experiência são sempre compostos; é necessário muito trabalho de análise e decomposição dos compostos dados à experiência para se conseguir identificar os simples que os integram. E. As duas teses fundamentais de Frege acerca de conceitos e objectos: i) O conceito tem uma natureza irredutivelmente predicativa; ii) Os objectos são irredutivelmente não predicativos. F. As críticas de Kerry às teses de Frege: i) a distinção entre conceito e objecto não seria ontologicamente irredutível, tendo antes uma validade meramente contextual; ii) o próprio Frege violaria nos seus escritos o princípio da irredutibilidade. G. A resposta de Frege a Kerry: i) Apresentação de um conjunto de contra-exemplos aparentes à segunda das teses de Frege acima mencionadas: nestes contra-exemplos, nomes próprios aparecem à direita da cópula em juízos singulares ocupando o lugar que é aparentemente o do predicado (e.g., 'O dono de Bucéfalo é Alexandre Magno', etc.); ii) Demonstração de que estes contra-exemplos são apenas aparentes: o que, na realidade, os caracteriza é serem frases de identidade, nas quais ou dois termos singulares são feitos cair sob um mesmo predicado binário (x=y), o qual denota um único conceito relacional, ou um dos termos singulares é apenas parte constituinte de um predicado unário sob o qual é feito cair o outro termo singular (e.g., x=4) - um tal predicado unário denota então um conceito sob o qual apenas um único objecto cai; iii). Apresentação de um conjunto de contra-exemplos aparentes à primeira das teses de Frege acima mencionada: nestes contra-exemplos, termos gerais aparecem à esquerda da cópula no lugar que é aparentemente o do sujeito (e.g., 'Os homens são numerosos', etc.) em juízos que têm a aparência externa de juízos gerais universais afirmativos mas que são essencialmente distintos destes, uma vez que neles não se estabelece a inclusão de um dos conceitos no outro; poderia assim fazer sentido interpretá-los como juízos nos quais um dos conceitos (o conceito sujeito) ocuparia no juízo um lugar não predicativo; iv) Demonstração de que estes contra-exemplos são apenas aparentes: o que, na realidade, os caracteriza é serem juízos nos quais se faz cair um conceito de primeira ordem (e.g., ser um homem) sob um conceito de segunda ordem (e.g., ser satisfeito por um grande número de objectos); ora, estes juízos são essencialmente distintos de juízos nos quais se predica um conceito de um objecto.


II. Sobre Sentido e Denotação - 4

8 Outubro 2021, 14:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege Sobre Sentido e Denotação (Ueber Sinn und Bedeutung) de 1892 - 4 


I. Continuação da análise da questão: Será a denotação de uma oração subordinada no contexto de uma frase complexa sempre um valor de verdade? 

A) Análise da questão acima no caso das orações subordinadas condicionais. Divisão deste caso em dois sub-casos distintos: a) O caso das frases condicionais que não contêm qualquer termo singular determinado. Neste caso, estas frases têm como função exprimir generalidade (por exemplo, nómica) e apenas a frase no seu todo exprime um pensamento, não o fazendo as orações constituintes; estas orações não denotam então quaisquer valores de verdade; há que notar, a este respeito, que muitas frases de aparência gramatical substantiva ou adjectiva são, na realidade, frases condicionais usadas para exprimir generalidade; b) O caso das frases condicionais nas quais ambas as orações constituintes, subordinante e subordinada, contêm um termo singular determinado. Neste caso, estas frases são frases condicionais genuínas e ambas as orações que as compõem exprimem pensamentos completos; ambas as orações denotam então valores de verdade e o valor de verdade da frase condicional completa obtém-se por composição verofuncional a partir dos valores de verdade das orações constituintes. B) Análise da questão acima no caso das orações subordinadas conjuntivas e de alguns tipos de orações subordinadas concessivas: nestes casos, as orações subordinadas têm um pensamento completo como sentido; elas denotam, por isso, um valor de verdade; também aqui o valor de verdade da frase completa se obtém por composição verofuncional a partir dos valores de verdade das orações constituintes. C) Análise de casos de difícil decisão: estes são ou aqueles nos quais, além do pensamento que prima facie exprimem, as orações subordinadas estão também associadas a pensamentos colaterais, não sendo claro se estes fazem ou não parte do sentido da frase completa; ou aqueles nos quais as orações subordinadas desempenham, em simultâneo, dois papéis semânticos, estando, nomeadamente, associadas a duas denotações, uma directa (um valor de verdade) e outra indirecta (um pensamento). 


II. A conclusão do ensaio SSeD 

A conclusão de SSeD constitui-se como uma recapitulação da solução de Frege para o enigma da identidade - no estabelecimento de uma relação de identidade do género 'a=b', apesar de ser condição da verdade da frase que exprime a identidade que os termos partilhem a mesma denotação, estes não deixam, por isso, de diferir no seu sentido; esta diferença de sentido permite, por sua vez, explicar por que é que o estabelecimento de uma identidade pode conter um valor cognitivo genuíno e fecundo. 


II. Sobre Sentido e Denotação - 3

4 Outubro 2021, 17:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege Sobre Sentido e Denotação (Ueber Sinn und Bedeutung) de 1892 - 3

Continuação da análise da questão: Em que casos é que a denotação de uma oração subordinada no contexto de uma frase complexa não é um valor de verdade? 

A) Distinção entre orações subordinadas substantivas, adjectivas e adverbiais e análise desta questão específica em cada um destes tipos de orações subordinadas: 1. As orações subordinadas em discurso indirecto (já analisadas) são um caso particular de orações substantivas; 2. Extensão do caso das orações subordinadas em discurso indirecto, em que a denotação das mesmas e dos termos singulares que nelas ocorrem é indirecta (i.e., é um pensamento, no primeiro caso, ou um modo de apresentação, no segundo caso), à generalidade dos casos em que as orações subordinadas substantivas ocorrem no âmbito de uma frase complexa de atribuição de atitude proposicional; 3. Extensão da análise anterior ao caso das orações adverbiais finais, imperativas e interrogativas, i.e, inclusão destas no mesmo âmbito do das orações substantivas que ocorrem no âmbito de uma frase complexa de atribuição de atitude proposicional; assim, também elas denotam pensamentos, ordens ou perguntas, mas não valores de verdade; 4. Análise do caso das orações subordinadas, substantivas ou adjectivas, começadas por um pronome relativo, que, na realidade, desempenham o papel de uma descrição definida: nestes casos, a denotação dessa oração subordinada é um objecto ou indivíduo e o seu sentido é apenas parte de um pensamento (um modo de apresentação) e não um pensamento completo. B) A importância da tese de que, no âmbito dos usos cognitivos do discurso, o uso correcto de um nome próprio pressupõe que o mesmo tenha que ter uma denotação. C) Análise do caso das orações subordinadas adverbiais de tempo e lugar como um sub-caso das orações substantivas anteriormente analisadas em que as mesmas se comportam como termos singulares e têm, por isso, por denotação um objecto; caracterização lógica concomitante de instantes ou durações temporais e de lugares ou áreas como objectos.