Sumários
O desafio ao imperialismo cristão: a Hégira e o triunfo do monoteísmo islâmico.
21 Outubro 2024, 12:30 • Rodrigo Furtado
1. Reorientalização do Mediterrâneo: olhar para as conquistas muçulmanas como um classicista.
a. Os processos culturais do Mediterrâneo como processos de orientalização cultural e civilizacional;
b. A geografia da região: uma encruzilhada de continentes.
c. A estrada arábica: do Mediterrâneo ao Índico – o desenvolvimento económico e a dinâmica social.
2. Muhammad (ca. 570-632).
a. Uma matriz comum: a influência judaico-cristã;
b. Líder político-militar; líder religioso. A rivalidade entre elites em Meca.
c. A formação de uma comunidade politico-religiosa (umma): crença num Deus único de influência judaico-cristã; apocalipticismo;
d. O êxodo (hijra) para Medina (622);
e. A guerra (jihād) e o domínio do litoral arábico.
3. Religiões da Antiguidade tardia.
a. Religião e política: o imperador ao serviço de Deus: criar a unidade política e religiosa do orbe a influência imperial.
b. Religião e universalismo: Cristianismo - ultrapassar a cidade ou o povo; a conversão da espécie humana.
c. Religião e verdade: o imperador ao serviço da imposição da verdade a todo o mundo. A verdade como afirmação racional.
d. Religião e apocalíptica: a pregação do fim do mundo e a guerra contra Bizantinos e Sassânidas.
e. Religião e livro: o Corão (Qur’an) (as 114 suras e a compilação em meados do s. VII).
4. Omíadas (661-750).
a. O Islão torna-se entre o Egipto e a Mesopotâmia, no que o Cristianismo tinha sido em termos ideológicos e culturais.
b. Helenização/Bizantinização em Damasco.
i. A conversão “de cima para baixo” da velha-nova elite califal: o Islão como novo padrão cultural e elemento identitário;
ii. O Árabe clássico e a sua ‘formalização’: filologia e a necessidade de copiar e de interpretar o Corão; a escola de Basra e os estudos de gramática e de léxico.
iii. Os debates teológicos entre Cristãos e Muçulmanos e a assimilação da utensilagem teológica tardia. A recusa do monoteísmo trinitário.
iv. A ‘elitização’ do Islão: a cultura erudita como elemento de distinção – poesia, arte, ciência, etc. A manutenção das cidades.
v. O imaginário bizantino: a criação de uma ideologia que encontra no califa o fundamento do funcionamento ordenado do universo em termos ‘humanos’; a eleição divina do califa; o califa como ponto de fuga da corte, com uma relação com a divindade semelhante à do imperador.
Rodrigo Furtado
Bibliografia:
Strohmaier, G. (2009), ‘The Greek heritage in Islam’, The Oxford handbook of Hellenic Studies, Oxford.
___________
Crone, P. (2005), Medieval Islamic political thought, Edinburgh.
Fisher, G. (2013), Between empires: Arabs, Romans, and Sasanians in late antiquity, Oxford.
Griffith, S. (1997), ‘Byzantium and the Christians in the world of Islam: Constantinople and the Church in the Holy Land in the Ninth Century’, Medieval Encounters 3, 231-265.
Hoyland, R. (2012), ‘Early Islam as a late antique religion’, The Oxford handbook of Late Antiquity, Oxford.
Howard-Johnston, J.D. (2010), Witnesses to a world crisis: historians and histories of the Middle East in the seventh century, Oxford.
Kaegi, W. E. (1992), Byzantium and the early Islamic conquests, Cambridge.
Kennedy, H. (1986), The Prophet and the age of the Caliphates: the Islamic Near East from the sixth to the eleventh centuries, London.
Lapidus. I. M. (20022), A history of Islamic societies, Cambridge.
Madelung, W. (1997), The Succession to Muhammad: A Study of the Early Caliphate, Cambridge.
Robinson, C. (2010), The New Cambridge History of Islam. 1. The formation of the Islamic world (sixth to eleventh centuries), Cambridge.
O neoplatonismo.
17 Outubro 2024, 09:30 • Angélica Varandas
O neoplatonismo: influências e cruzamentos. O neopitagorismo, o gnosticismo e o hermetismo.
A morte de Vergílio? Educação e cultura na Hispânia visigoda. O caso de Isidoro de Sevilha.
16 Outubro 2024, 12:30 • Rodrigo Furtado
1. Um período de grande instabilidade: os séculos V-VI no Ocidente.
1. A atrofia das cidades:
1.1 As transformações urbanas:
i. A descentralização/desmonumentalização do forum;
ii. Menor construção de edifícios monumentais;
iii. Destruturação ou fragmentação do espaço das cidades;
iv. Divisão de grandes edifícios em edifícios mais pequenos; as construções em pórticos e edifícios/espaços públicos
v. Simplificação das técnicas de construção (a reutilização de spolia);
vi. Abandono ou descuido de edificios e espaços públicos e o abandono/não reparação de sistemas complexos de canalização, esgotos, etc;
vii. Sepultamentos intra-muros e frequentemente no forum;
viii. Abandono de áreas urbanas e substituição por áreas agrícolas/pastagem.
1.2 o desparecimento da cultura como elemento de diferenciação social; as consequências na educação.
1.3 As queixas nos concílios: os concílios de Braga; o caso de Liciniano de Cartagena.
1.4 As escolas monacais.
- Isidoro de Sevilha (ca. 560-636).
2.1 Família de hispano-romanos de Cartagena. Uma família de religiosos: Leandro de Sevilha, Fulgêncio de Écija, Florentina.
3. Cultura e Funcionalidade social.
3.1 formação escolar;
3.2 preservação do saber suficiente;
3.3 compreensão dos textos sagrados.
‘le dessein de cette oeuvre [d’Isidore] est de répondre aux exigences premières d’une culture religieuse fondée sur une instruction intellectuelle et théologique, mais aussi et d’abord morale et spirituelle’ (Fontaine, 1986 : 132).
4. Obra:
4.1 As Etymologiae ou Origenes (615-636).
1. Compêndio do saber;
2. Livros 1-5: artes liberais (trívio e quadrívio) – gramática, retórica, dialéctica, matemática, geometria, astronomia, música + medicina, direito;
3. Livros 6-8: Antigo e Novo Testamento, sobre Deus e os cargos da Igreja, sobre as heresias e as religiosidade pagã;
4. Livro 9: línguas, os povos, as relações de parentesco;
5. Livro 10: dicionário;
6. Livros 11-20: os animais, a geografia e fenómenos celestes, as construções e edifícios, minerais e metais, a guerra e os espectáculos, a navegação e vestuário, utensílios domésticos e agrícolas;
7. Fontes: autores cristãos (Agostinho, Jerónimo, Ambrósio, Cassiodoro); autores de escola da Antiguidade Tardia (Sérvio e outros comentadores, Donato e outros gramáticos: Lactâncio Plácido, Nónio Marcelo, Solino, Marciano Capela).
5. Os Auctores clássicos:
5.1 Abundância de citações e remissões para os autores clássicos: Varrão, Cícero, Salústio, Énio, Vergílio, Estácio, Séneca.
i. CONTUDO: acesso à cultura clássica em segunda mão: ‘en el mejor de los casos, los autores paganos eran consultados, no leídos; o dicho con otras palabras, se podía llegar a ellos a través de pequeñas citas, antologías o resúmenes. La gran mayoría de los hombres cultos nunca habían abordado una obra de esta clase para leerla de la primera a la última línea’ (Díaz, 1982: 83-4).
ii. Os intermediários : Sérvio, Nónio Marcelo, Lactâncio Plácido, Festo, Agrécio, Agostinho, Ambrósio, Mário Victorino, e outros textos gramaticais e de comentário. GRANDES AUTORES DE MANUAIS DOS SS. IV-V
iii. Acesso à cultura clássica em segunda e terceira mão; recurso a comentários, escólios, obras gramaticais e escolares da Antiguidade Tardia; fragmentação dos textos clássicos e descontextualização desses fragmentos; ausência de leitura do texto completo; estatuto gramatical da sua funcionalidade; alarde de erudição.
Rodrigo furtado
Bibliografia sumária:
Díaz y Díaz, M. C. (1982), ‘Introducción General’, 1. ‘La circunstancia hispánica’, Isidoro de Sevilla. Etimologías 1, Madrid, 7-94.
--------------
Arnold, J. et alii, ed. (2016), A companion to Ostrogothic Italy, Leiden-Boston.
Brown, P.(2013rev.), The rise of Western Christendom. Triumph and diversity. AD 200-1000, Malden, MA-Oxford, West Sussex
Browning, R. (2000), ‘Education in the Roman empire’, The Cambridge Ancient History. 14. The Late Antiquity: Empire and Sucessors, A.D. 425-600, Cambridge, 855-883.
Cazier, P. (1994), Isidore de Seville et la naissance de l’Espagne catholique, Beauchesne, Paris.
Díaz y Díaz, M. C. (1976a), ‘Penetración cultural latina en Hispania en los siglos VI-VII’, De Isidoro al siglo XI. Ocho estudios sobre la vida literaria peninsular, Barcelona, 11-20.
Díaz y Díaz, M. C. (1976b), ‘La cultura de la España visigótica del siglo VII’, De Isidoro al siglo XI. Ocho estudios sobre la vida literaria peninsular, Barcelona, 23-56.
Fontaine, J. (19832), Isidore de Séville et la culture classique dans l’Espagne wisigothique, 3 vols., Paris,
Fontaine, J. (1986), Culture et spiritualité en Espagne du IVe au VIIe s., Aldershot.
Fontaine, J. (1988), Tradition et actualité chez Isidore de Seville, Aldershot.
Fontaine, J. (2000), Isidore de Séville. Genèse et originalité de la culture hispanique au temps des Wisigoths, Turnhout.
Fontaine, J. (2008), ‘Education and learning’, New Cambridge Medieval History 1, Cambridge, 735-759.
Inglebert, H. (2001), ‘Interpretatio Christiana’. Les mutations des savoirs (cosmographie, géographie, ethnographie, histoire) dans l’Antiquité chrétienne (30-630 après J.-C., Paris.
Kaster, R. A. (1988), Guardians of Language: The Grammarian and Society in Late Antiquity, Berkeley – Los Angeles – London.
Marrou, H.-I. (1977), Décadence romaine ou antiquité tardive?: IIIe-VIe siècle, Paris.
Riché, P. (1962), Éducation et culture dans l’Occident barbare. VI-VIIIe siècles, Paris.
Smith, J. M. H. (2005), Europe after Rome : a new cultural History 500–1000, Oxford.
O Neoplatonismo.
15 Outubro 2024, 09:30 • Angélica Varandas
O Neoplatonismo: as doutrinas de Santo Agostinho e de Pseudo-Dionísio, o Areopagita.
Inscrever Deus no Espaço e reconhecê-lo no tempo: a inteligibilidade do mundo e da história.
14 Outubro 2024, 12:30 • Rodrigo Furtado
- A representação do espaço no mundo antigo.
- Concepção aristotélica: o museu de Alexandria;
i. A esfericidade da terra: o cálculo da circunferência por Eratóstenes (s. II a.C.);
ii. Os três continentes do hemisfério norte; o desconhecimento do hemisfério sul.
iii. Os mapas: Eratóstenes, Ptolemeu;
iv. Objectivos: ciência mensurável; vivência prática e utilitária do espaço.
- Concepção platónica/‘romana’: a terra como metáfora.
i. Representação da terra como um plano circular;
ii. Centro: 3 continentes; Mediterrâneo: centro geométrico; Roma: centro do Mediterrâneo = centro do mundo; o oceano.
2. Triunfo da concepção romana a partir da Antiguidade tardia.
a. O contexto: o triunfo de ‘Platão’ sobre Aristóteles = triunfo do Cristianismo. O que é a realidade?
- Triunfo de uma concepção simbólica do espaço: qualitativa e não quantitativa:
i. Espaço não é entendido como valor quantitativo, relacionado com a distância a percorrer
ii. Natureza: conjunto de símbolos decifráveis; livro onde se podem ler os sinais da obra divina;
iii. Símbolos: compreender quem é Deus. Geometrização/esquematização do espaço.
c. O espaço como reflexo da vontade de Deus;
i. A intervenção de Deus no espaço como criador e como actor;
3. A tendência para a geometrização das formas de representação da realidade.
| |
- Colagem estrita à representação bíblica do mundo; - Jerusalém no centro: junção dos três continentes; - Interpretação bíblica do espaço terrestre: - Círculo: perfeição divina; - T: prefiguração da cruz; aponta para a Ressurreição
REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO TERRESTRE: - Anunciaria desde sempre: - marca do Criador - redenção - Permitiria detectar sinais da presença de Deus.
|
4. O tempo histórico.
6.1 Visões clássicas do tempo:
6.1.1 O pessimismo histórico hesiódico;
6.1.2 O tempo cíclico: tempo histórico e tempo natural;
6.1.3 As intervenções dos deuses e a ausência de plano;
6.2 A (re)fundação cristã:
6.2.1 O nascimento de Cristo;
6.2.2 A Parúsia;
6.3 A coincidência Cristo/Augusto: Pax Romana=Cristianização.
Rodrigo furtado
Bibliografia sumária:
Althoff, G.,-Fried, J., Geary, P. J., ed. (2013), Medieval concepts of the past, Cambridge.
Burgess, R. W., Kulikowski, M. (2013), Mosaics of Time. The Latin Chronicle Traditions from the First Century BC to the Sixth Century AD, 1. A Historical Introduction to the Chronicle Genre from its Origins to the High Middle Ages, Turnhout.
Burrow, J. A. (1986), The ages of man: a study in medieval writing thought, Oxford.
Dalché, P. G. (2009), La géographie de Ptolémée en Occident, Turnhout.
Dalché, P. G. (2011), ‘Les représentations de l’espace en Occident de l’Antiquité tardive au xvie siècle’, Annuaire de l'École pratique des hautes études (EPHE), Section des sciences historiques et philologiques, 142, 109-114.
Edson, E. (1997), Mapping Time and Space, London.
Englisch, B. (2002), Ordo orbis terrae. Die Weltsicht in den Mappae mundi des frühen und hohen Mittelalters, Berlin.
Goetz, H. W. (1980), Die Geschichtstheologie des Orosius, Darmstad.
Gurevich, A. (1985), The categories of medieval culture, London.
Harley, J. B., Woodward, D., ed. (1987), The history of cartography 1, Chicago.
Humphrey, Ch., Ormrod, W. M., ed. (2001), Time in the medieval world, Rochester, NY.
Inglebert, H. (1996), Les Romains chrétiens face à l’histoire de Rome. Histoire, christianisme et romanité en Occident dans l’Antiquité tardive (IIIe-Ve siècles), Paris.
Le Goff, J. (1983), A Civilização do ocidente medieval, Mem Martins, 169-241.
Porro, E., ed. (2001), The medieval concept of time, Leiden.
Russel, J. B. (1991), Inventing the Flat Earth, New York, Westport, Conn.
Talbert, R. J. A., Unger, R. W., ed. (2008), Cartography in Antiquity and the Middle Ages: fresh perspectives, new methods, Leiden.
Zumthor, P. (1993), La mesure du monde, Paris, 317-344.