Sumários

Tempo (1)

17 Outubro 2019, 10:00 Ricardo Santos

A ontologia do tempo. A teoria presentista: só existem as coisas presentes (Prior). A ideia intuitiva de que as coisas (inteiramente) passadas já não existem e de que as coisas (inteiramente) futuras ainda não existem. A crítica de Prior ao uso de uma noção relativizada de existência (existir na mitologia grega, na mente humana, num mundo possível, no passado, etc.) e a defesa de operadores temporais (de passado e de futuro). A passagem do tempo. O presentismo propõe uma visão dinâmica: o presente muda, ou seja, diferentes presentes sucedem-se uns aos outros. O que é futuro torna-se presente e depois passado. A inexistência do futuro explica a ideia comum de que o futuro está em aberto. Mas como pode o presentismo explicar que o passado esteja encerrado e seja imutável? Uma alternativa ao presentismo: a teoria do bloco crescente, que diz que existem as coisas passadas e presentes (Broad). Com a passagem do tempo, a realidade ganha novas partes, mas não perde nenhuma. Uma dificuldade séria para ambas as teorias: a teoria da relatividade restrita implica que a simultaneidade é relativa a um quadro de referência e que por isso não existe um presente objectivo, único e universal.


A razão segundo Kant

15 Outubro 2019, 14:00 Guiomar Mafalda Maia de Faria Blanc

A sistematicidade da razão e as três ideias.

Os três princípios da complexidade seg. Morin.


Constituição material (2)

15 Outubro 2019, 10:00 Ricardo Santos

Continuação da aula anterior. Terceira opção: niilismo. Não há estátuas nem pedaços de barro, mas somente partículas elementares sem partes menores. Se a Física actual estiver certa, só há electrões e quarks. Quando uma pluralidade de partículas compõem um todo, o todo não é uma entidade adicional, além das partículas. Existem apenas as partículas. Estátuas e outros objectos macroscópicos do mesmo género (mesas e cadeiras, paus e pedras) são causalmente redundantes, quer dizer, não têm poderes causais próprios, diferentes daqueles que lhes são conferidos pelas partículas subatómicas que os constituem. O ‘princípio eleático’: só devemos aceitar a existência de entidades que tenham poderes causais próprios. O niilismo não pode ser refutado por simples observação. Mas podemos lançar dúvidas sobre o niilismo se considerarmos que é possível que não haja partículas indivisíveis. Quarta opção: aceitar a Coabitação, adoptando o tetradimensionalismo. Além de se estenderem no espaço (e terem partes espaciais), os objectos materiais estendem-se também no tempo (e têm partes temporais). Cada parte espacial existe num só lugar e cada parte temporal existe num só momento. O objecto no seu todo consiste em todas as suas partes juntas, espaciais e temporais. A estátua e o pedaço de barro são dois objectos diferentes, mas um faz parte do outro: todas as partes da estátua são partes do pedaço de barro, mas não inversamente. Por isso, o princípio de que é impossível as mesmas partes formarem dois todos diferentes não é violado. Consegue também explicar-se porque é que a destruição da estátua não destrói o pedaço de barro (ainda que sejam feitos da mesma matéria), sem ter de invocar nenhuma ‘maior fragilidade’ (?) daquela. Objecção: o tetradimensionalismo nega a realidade da mudança.


cont do anterior

14 Outubro 2019, 14:00 Guiomar Mafalda Maia de Faria Blanc

Vida, auto-organização e complexidade.


Constituição material (1)

14 Outubro 2019, 10:00 Ricardo Santos

O paradoxo da constituição material: duas premissas extremamente plausíveis (Criação: a escultora cria a estátua; Sobrevivência: a escultora não destrói o pedaço de barro) implicam uma conclusão chocante (Coabitação: há dois objectos no mesmo lugar). Porque é que o pedaço de barro e a estátua são dois objectos diferentes. Primeira opção: negar a Criação. A escultora não cria matéria nova, apenas dá nova forma a matéria pré-existente. Os únicos objectos existentes são pedaços (porções, quantidades) de matéria. Um objecto material é definido pela matéria de que é feito. Essencialismo mereológico: todas as partes de um objecto material lhe pertencem essencialmente (inspirado em Heraclito, é solução radical para o problema do barco de Teseu). Consequência indesejável: quando um carro é esmagado, desmontado e vendido para peças não deixa de existir; Sócrates ainda hoje existe; cada um de nós já existia no tempo de Sócrates. Segunda opção: negar a Sobrevivência. O pedaço de barro cessa de existir e dá lugar à estátua. Teoria da substituição. Um objecto é feito de certas partículas de matéria. Consoante o modo como um grupo de partículas está disposto, estas constituirão um objecto de determinada categoria. As partículas só podem constituir um objecto de cada vez. Vantagem: as estátuas deixam de existir quando são esmagadas, os cubos de gelo quando derretem, as pessoas quando morrem. Consequências indesejáveis: a resposta a “Que coisas existem?” carece de objectividade, dado que sujeitos com esquemas conceptuais diferentes classificam a realidade de maneiras diferentes. Terráqueos e marcianos; os conceitos de pedacex e pedacin. Que objecto tenho na mão: uma estátua ou um pedacin? As respostas não podem ser ambas correctas, pois só há um objecto em cada lugar. A escolha da categoria estátua é suspeita de antropocentrismo.